Foi com a clássica obra literária de H.G. Wells
–já adaptada numa produção antiga de Sci-Fi em 1953, por Byron Haskin, na
famosíssima transmissão radiofônica de Orson Welles em 1938 e em outros
trabalhos menos expressivos –que o diretor Steven Spielberg finalmente se
prestou a realizar uma refilmagem; ainda que seu filme busque se afastar
(sobretudo, na predominante opção da modernização) da maior parte das
comparações com os filmes já realizados a partir do texto.
Retomando a colaboração com o astro Tom Cruise,
que resultou no memorável “Minority Report-A Nova Lei”, e novamente adentrando
o terreno da ficção científica, Spielberg constrói uma obra que estranhamente
contraria tudo o que, dentro deste tema, ele havia feito antes: Se em “Contatos
Imediatos do Terceiro Grau” e em “E.T. O Extraterrestre”, os alienígenas de
outro mundo ocupavam uma visível (e frequentemente simbólica) posição de afeto
na consideração do diretor, aqui, ele cede ao antagonismo fácil e previsível de
obras como “Independence Day” –que se inspirou profundamente na obra de Wells
–e, mais especialmente, “Sinais” de M. Night Shyamalan.
E tal qual em “Sinais”, é do ponto de vista de
uma família norte-americana comum (e disfuncional) que Spielberg opta por
observar uma invasão alienígena ao planeta Terra.
Tom Cruise é Ray Ferrier, o relapso pai de
família que deve cuidar de seus filhos durante o fim de semana, o adolescente
Robbie (Justin Chatwin que foi o Goku na versão live-action de “Dragon Ball”) e
Rachel (a então criança-prodígio de Hollywood, Dakota Fanning).
Quando ocorre a invasão –embevecida do trajeto
sem igual de Spielberg ao lidar com espetaculares efeitos visuais –a inaptidão
de Ray para cuidar dos próprios filhos é colocada à prova, na faceta em que
melhor enxergamos as inquietações temáticas que mais definem Spielberg: O gesto
quase involuntário de sempre introduzir em suas premissas um pai ausente
dividido entre o amor aos filhos e a incompetência de sua paternidade.
Tudo o mais, estranhamente, vai na contramão do
que o realizador habituou seu público a esperar dele: Uma falta de criatividade
que assombra diversos momentos-chaves de sua narrativa (sobretudo, no que diz
respeito à tentativa de deixar de lado o personagem de Justin Chatwin), o
retrato nada lisonjeiro dos invasores alienígenas e a insistente perda da
inocência de Rachel diante das atrocidades diretas e indiretas acarretadas pela
invasão –e que se torna mais incômoda de ser acompanhada pela interpretação
histérica de Dakota Fanning.
Pai e filhos, assim, singram as paisagens
transfiguradas dos EUA a fim de encontrar refúgio junto da mãe das crianças
(Miranda Otto, de “O Senhor dos Anéis-As Duas Torres”), divorciada de Ray e que
se encontra em outra cidade longe do conflito.
A partir da segunda metade, surge no filme o
paranóico personagem de Tim Robbins que parece tentar acrescentar mais tensão
ao filme e converter sua narrativa em algo mais intimista e claustrofóbico, mas
na final das contas, serve apenas para encher lingüiça mesmo, resultando
desimportante.
Claro que as cenas de
confronto com os alienígenas e os momentos em que vislumbramos o emprego de sua
superior tecnologia bélica valem plenamente o espetáculo; Spielberg não poupa
esforços para construir sequências memoráveis que parecem unir ao realismo de
“O Resgate do Soldado Ryan” a incredulidade assombrosa da ficção científica –no
entanto, apesar dessa esmerada (e no fim
das contas, belíssima) pirotecnia, também ali se vê uma falha: Na similaridade
que o projeto de Spielberg acaba encontrando com “Sinais” –onde também vemos
uma família tentando sobreviver a uma invasão alienígena ao planeta Terra –as
suas inúmeras cenas grandiosas, vastas em efeitos computadorizados, perdem de
longe para a poderosa e instigante sugestão de ameaças que não podemos ver, mas
que se encontram bem próximas, existente na narrativa de Shyamalan.
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