Pode-se afirmar que o capítulo do meio da
formidável “Trilogia do Anel” é aquele que mais muda na comparação da versão de
cinema com sua versão estendida.
O mais controverso dos três filmes por parte de
algumas decisões criativas de seu diretor Peter Jackson –utilizar seu prólogo
dramático no final do primeiro filme e jogar o antológico momento da aranha
gigante para a terceira parte –“As Duas Torres” é aquele no qual o material
original produzido pelos roteiristas (além de Jackson, Fran walsh, Phillippa
Boyens e Stephen Sinclair) mais se expressa: Nele, vemos sub-tramas mais
simplórias na versão literária ganhar ênfase e profundidade, além de algumas
licenças poéticas que incrementam certas dinâmicas entre os personagens; sendo
a mais gritante, a paixonite contumaz de Ewin (Mirando Otto) por Aragorn (Viggo
Mortensen).
Por falar nele, Aragorn, com o acréscimo de
novas linhas à trajetória empreendida por ele, Legolas (Orlando Bloom) e Gimli
(John Rhys-Davies) ao fim de “A Sociedade do Anel”, acaba adquirindo um
protagonismo que toma o lugar central de Frodo (Elijah Wood) nesta narrativa
–ele que era sem dúvida o protagonista do filme anterior, mas, que voltará a
ser protagonista do filme posterior.
Neste épico monumental, desprovido de começo e
de fim pela força dessas circunstâncias, a direção de Jackson relata assim três
linhas narrativas paralelas originadas do dramático desfecho da primeira parte:
Na primeira, Frodo e Sam (Sean Astin) adentram as regiões mais ermas e obscuras
em seu caminho árduo rumo à Mordor; enquanto Frodo adentra também, num nível
mais íntimo, áreas ainda mais sombrias de sua condição espiritual graças à
influência maléfica do poderoso anel que deve destruir. Exemplo radical do mal
provocado pela corrupção do anel, a criatura Gollum (Andy Serkis, brilhante)
passa a acompanhá-los com a promessa de ser-lhes um guia –embora, lá no fundo,
sua mente distorcida almeje traí-los.
Na segunda linha narrativa, os hobbits Merry
(Dominc Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), cativos dos perversos orcs, são
levados por eles até o traiçoeiro mago branco Saruman (o saudoso Christopher
Lee) até serem interceptados no meio do caminho, levando os pequeninos a ficar
sobre a guarda de Barbárvore, uma criatura conhecida como ‘ent’ –árvores
ambulantes que representam um dos muitos assombros em efeitos visuais que o
filme entrega.
E finalmente, na terceira linha, Aragorn,
Legolas e Gimli, comprometidos na tentativa de resgatar Merry e Pippin,
terminam por acabar deixando de lado essa missão para juntarem-se aos homens do
reino de Rohan, cujo Rei Théoden (Bernard Hill, de “Titanic”) e seu povo se
veem ameaçados de genocídio pela sanha de Saruman e sua horda de orcs, o que
culmina na longa, violenta e arrebatadora Batalha do Abismo de Helm.
De modo geral, as inúmeras cenas novas que
aparecem neste corte –e que se mostram intensas na sua primeira metade,
praticamente desaparecem durante do clímax (prova do quão satisfeito Jackson
ficou com o resultado) e voltam em um ou outro momento já no epílogo, pela
primeira vez mostrando resultados não tão harmoniosos –reforçam as
características shakesperianas deste capítulo da “Trilogia do Anel” em
especial: Nos monólogos intensos do elenco, sobretudo, no núcleo que inclui os
cavaleiros de Rohan, como o Rei Théoden, Eomer (Karl Urban), Eowin e Grima
Língua de Cobra (Brad Dourif, de “Um Estranho No Ninho”); e também nas
gratificantes cenas de flashback que ampliam a presença de Boromir (Sean Bean,
magnífico) e agregam novas camadas ao personagem de seu irmão, Faramir (David
Wenham, de “300”).
Tais considerações
enfatizam o objetivo de Jackson e toda sua equipe em alcançar o mais alto nível
cinematográfico e artístico possível, e ratificam o fato, já nítido e evidente
na época do lançamento em cinema, destas produções estarem entre as grandes
obras de cinema de todos os tempos.
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