Ainda no princípio da década de 2000, quando a
trilogia de Peter Jackson tomou o mundo de assalto e marcou para sempre a
história do cinema, surgiu um rumor de que a versão de três horas vista nos cinemas
teria também um corte muito maior, com cenas inéditas que estendiam ainda mais
o tempo de filme e traziam momentos suculentos que acrescentavam novas
impressões ao grande filme do momento: “O Senhor dos Anéis” dominou a atenção
de público e crítica pelos três anos seguintes.
A chamada versão estendida, quando por fim
ficou ao alcance do público, trazia pequenos acréscimos em cenas já conhecidas,
pedaços de diálogos que incrementavam a carga naturalmente literária do
material e sequências inteiras, algumas bastante impressionantes, que
terminaram de fora do corte conhecido.
No primeiro capítulo, “A Sociedade do Anel”,
tais cenas não tardam a aparecer para quem acompanha do filme atento; embora a
maneira mais correta de apreciá-lo seja mesmo pelo grande filme que ele é.
No mundo mágico e fantasioso criado pelo
escritor J.R.R. Tolkien chamado Terra Média, os povos livres –homens, hobbits,
magos, anões, elfos e outras criaturas fantásticas –se veem ameaçados por
Sauron, cujo poder todos julgavam ter sido derrotado –numa cena espetacular
mostrada no começo, e que já deixa bem claro as predisposições épicas do
trabalho de Jackson.
Contudo, Sauron não está exatamente morto: Sua
força vital se encontra ainda no Um Anel, fonte de seu poder e que, por meio de
uma série de idas e vindas, acabou nas mãos do hobbit Bilbo Bolseiro (o saudoso
Ian Holm), morador do bucólico Condado e tio do protagonista, Frodo Bolseiro
(Elijah Wood) –é, por sinal, na sequência do Condado, que as primeiras cenas
inéditas aparecem, como o momento em que Bilbo é visto escrevendo seu livro.
Em sua festa de aniversário, Bilbo despede-se
de todos e, para resumir, deixa a guarda de seu anel (e de tudo que ele tem, na
verdade) para Frodo.
Entretanto, o mago Gandalf, o Cinzento (Ian
McKellen), tem suspeitas em relação ao tal anel –e à influência maléfica que
ele nota ser despertada em Bilbo.
Ele descobre toda a verdade sobre a peça bem há
tempo, quando os cavaleiros Nazgûl são despachados pelas forças das trevas para
capturar Frodo e levar o anel.
Acompanhado de Sam (Sean Astin), Merry (Dominic
Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), Frodo passa poucas e boas para chegar até
Valfenda, local de morada do sábio elfo Elrond (Hugo Weaving) que monta um
conselho secreto às pressas, composto por representantes dos povos livres da
Terra Média, a fim de determinar que destino dar ao anel.
O próprio Gandalf, no entanto, sabe que só
existe uma coisa a se fazer: Levar o anel até a longínqua e tenebrosa Mordor,
onde foi forjado, portanto, único lugar onde pode ser destruído. E Gandalf sabe
também que a pessoa destinada a realizar tal sacrifício é Frodo.
Assim quando ele parte –dando início à essa
jornada fenomenal –seus companheiros são Gandalf, Sam, Merry e Pippin, além dos
cavaleiros Aragorn (Viggo Mortensen) e Boromir (Sean Bean), o elfo Legolas
(Orlando Bloom) e o anão Gimli (John Rhys-Davies).
Apesar da curiosidade, a Versão Estendida não
deixa de ser o mesmo filme assombroso que chocou plateias do mundo com um nível
improvável de qualidade. Ainda é possível perceber o que faz de “O Senhor dos
Anéis” uma experiência cinematográfica inesquecível: Nunca antes (talvez, nem
mesmo em “Star Wars”) uma produção de fantasia havia atingido padrões tão altos
em seus quesitos técnicos e artísticos; sabia-se que os efeitos visuais seriam
magníficos, mas não se esperava deles uma capacidade de modificar
irreversivelmente a maneira de se fazer cinema; sabia-se que a paixão de Peter
Jackson e sua equipe haveria de produzir algo singular, mas ninguém imaginava
que o resultado seria uma obra de tal qualidade que até hoje, vinte anos
depois, outros filmes penariam para igualar seu brilhantismo; e, finalmente,
sabia-se que o material literário da obra de Tolkien (cultuado, referenciado e
apreciado desde os anos 1950) tinha méritos narrativos que apareceriam na tela,
mas o público não imaginava que, no tratamento de requinte ímpar dado à tudo,
“O Senhor dos Anéis” seria algo tão antológico, marcante e inesquecível.
Neste primeiro filme, o efeito retumbante e
ressonante que ele produz pode ser avaliado à partir de seu desfecho, quando
seus personagens são colocados numa encruzilhada de caminhos paralelos que
originam as duas estupendas continuações –um final que não finaliza coisa
alguma, que proporcionou aos expectadores da época a mesma sensação (talvez até
mais intensa) que a geração anterior teve ao ver o fim de “O Império Contra-Ataca” no cinema.
Que filme, senhoras e
senhores, que filme!
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