Há quase três décadas atrás (vinte e sete anos, para ser mais exato), o astro Tom Cruise debutou como produtor tentando transpor um conceito de série de TV para o cinema. Hoje, sete longa-metragens depois, podemos dimensionar os frutos rendidos por sua tenacidade. Ainda que hajam exemplares oscilantes em qualidade (tal qual o segundo filme), e que, deveras, os acertos mais expressivos tenham demorado a chegar (sendo “Protocolo Fantasma” o momento em que isso finalmente aconteceu), a franquia entrou nos eixos de fato com a adição do diretor e roteirista Christopher McQuarrie ao projeto (em “Nação Secreta”). Até então um realizador subestimado (a despeito do Oscar de Melhor Roteiro Original por “Os Suspeitos”) e relegado pelos estúdios à ingrata tarefa de polir roteiros produzidos por terceiros, McQuarrie caiu nas graças de Tom Cruise quando se conheceram no set de “Operação Valquíria”, mais tarde trabalhando juntos no ótimo “Jack Reacher-O Último Tiro”. McQuarrie passou a integrar o, digamos, time de confiança de Tom Cruise, e a trabalhar com ele em praticamente todos os seus projetos –é dele, por exemplo, o excelente roteiro para “Top Gun-Maverick” –e tornou-se oficialmente o capitão da franquia “Missão Impossível”. Seu talento e habilidade moldaram em “Nação Secreta” uma obra pulsante sobre as verdades e mentiras do mundo da espionagem e, no longa-metragem seguinte, “Efeito Fallout”, um tratado de cinema tanto dramático quanto cinético sobre as consequências de não se tolerar o sacrifício de um amigo em ação. Hoje, é seguro afirmar, toda uma nova geração de expectadores cresceu testemunhando a exuberância de “Missão Impossível” como uma franquia inquestionavelmente cinematográfica –e certamente, muitos nem sabem que tudo começou com um seriado até bem modesto dos anos 1960.
Agora, contudo, chegou a hora de Tom Cruise e
Christopher McQuarrie darem sua cartada final. Prepararem o palco para uma
despedida em grande estilo, conscientes talvez de que não é possível contar
aventuras de Ethan Hunt (personagem de Cruise) para sempre –o astro, é bom
lembrar, já está com 61 anos.
A trama concebida por McQuarrie (sempre um
entusiasta apaixonado e hábil de enredos intrincados, perfeitos ao gênero de
espionagem) para tal despedida é rocambolesca, povoada de personagens dotados
das mais variadas motivações (e algumas ainda mudam ao sabor das circunstâncias!),
cheias de surpresas de última hora, guinadas improváveis e/ou inesperadas e um
esperto componente de paranóia bastante característica desses novos tempos: Em
meio a discussões sobre um advento inesperadamente incontrolado da tecnologia
de ponta, o grande vilão de “Acerto de Contas Parte 1” é uma Inteligência
Artificial.
Criado inicialmente como um formidável
algoritmo para manejo de informações nas redes sociais pelos centros mundiais
de inteligência, o programa denominado ‘A Entidade’ se aperfeiçoou de tal forma
em meio às vastas possibilidades da internet que acabou criando autonomia
própria e tornou-se perigoso demais. Na surdina, as grandes potências mundiais
(entre as quais, é claro, os EUA) querem mobilizar agentes para encontrar assim
as duas partes do que seria um mecanismo conhecido como ‘A Chave’ capaz de
desligar a ‘Entidade’ ou (como eles preferem) controlá-la. O agente de campo
mais próximo de concluir tal façanha aparentemente é Ethan Hunt, membro da IMF
(Impossible Mission Force), cujo
senso moral e considerável independência operativa ordena que a ‘Entidade’ seja
destruída imediatamente.
E é nesse ponto –ainda nos primeiros quinze
minutos dos sensacionais cento e sessenta e três minutos de filme –que a obra
de McQuarrie engata uma nova marcha e complica consideravelmente a vida de
nossos heróis: Cegos para o perigo da ‘Entidade’ e unicamente interessados no poder
abrangente de controle sem precedentes de dados digitais que ela oferece, o
Diretor de Inteligência Americana (Cary Elwes, de “Tempo de Glória”) e o
diretor adjunto da própria IMF (Henry Czerny) renegam Hunt e seu grupo –formado
pelos agentes de campo Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), além do
constante auxílio da agente britânica Ilsa (a sempre maravilhosa Rebecca
Fergunson) –e despacha um novo grupo na sua cola, comandados pelo nada amistoso
e muito truculento Jasper (Shea Whigham, de “O Lado Bom da Vida” e “O Abrigo”).
Entretanto, aqueles que de fato dificultam a
situação de Hunt são a jovem prestidigitadora Grace (a linda e fulgurante
Hayley Atwell) imbuída do talento para deixar o Agente Hunt para trás, à
serviço da tentacular e manipuladora Allana Mitsopolis (a fantástica Vanessa
Kirby), e o misterioso e perigoso Gabriel (Esai Morales, de “Rapa Nui-Uma Aventura No Paraíso”), agente sombrio e assassino, grande responsável pela
tragédia que empurrou em definitivo Ethan Hunt na vida de agente secreto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário