segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Bruxa

Que filmaço este “A Bruxa”!
Uma refinada reconstituição de época, atroz na forma como faz emergir seus atores nos trejeitos arcaicos daquelas pessoas de então, ao mesmo tempo em que é um perturbador conto de terror, o mais poderoso que o cinema nos trouxe em muitos anos.
Engana-se porém aquele que pensar tratar-se de um filme de terror nos mesmos moldes daqueles que infestam as salas de multiplex: Esta não é uma obra a ser consumida por públicos adolescentes.
Sua condução é comedida, e o tratamento narrativo realizado visa criar um clima em torno do qual o diretor Robert Eggers relata sua tenebrosa história.
Em meados do século XVII, uma família de imigrantes ingleses, cujo patriarca entra em desacordo com as normas rígidas da religião local, aventura-se por florestas inexploradas buscando um lugar para se estabelecer e viver. A floresta por eles escolhida é um lugar proibido às crianças, que resumem-se à adolescente Thomasin (a ótima Anya Taylor-Joy), ao garoto Caleb, e aos gêmeos Mercy e Thomas.
Há também o bebê, que no início do filme, por um momento de descuido de Thomasin acaba desaparecido. E levanta-se, então a hipótese de uma bruxa na região, embora a própria Thomasin, assim como o patriarca da família busquem a explicação mais racional e menos aterradora de que foi um lobo.
A tensão que se acumula com o passar dos dias, e com a sucessão de novas ocorrências vai desestabilizando as relações familiares.
Segundo consta, adaptado de uma série de relatos oriundos da própria época, o filme de Eggers encontra sua força na excelência de sua recriação, o quê já contribui para convencer o expectador com o forte realismo que pulsa de todas as cenas.
O desenlace é cruel e árduo, tal como a própria idéia que tinham da condição humana; nada, portanto, mais lógico.
Em sua encenação certeira, sua eficaz e compenetrada caracterização, e na atuação minuciosa de seu elenco, o diretor obtém uma atmosfera asfixiante que envolve o filme do início ao fim, e conduz aos vinte minutos finais. Uma sequência ininterrupta de cenas espantosas e apavorantes.

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