segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Memórias de Um Assassino

Embora seu irrisório título nacional seja mentiroso no que diz respeito ao filme em si (o assassino jamais ganha, por assim dizer, qualquer enfoque da narrativa para que se possam considerar suas memórias a cena do filme que for) este é um dos mais corajosos e brilhantes trabalhos no que tange à percepção e à circunspeção de personagens desse subgênero de “caçada ao psicopata”.
Isso porque o diretor Bong Joon Ho (realizador de “O Expressão do Amanhã”, “O Hospedeiro” e “Mother”) tem a audácia de dar conta de uma trama (real, segundo os créditos) onde o assassino nunca é encontrado, e porque sua abordagem dos personagens passa longe do maniqueísmo norte-americano. Por isso talvez seja tão absorvente a história iniciada pelos olhos do detetive Park Doo Man (Kang Ho Song, um ator prolífico no cinema sul-coreano tendo estrelado filmes fundamentais como “Senhor Vingança”, “Zona de Risco” e “O Hospedeiro”), que acompanha, em 1986, os percalços e a precariedade de recursos com os quais a polícia tem de lidar para encontrar um serial killer que vem enfileirando jovens vítimas em uma província suburbana.
Vindo voluntariamente de Seul, um especialista em homicídios (Sang Kyung Kim) junta-se à ele nas infrutíferas investigações e, à medida que seus estilos antagônicos se colidem (Doo Man, assim como seu truculento parceiro, perde tempo surrando pobres coitados em busca de uma confissão forçada do que analisando as pistas de fato) e depois se harmonizam, os dois precisam confrontar a aterradora possibilidade de que esse psicopata pode escapar por entre seus dedos.
Conduzindo com precisão o drama humano e os detalhes peculiares –não destituídos de humor negro –que afloram na investigação, a direção se vale de um roteiro astuto, equilibrado e austero para compor uma atmosfera fascinante.
Faz parecer que é fácil, mas em mãos menos habilidosas este seria um filme maçante e despropositado ao invés da obra singular, lúcida e reflexiva que é.

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