domingo, 11 de junho de 2017

Louca Paixão

Eric (Rutger Hauer) é transgressor típico da juventude holandesa dos anos 1970 a que pertence; além de tudo é artista e petulantemente questionador. A jovem Olga (Monique Van De Ven), profundamente irritadiça com as restrições paternas vê, no namoro com Eric, uma maneira bastante prática e natural de questionar a atitude dos pais.
Desse ímpeto de ingênua transgressão é que se constrói o romance imaginado por Paul Verhoeven. E quem conhece Verhoeven há de imaginar que o registro de tal relacionamento não será destituído de sua habitual inclinação para com cenas de nudez e sexo, ostentadas de forma generosa.
Sua câmera estuda os corpos como forma de entender o ideário da juventude da época, na medida em que tal despojamento é, por assim dizer, a ação que os define (e em sua trangressão, o diretor Verhoeven não economiza qualquer ousadia para fazer deste um dos títulos mais atrevidos de sua muito atrevida filmografia!).
Há em Eric e Olga a propensão para adquirir maturidade e nela encontrar um lugar em que sua relação fique em harmonia, mas esse não parece ser o caminho sereno pelo qual o diretor os guiará: Como interessa a seu peculiar cinema, os atritos entre a vigência e o inconformismo cobram sempre seu preço, e as conseqüências são ilustradas no terço final deste belo ainda que mal-comportado filme, onde os dois jovens amantes, depois de um tempo separados, se reencontram e reencontram também um meio de encerrar de uma vez por todas a sua relação.
O filme de Verhoeven, em princípio, parece irmanar-se a muitos trabalhos característicos dos anos 1970, que experimentaram os limites comerciais do sexo (“O Último Tango em Paris”, “O Império dos Sentidos”), mas é, acima de tudo, um produto tipicamente holandês, e brilhantemente indicativo da fase fervilhante e audaciosa que o jovem cinema holandês vivia –e Verhoeven, por sua vez, se mostra um de seus mais notáveis artesãos, ao incutir este conto sarcástico e sensual de uma agridoce constatação: A maturidade está ali na esquina, e ela chegará mesmo aos mais imprevisíveis, ainda que essa chegada traga toda a dor que, em sua inércia juvenil, eles tentaram ignorar.

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