segunda-feira, 26 de junho de 2017

Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos

O diretor espanhol Pedro Almodóvar escreve personagens femininas com despudor e exuberância. Dentre os inúmeros títulos de sua filmografia, “Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos”, embora não seja o seu melhor trabalho (ainda que tenha sido assim considerado durante algum tempo) é o primeiro onde tais características se provaram certas e evidentes.
Poucos cineastas são capazes que construir uma personagem tão convicta de suas próprias aflições como Pepa (Carmem Maura), tão caprichosamente inserida na farsa de ciúme, desilusão e confusão que é a sua vida nas perplexas horas em que o filme se presta a acompanhá-la, e tão cercada de coadjuvantes igualmente bem ordenados e orquestrados, no objetivo de darem vida a uma mescla ardente, sanguínea e passional de comédia e tragédia. Pois, para Pepa é angustiante cada minuto que passa sem saber de Ivan (Fernando Guillén), o homem que jurou comprometer-se com ela, mas que, ao invés de assumi-la, resolveu partir, naquela mesma noite, para Estocolmo com uma outra amante. A angústia se justifica: Este é não só o dia de sua partida, como também o dia em que Pepa descobriu estar grávida!
Para piorar ainda mais o estado de nervos de Pepa, outras confusões se somam: Em seu apartamento aparece Candela (María Barranco), uma amiga apaixonada por um desconhecido e estarrecida com a descoberta de que ele é um terrorista xiita (!), assim como Carlos (Antonio Banderas), o filho de Ivan, acompanhado de sua noiva, Marisa (a exótica Rossy de Palma), em busca de um imóvel para alugar.
Entre farsas qüiproquós, histerismo e tentativas de manter a pose, Pepa descobre que a esposa de Ivan, Lucia (Julieta Serrano) planeja encontrá-lo no aeroporto, tal como a própria Pepa, entretanto com intenções diferentes: Matá-lo junto da outra amante!
A hábil direção de Almodóvar (num projeto mais acessível em comparação à suas obras anteriores, plenamente capaz de lançar luz sobre suas qualidades) equilibra um sem fim de situações de ordem cômica sem perder o ritmo ou o tom neste trabalho bastante admirável, grande responsável, no fim dos anos 1980, pelo início da fama cada vez maior que o realizador espanhol obteve mundo afora.

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