terça-feira, 1 de agosto de 2017

Olhos Famintos

Um casal (de irmãos, no caso). Um carro. Uma estrada deserta. Reunindo uma série de elementos que compõem alguns dos paradigmas do gênero terror, o diretor Victor Salva construiu um dos mais interessantes cult movies da década de 2000.
Seu grande trunfo é a ausência de pretensão que tomou grande parte dos títulos oriundos desse gênero, lançados no cinema comercial a partir desse período: Muitos deles vinham prejudicados pela necessidade de replicar a fórmula de M. Night Shyamalan em “O Sexto Sentido” (ou seja, um final obrigatoriamente inesperado e surpreendente), ou assolados por efeitos especiais que ao invés de agregar qualidade enfraqueciam a produção.
“Olhos Famintos”, até pela limitação de orçamento, não tinha nada disso. Seu diretor vislumbrava recuperar uma narrativa à moda antiga, feita de sussurros, de impressões e dicas ocasionais que tivesse o mérito de enredar pouco a pouco o expectador.
Os irmãos Trish (a belíssima Gina Philips) e Darry (o ótimo Justin Long, que valeu-se bem da repercussão deste filme para ascender em Hollywood) dirigem por uma desolado estrada norte-americana.
Ao longo de quilômetros sem encontrar nada nem ninguém, algo lhes chama a atenção: Aquele que parece ser o motorista de um caminhão barulhento e ameaçador que passa por eles, é visto depositando algo em um buraco. Algo envolto num lençol branco. Com manchas de sangue.
Incapazes de conter as suspeitas e a curiosidade, eles voltam ao local, e lá, Darry descobre uma pilha de cadáveres. A partir daí, também, eles terão de se preocupar com a perseguição do responsável por aquela chacina, que eles descobrirão tratar-se de um monstro denominado, quando muito, de ‘Creeper’ –uma espécie de gárgula humanóide que se alimenta de tudo aquilo que ele precisa: Se tem de enxergar, ele devora os olhos da vítima, por exemplo.
Esperto, o diretor Victor Salva saboreia cada uma das referências de sua narrativa (“A Morte Pede Carona” e “Encurralado” são algumas), dando à elas um complemento inventivo no capricho que dedica às facetas técnicas, simples porém esmeradas, da produção, no tom absurdamente envolvente, e no ritmo preciso que impõe à jornada de seus protagonistas.
Essa percepção inesperadamente qualitativa gerou um sucesso surpreendente.

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