quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Pulse


Ao se aventurar por uma refilmagem de “Kairo”, de Kyioshi Kurosawa, é necessário uma certa displicência dos realizadores para ignorar as raízes essencialmente autorais e culturais que definiam aquele trabalho. Entretanto, não é difícil concluir que o grande apelo de público que as obras de terror japonesas da década de 1990 (assim como suas refilmagens) possuíam falou mais alto que a sensatez.
Da forma como pode, “Pulse” (que conta com o especialista em terror, Wes Craven, como um de seus roteiristas) busca americanizar a premissa do filme original japonês. Se nele, a solidão e o isolamento acarretados pela tecnologia adquiriam facetas abissais de escuridão –e nelas se entrevia uma reflexão pertinente dos novos tempos –este novo filme paira superficialmente sobre tais aspectos, aproveitando toda e qualquer deixa para compor cenas aterrorizantes embaladas em efeitos especiais e reflexos involuntários do gênero de terror norte-americano. Sem o contexto adequado, porém, essas cenas são vazias de resultado.
A jovem Mattie (Kristen Bell) fica perplexa quando um namoradinho envolvido com informática se suicida em circunstâncias um tanto estranhas.
Contudo, mensagens continuam sendo enviadas pelo computador dele. Ao investigar, Mattie descobre que ele foi vendido –por uma camareira interpretada por Octavia Spencer antes do Oscar por “Histórias Cruzadas” –para um jovem mecânico chamado Dexter (Ian Somerhalder, das séries “Lost” e “Vampire Diaries”).
Pouco a pouco, os dois vão se dando conta de algo muito errado com o mundo e a sociedade –e que está diretamente relacionado aos efeitos isolantes da tecnologia.
Sem fazer uso de muitas das tramas paralelas que amplificavam a aflição em “Kairo” –e em vez disso, empregando o conjunto de personagens que vão além do casal protagonista como meras vítimas consecutivas da maldição no estilo ‘slasher’ –o filme avança na sua história, munido de uma fotografia tão opressora quanto monocromática, em direção ao clima pós-apocalíptico do original sem, no entanto, aprofundar a mensagem subliminar da qual ele se originou.
Na mitologia que “Pulse” tenta construir, o mal não é uma condição irreversível da humanidade e de seu caminho em direção a um fim, mas sim um vírus de computador que se materializa como um inimigo tangível e, quem sabe, neutralizável (e, para isso, “Pulse” teve duas continuações!) –a exemplo quase de um “Jason” ou de um “Freddy Krueger” (não por acaso, criação de Wes Craven) –e cuja origem e ‘modus operandi’ ganha todas as explicações e esclarecimentos que o filme de Kurosawa mantém no terreno da sugestão.

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