quarta-feira, 1 de julho de 2020

A Dupla Explosiva

Teria o filme “Dupla Explosiva” inspirado George Romero a realizar o estranho “Cavaleiros de Aço”? A ideia do filme todo estrelado por motoqueiros que adotam a mesma postura de cavaleiros medievais duelando com lanças pontiagudas e usando motos no lugar de cavalos é a mesma presente numa das mais divertidas cenas deste filme, uma das melhores colaborações da famosa dupla Terence Hill e Bud Spencer.
Ao contrário do que deveria imaginar toda a geração de expectadores brasileiros que cresceu vendo reprises de seus filmes na TV, Hill e Spencer não eram norte-americanos e, sim, italianos (!) –Hill tinha como nome de batismo Mario Giuseppe Girotti, enquanto que Spencer na verdade se chamava Carlo Pedersoli –o que não impedia seus filmes de ter aval americano, de trazer uma trama que se passava em terras americanas e, depois de seu sucesso consolidado, se passar de fato nos EUA.
Datado de 1974, “Dupla Explosiva” foi realizado dois anos depois de “Dá-Lhe Duro, Trinity!” e um ano antes de “Dois Missionários em Apuros” –é, portanto, o oitavo filme da dupla, enquanto também alternavam esses trabalhos com produções ‘solo’; e é também uma de suas realizações mais acertadas. Impressiona, justamente por isso, o fato do diretor e roteirista Marcelo Fondatto ter tão poucos créditos, ostentando, mesmo assim, um trabalho melhor até do que o veterano Sergio Corbucci que também assinou filmes dos dois.
Na trama, Terence Hill é Kid, e Bud Spencer é Ben. Ambos disputam um rally no qual almejam ganhar como prêmio principal um buggy vermelho de capota amarela.
Após a disputa –que em si é uma sequência de corridas, batidas e capotagens insana e eletrizante, dirigida e editada com admirável habilidade –os dois terminam empatados em primeiro lugar. Agora, donos do mesmo veículo, eles devem decidir com quem o buggy vai ficar.
Após as piadas de praxe –que pontuam alegremente toda a narrativa do filme e fazem muito lembrar os filmes dos Trapalhões que também faziam sucesso em terras nacionais pelo mesmo período –os dois resolvem decidir numa competição de quem come mais salsichas e bebe cerveja. Enquanto o fazem, a lanchonete em que estão é atacada por capangas mafiosos que simplesmente arrebentam todo o lugar. Os protagonistas, numa atitude muito parecida com certos desenhos animados, continuam a conversar como se nada ao redor deles estivesse acontecendo.
Contudo, na sua saída, o buggy deles é atingido por um carro, capota e pega fogo. Com seu precioso prêmio destruído, resta a Kid e a Ben irem procurar o chefe mafioso para lhe cobrar o prejuízo. Tal chefe (John Sharp), glutão e afetado como o mais caricato estereótipo de gangster que se possa imaginar não lhes dá ouvidos; ele só ouve os conselhos insensatos e vilanescos de seu braço direito, um alemão, também ele afetado, vivido por Donald Pleasence.
Assim, Kid e Ben ao invés do buggy ressarcido, acabam recebendo uma série de ataques dos quais se desvencilham com a desenvoltura costumeira da dupla: Num ginásio, eles enfrentam vários ginastas que os atacam a mando do mafioso. Depois, um grupo de motoqueiros os aborda na oficina onde Ben trabalha –dando início a uma divertida perseguição (na qual as motos, inclusive, correspondem às características dos dois heróis!) e que culmina na cena que eu mencionei lá em cima.
Se há um detalhe que destaca “Dupla Explosiva” dos tantos outros filmes protagonizados pela dupla, é a quantidade notável de cenas memoráveis entregues sucessivamente, como quando o chefão encomenda os caros serviços de um atirador chamado Paganini (Manuel de Blas) que tenta encurralar os dois durante um ensaio de coral –do qual Ben participa! É um momento hilário que certamente ficou na mente de muitos expectadores que viram o filme nos anos 1980.
Ou o embate final de Kid e Ben contra os mafiosos no salão de um restaurante tomado por balões, o auge do estilo ‘pancadaria cômica’ que Terence Hill e Bud Spencer tanto difundiram em seus filmes.
Bons tempos em que a série “Trinity” rendia essas agradáveis e descompromissadas aventuras.

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