Mostrando postagens com marcador Paul Scofield. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Paul Scofield. Mostrar todas as postagens

sábado, 25 de agosto de 2018

Os Vencedores do Oscar 1967


A cerimônia daquele ano deixava claro que ainda havia uma grande parcela de realizadores ativos no cinema que provinham da Velha Hollywood, e que ainda estavam dispostos a continuar em atividade –a vitória do drama de época “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”, do veterano Fred Zinnemann, era indicativo também de que haviam muitos membros na Academia dispostos a prestar reconhecimento a esse cinema mais clássico e aos seus representantes.
Mesmo que isso significasse, em prol do tradicionalismo, ignorar trabalhos contundentes sobre questões muito atuais como a revolução sexual (“Como Conquistar As Mulheres”, com cinco indicações), as novas dinâmicas sociais (“Quem Tem Medo de Virginia Wolf?”, honrado com os Oscar de Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e três estatuetas técnicas) e até mesmo representantes de um novo cinema comercial mais transgressivo que surgia (o anárquico “Os Russos Está Chegando, Os Russos Estão Chegando”) –e que, nos anos vindouros, viria a dar lugar à Nova Hollywood.

MELHOR FILME
"O Homem Que Não Vendeu Sua Alma"

MELHOR DIREÇÃO
"O Homem Que Não Vendeu Sua Alma", Fred Zinnemann

MELHOR ATRIZ
Elizabeth Taylor, "Quem Tem Medo de Virginia Wolf?"

MELHOR ATOR
Paul Scofield, "O Homem Que Não Vendeu Sua Alma"

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Sandy Dennis, "Quem Tem Medo de Virginia Wolf?"

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Walter Matthau, "Uma Loira Por Um Milhão"

MELHOR FOTOGRAFIA P&B
"Quem Tem Medo de Virginia Wolf?"

MELHOR FOTOGRAFIA CORES
"O Homem Que Não Vendeu Sua Alma"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
"Um Homem, Uma Mulher" (França)

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
"Viagem Fantástica"

MELHORES EFEITOS SONOROS
"Grand Prix"

MELHOR FIGURINO P&B
"Quem Tem Medo de Virginia Wolf?"

MELHOR FIGURINO CORES
"O Homem Que Não Vendeu Sua Alma"

MELHOR SOM
"Grand Prix"

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE P&B
"Quem Tem Medo de Virginia Wolf?"

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE CORES
"Viagem Fantástica"

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
“A História de Elza"

MELHOR TRILHA SONORA ADAPTADA
"Um Escravo das Arábias Em Roma"

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Born Free", de "A História de Elza"

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
"Um Homem, Uma Mulher"

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
"O Homem Que Não Vendeu Sua Alma"

MELHOR MONTAGEM
"Grand Prix"

terça-feira, 29 de agosto de 2017

As Bruxas de Salem

A força alegórica do texto de Arthur Miller já era o grande trunfo na versão teatral de “The Curcible” e assim continua sendo em sua transposição cinematográfica.
Com efeito, um texto necessita de grandes atores para evidenciarem, aos olhos nem sempre atentos do público, sua relevância, e se em princípio, o diretor Nicholas Hytner (de “O Outro Lado da Nobreza”) construiu sua narrativa a partir do pressuposto de que esses grandes atores seriam Daniel Day-Lewis e Winona Ryder, a realidade prática tratou de modificar essa equação: Day-Lewis é, de fato, grande, mas aqui não brilhou como de costume; quem injeta vigor, autenticidade e sangue fresco à narrativa são seus primorosos coadjuvantes, Joan Allen (maravilhosa como a esposa dedicada do protagonista) e Paul Scofield (espetacular como o juiz veterano chamado para pôr as coisas em seus devidos lugares).
Quando o dramaturgo Arthur Miller concebeu sua peça teatral nos anos 1950, os EUA –sobretudo, sua classe artística –viviam o medo de uma perseguição ideológica aos comunistas movida pelo Senador Joseph McCarthy, apropriadamente apelidada de “caça às bruxas”.
A peça de Miller se apropriava dessa alcunha para construir uma alegoria explícita sobre a paranóia e o uso manipulador do medo.
Em meados do século XV, nas regiões fronteiriças entre o Canadá e os EUA, a adolescente Abigail (Winona) é flagrada ao lado de outras jovens naquilo que parece ser um ritual de bruxaria. Apaixonada pelo camponês casado John Proctor (Day-Lewis), Abigail, em sua inconseqüência, desejava um meio de livrar-se da esposa dele, Elizabeth (Joan).
Todavia, isso leva ela e outras meninas a serem acusadas de bruxaria.
Durante o próprio processo, contudo, Abigail percebe como usar as superstições e a histeria das pessoas do vilarejo em seu proveito: A localidade é assolada pelas revelações perplexas e balbuciantes dela, que diz ter visões e premonições acerca dos verdadeiros satanistas escondidos no povoado.
Se antes estava prestes a ser julgada como bruxa, e a ser queimada na fogueira por isso, agora, Abigail passa a acusar e apontar supostas pessoas também envolvidas em bruxaria, entre as quais, Elizabeth, a resignada esposa do agricultor de quem era amante, para o desespero do próprio John Proctor.
Uma situação caótica se instala.
Ao relatar fatos similares aos transcorridos na Idade Média, Arthur Miller fez assim uma parábola ao cerco ideológico aos comunistas do Senador McCarthy, sublinhando através dessas situações a insidiosa polarização do medo, o ranço hipócrita quando as intenções particulares inevitavelmente interferem com a imparcialidade, a facilidade aterradora com que os dogmas sobrepujam a lógica, e acima de tudo, os pretextos banais (e depois de algum tempo, nebulosos) com que os homens infligem sofrimento e opressão aos seus semelhantes.
Como algumas das grandes obras já realizadas, um lembrete pertinente e necessário de nosso próprio potencial para o mal.