A minha relação com esse filme sempre foi um
pouco complicada. Na primeira vez que o assisti, eu detestei. Achei o trabalho
do diretor Terence Mallick (cujo "Além da Linha Vermelha" eu não
havia gostado muito uns anos antes) um bocado pretensioso, seu senso de
narrativa submetia muitas vezes o expectador à uma experiência extenuante ao
adotar um arco narrativo -lá pela metade do filme -completamente distinto
daquele que elaborava até então, e sua lentidão, aliada às inúmeras cenas de
sentido metafísico e à sucessão de momentos abstratos transformava sua obra num
desafio à vontade de assisti-lo.
Mas, algumas coisas não queriam me sair da
cabeça, como por exemplo, a personagem interessante de Jessica Chastain, e a
maneira como ela é retratada ao longo de todo o filme, além de muitos momentos
que me intrigavam e conferiam ao filme uma rara beleza, difícil de ignorar.
Assim, resolvi assistir mais uma vez.
Hoje, posso dizer que, na época, minha mente
ainda não havia alcançado a mente do artista. E a minha confissão só não é mais
frustrante porquê acredito que muitos foram os que passaram o mesmo que eu.
De início, "A Árvore da Vida" não é
realmente um filme fácil.
Ele se resume, falando grosseiramente, a uma
série de fragmentos da vida, mostrados numa sucessão por vezes estranha de
acontecimentos: O crescimento e a educação de três irmãos nos EUA, agravado
pelo amor incondicional da mãe (Jessica Chastain) e pela agressividade
reprimida (e repressora) do pai (Brad Pitt), que se reflete, mais tarde, na
propensão para violência do filho mais velho.
Numa segunda linha narrativa, o menino, já
adulto (e interpretado por Sean Penn), se vê assombrado por suas memórias de
infância, em especial, as do irmão do meio, cujo destino trágico nunca é
devidamente esclarecido pelo filme.
Já, numa terceira linha de narração, uma tênue
analogia relaciona esses fatos com o surgimento da vida na Terra, numa
sequência cuja única referência possível é "2001 - Uma Odisséia no
Espaço" de Kubrick.
"A Árvore da Vida" é, portanto, como
uma pintura: Está exposta para a apreciação, e cabe a cada observador extrair
dela uma sensação, um significado, a partir de suas próprias e particulares
interpretações. Ainda que seu silêncio (e o de seu autor) confiram perturbadora
dúvida acerca de sua intenção.
Não há como penetrar na mente do recluso
Terence Mallick para tentar fazê-lo dizer o quê ele pretendia com "A
Árvore da Vida", e talvez, sua resposta acabasse sendo muito vaga mesmo...
Mas, do ponto de vista cinematográfico, ele é
espetacular.
O modo como é trabalhada a imagem torna este
poema visual um dos mais emblemáticos exemplos de arrojo técnico do início
deste século. E um filme que sobrevive, e muito bem, a uma comparação tão
explícita ao quintessencial "2001" (e acredite, os paralelos são
inúmeros!) não deve jamais ser desprezado.
A atriz Jessica Chastain lembra demais Liv
Ullmann (atriz recorrente em inúmeros trabalhos de Ingmar Bergman), e como os
personagens dela, o de Jessica é submetida a uma poderosa carga de dor
emocional numa aparente referência que jamais saberemos se foi proposital ou
não.
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