terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Labirinto do Fauno

Este é, tanto um retrato do rancor, como também, uma brilhante demonstração de nobreza não nutrir esse mesmo ressentimento. O diretor Guilhermo Del Toro utiliza temas, imagens e idéias que certamente o assombravam desde criança, para tecer duas formas narrativas que se colidem: De um lado, um filme de realismo atroz, cuja crueldade das cenas imediatamente deixa claro que é, sim, um filme de fantasia, mas não, não é de jeito nenhum feito para crianças; de outro lado, a pairar por sobre os cantos escuros, brotando as trevas, ele coloca um conto de fadas, mas daquela espécie que, em princípio os contos de fadas deviam ser mesmo, com lições preciosas sobre o equilíbrio tênue entre a vida, a morte, a bondade e a maldade. 
Assim, descobrimos criaturas vindas de outro lugar (lideradas pelo mímico Doug Jones, e sua fascinante expressividade gestual e corporal), outro mundo, não necessariamente mais seguro e feliz do que essa Espanha mergulhada na guerra civil em que vive a pequena Ofélia, mas um mundo que, pelo simples fato de se revelar paralelo a este, já significa uma alternativa de fuga, um sopro de esperança. 
Com sua peculiaridade formal do diretor de filmes de terror que é, Guilhermo Del Toro não deixa de lembrar também, com pequeninos e perversos detalhes, que esse outro mundo pode muito bem ser fruto da loucura dessa criança e, portanto, mantêm suspensa essa dúvida até o derradeiro desfecho, num equilíbrio nunca menos que admirável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário