quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O Sacrifício

A lembrar de não confundir esta obra-prima com um filme de mesmo título nacional mais recente, protagonizado por Nicolas Cage, e que deve ser uma das maiores porcarias que já foram cometidas no cinema.
Último trabalho do grande Andrei Tarkovski, este “O Sacrifício” é seu esforço derradeiro em tentar compreender as dilacerações metafísicas da alma humana. Seu protagonista, Alexander, é um homem culto, maduro, vivido, cuja etapa da vida está na procura de um lugar sossegado para envelhecer (o ambiente, afinal, no qual se desenvolve todo o filme), onde poderá conviver com o filho pequeno. Algumas dessas suas características refletem não apenas as pessoas que irão lhe visitar, como também o próprio Andrei Tarkovski.
Durante o final de semana que passam em sua retirada casa de campo, um noticiário da televisão relata o quê parece ser a eclosão da Terceira Guerra Mundial e, para os bons entendedores, o fim do mundo.
A partir daí, cada um se defronta com as próprias e inesperadas pulsões emocionais que afloram em face dessa notícia estarrecedora.
A atitude da esposa de Alexander é desesperar-se, para em seguida deixar de lado boa parte do verniz social que ostentava, para dar expressão à indignações que sufocava, algumas dirigidas ao próprio Alexander.
Este, por sua vez, redescobre a fé que antes julgava não ter, ou que considerava devidamente contida por resoluções intelectuais e pragmáticas que acumulou durante a vida. Próximo do fim, Alexander descobre-se como o homem na expectativa por um Deus, disposto a submeter-se aos seus desígnios se isso lhe conceber uma redenção.
É bastante perceptível a forma abrangente com que Tarkovski influenciou, por exemplo, Lars Von Trier, quando este realizou “Melancolia”: a premissa é quase a mesma; um grupo de personagens, em uma profunda dissertação filosófica acerca de seus conhecimentos e de suas emoções, diante do fim do mundo.
Em seu filme, Lars Von Trier acredita que a depressão é um estado de absoluta catástrofe, e que não há no fim das contas muita esperança para a humanidade.

Tarkovski é menos dramático e um pouco mais otimista, para ele, o homem é o problema de si mesmo, mas o mundo, em sua harmonia poderosa, será sempre maior que seus anseios e suas presunções. Graças à Deus.

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