domingo, 19 de junho de 2016

Deuses do Egito

O cinemão comercial hollywoodiano continua insistindo numa forma de explorar o apelo de grande sucesso do game “God Of War”.
“Deuses do Egito” não deixa de ser uma tentativa na direção de criar um produto cinematográfico que explore esse filão, já que a trama do game é considerada (com razão) de difícil, e até desnecessária, adaptação para a linguagem cinematográfica.
O diretor Alex Proyas é um artesão essencialmente visual, relacionado, durante algum tempo, à filmes pouco usuais junto ao que se considerava um produto normal de estúdio. Para se ter uma idéia, ele realizou um dos meus filmes prediletos com a atriz Jennifer Connelly: O pouco conhecido e ainda menos falado “Cidade das Sombras” um misto estranho e charmoso de ficção científica, film noir e história de terror que, de certa forma, antecipou vários elementos empregados depois pelos Irmãos Wachowsky em “Matrix”. Ele também fez outro cult movie da década de 1990: “O Corvo”, cuja morte trágica do astro Brandon Lee durante as filmagens jogou uma mórbida atenção sobre a produção.
Outro trabalho seu de alguma relevância foi “Eu, Robô” com Will Smith.
Relevância, contudo, é algo que passa longe desta obra aqui, uma miscelânea que busca harmonizar diretrizes de executivos, pesquisas de público, uma série de fórmulas confiáveis de bilheteria e muitos efeitos especiais.
A história possui bastante semelhança com outro filme igualmente superficial lançado alguns anos atrás: “Imortais”, também ele tentando pegar carona no conceito de divindades antigas cujas lendas, remodeladas, estavam única e exclusivamente à serviço de um entretenimento acelerado feito para a geração Playstation. Uma aula de mitologia completamente distorcida, e da maneira mais esdrúxula.
As coisas não ficam muito melhores neste “Deuses do Egito”.
Numa era em que deuses e homens co-existiam com relativa paz, o vingativo Seth (Gerard Butler, num registro um pouco parecido com seu Leônidas, de “300” ainda que cheio de vilania e canastrice) interrompe bruscamente a coroação de Hórus (Nikolaj Coster-Waldau, de “Game of Thrones”), seu sobrinho e filho de seu irmão, Osíris (o sumido Bryan Brown, de “F/X-Assassinato Sem Morte”), o rei do Egito.
Seth quer o trono para ele, e não hesita em matar o próprio irmão, e arrancar os olhos de seu sobrinho, para aflição da amante deste, Hator, a deusa do amor (a linda Elodie Yung, que interpretou Elektra na série “Demolidor”). Mas a intervenção do ladrão de bom coração, Bek (o irritante Brenton Thwaites) irá reverter a sorte de Hórus: Ele recupera ao menos um dos seus olhos roubados, e parte para deter a sanha de poder de Seth, que pode levar, inadvertidamente, todo o mundo à destruição.
O emprego de efeitos visuais é, certamente, a grande estrela do filme, o quê não chega a ser surpresa seja pelo perfil do diretor, seja pela tendência sempre seguida por esse tipo de filme. O quê é surpresa é a lamentável falta de criatividade que Proyas demonstra aqui, sem dúvida, um serviço sob encomenda, no qual ele está longe da personalidade que conseguiu impor em seus outros bons trabalhos, evidenciando um afastamento do realizador mais autoral que ele foi algumas décadas atrás. Uma pena.

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