sexta-feira, 17 de junho de 2016

Um Lugar Qualquer

Ah, Sofia Coppola... dona de um estilo de filmar tão íntimo e delicado, tão atento aos pequenos detalhes que passam despercebidos em meio ao transcorrer corriqueiro da vida, e tão diferenciado do tom épico normalmente associado ao seu pai, Francis Ford.
Sofia busca capturar impressões. Suas cenas traduzem a percepção fugaz e etérea de momentos em transe, de instantes contemplativos que se transformam em alguma coisa mais indefinível. Essa indefinição é o que fascina Sofia, e ela vem, às vezes, do próprio tédio, da tristeza, do deslocamento. Disso tudo e de mais um pouco.
Unindo todas essas impressões, ela cria cenas que conduzem sua narrativa e contam sua história.
Havia uma busca paulatina por esse estilo em “As Virgens Suicidas”. Busca, essa, que foi amplamente feliz, consumada e bem-sucedida em “Encontros e Desencontros”.
Esse estilo se expressa até mesmo num trabalho menos autoral –feito muito mais à sombra do pai (e daquilo que o pai dela esperava) –em “Maria Antonieta”.
Quando chegamos, portanto, em seu quarto trabalho como diretora, “Um Lugar Qualquer” (Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 2010), percebemos Sofia completamente consciente da cineasta que é, e da voz que encontrou (e do quê deseja dizer com ela).
Não à toa é com “Encontros e Desencontros” que as similaridades deste filme se estreitam mais. Como naquela obra, temos um ator –neste caso mais jovem e ainda com sucesso –Johnny Marco (Stephen Dorf, longe de ser tão brilhante quanto Bill Murray), cuja alienada existência de badalação e futilidade lhe rouba toda a perspectiva de uma felicidade real, embora ele nem mesmo se dê conta disso.
Faíscas de um despertar desse vazio parecem surgir quando ele recebe a visita de sua filha pré-adolescente, Cleo (a encantadora Elle Fanning).
É não focar-se nela, e em seu pertinente drama de abandono e indiferença (com o qual, não duvido, Sofia deve ter forte identificação), o grande erro do filme: O foco é sempre Johnny Marco e sua imersão naquela vida de artista famoso com ampla margem para o tédio e o questionamento existencial.
Sofia fez, aqui, uma escolha: Sua intenção foi tentar repetir o sucesso de sua obra-prima, “Encontros...” ao invés de optar em ser fiel a si mesma, e nomear protagonista a única personagem que realmente lhe representava.
Do jeito que está, este filme singelo e algo alternativo funciona toda vez que Elle Fanning entra em cena. E como ela é uma coadjuvante, negligenciada por sua diretora tanto quanto por seus pais, isso não é o bastante.

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