quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A Lenda de Tarzan

Não deixa de ser admirável o fôlego que demonstra o diretor David Yates ao entregar dois projetos de considerável complexidade logística neste mesmo ano de 2016.
Um, o bem-sucedido derivado da série “Harry Potter” (da qual, aliás, os quatro últimos longa-metragens ele se encarregou), “Animais Fantásticos e Onde Habitam”.
O outro, esta reinvenção da célebre história do homem criado entre os macacos, concebida por Edgar Rice Burroughs, e tema de infindáveis versões cinematográficas e televisivas.
A saída dos roteiristas para supostamente contar algo novo (afinal, a origem do personagem já foi esmiuçada inúmeras vezes) foi inserir Tarzan e Jane –dois personagens fictícios, é sempre bom lembrar –em um contexto histórico real, além de ser uma trama sobre o retorno do personagem à África (embora Yates não se furte de, também ele, contar uma breve origem, surgida em meio à lapsos narrativos que sinceramente, não precisavam estar lá), no qual um Tarzan já estabelecido regressa para o seu meio, e no processo reencontra suas características antológicas: Soa como uma manobra parecida com o quê Bryan Singer fez em “Superman-O Retorno”.
Vamos aos fatos: O ano é 1890, e o Congo, na África, em poder do rei Leopoldo, da Bélgica, é um lugar explorado pela escravidão. Lá, o mercenário estrategista Leon Rom (Christoph Waltz interpretando com certo relaxo o personagem real que teria inspirado Kurtz do livro “The Hearts Of Darkness, de Joseph Conrad) tem por objetivo encontrar diamantes raros, que só ficarão à sua disposição se ele levar Tarzan até o líder vingativo de uma tribo (o intenso Djimon Hounson, em breve participação).
Mas, Tarzan (interpretado por Alexander Skarsgaard, da série “True Blood”, também com um pouco de relaxo) assumiu, nos últimos oito anos, o título de Lorde Greystoke, bem como o nome de John Clayton III, e se encontra em Londres, casado e acomodado com Jane (Margot Robbie, bela ainda que deslocada). Aquele que providencialmente o levará de volta ao lugar onde foi criado será George Washington Williams (Samuel L. Jackson sempre esmerado), figura real, um americano que buscou ir ao Congo em busca de provas da atividade escravagista ilegal lá praticada.
O roteiro assim amarra (de maneira relapsa, é bem verdade) essas situações levando Jane a ser capturada por Rom, que conduz Tarzan selva adentro à procura dela, e no caminho, vai se despindo do homem civilizado que tentou ser, e volta a transformar-se no personagem que todos conhecem.
O grande problema de “A Lenda de Tarzan” foi provavelmente seu diretor ter se incumbido de dois projetos: Ao dedicar-se quase que simultaneamente à “Animais Fantásticos...” (que estreou nos cinemas cerca de três meses depois deste “Tarzan”), Yates negligenciou muito da pós-produção deste filme, e isso é perfeitamente visível na tela –um dos melhores exemplos é o uso demasiado e desleixado da computação gráfica, que materializa inúmeros bichos digitais, mas o faz sem maior propriedade, bem como as cenas que mostram Tarzan se balançando em cipós, tão irreais e forçosamente estilizadas que parecem até mais fantasiosas do que as acrobacias do Homem-Aranha!
Desde as batalhas que se desenvolvem em cena (que passam a incômoda sensação de terem sido feitas às pressas, com detalhes mal planejados) até amarras mais sutis entre as situações do roteiro (muitas delas até soando como certo amadorismo), a produção vai acumulando falhas e erros de condução, muitos deles tão óbvios, que leva pouco tempo para tornar-se uma experiência maçante.
Foi perdida uma bela oportunidade para se fazer uma nova e empolgante versão de um personagem tão fundamental da cultura pop. O melhor ainda é ficar com a maravilhosa versão animada dos estúdios Disney de 1999, ou qualquer um dos sensacionais filmes antigos estrelados por Johnny Weissmuller.

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