Este brilhante e austero trabalho do ainda
jovem diretor Steve Sodenbergh que, por seu domínio prodigioso de cena e
impecável condução da trama conquistou a Palma de Ouro em Cannes em 1990, faz
parte de uma tríade de grandes obras lançadas no fim da década de 1980 e começo
da de 90 que promoveram uma transformação na percepção comercial e artística
que público e crítica tinham então do cinema independente norte-americano:
Foram elas, além deste “Sexo, Mentiras e Videotape”, “Faça A Coisa Certa”, de
Spike Lee, e “Drugstore Cowboy”, de Gus Van Sant.
O filme de Sodenbergh foi aquele que mais se
beneficiou da generosidade das premiações do período, embora, por curiosidade,
seu realizador viesse a encarar um consideravelmente longo período sem fazer
nada relevante depois dele –foram necessários inúmeros projetos depois para que
Sodenbergh voltasse a integrar, na década seguinte, com a sua bem-sucedida
primeira parceria com George Clooney, o suspense “Irresistível Paixão”, a lista
dos grandes diretores de Hollywood.
Mas, isto é divagação. Voltemos ao filme em
questão: Na trama ligeiramente inspirada em Douglas Sirk, mas carregada de um
pertinente ímpeto de transgressão e renovação, Sodenbergh mergulha suas lentes
(com indelével necessidade analítica) sobre as atitudes do bem-sucedido
advogado John (Peter Gallagher) que mantém, ao mesmo tempo, um relacionamento
distante com Ann, sua esposa frígida (Andie McDowell, mais linda do que nunca),
e um caso adúltero com Cynthia, a cunhada fogosa (Laura San Giacomo), até que
chega então um amigo dos tempos de escola, Graham (James Spader, numa
sensacional e inspirada atuação), obcecado em gravar em vídeo os depoimentos
mais íntimos das mulheres que conhece.
Impotente, Graham encontra sua verdadeira fonte
de excitação sexual ao assistir as imagens nas quais as mulheres com quem cruzou
expõem suas experiências, confessam suas impressões acerca do sexo e revelam
intimidades. Ele acaba assim se tornando um agente catalisador para uma série
de reviravoltas que se operam a partir de seu envolvimento com o núcleo inicial
de personagens.
Esse viés ratifica a
superficialidade de John, a fragilidade de Cynthia, e especialmente, o ímpeto
de Ann, através da qual as mudanças mais dramáticas serão percebidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário