sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Prenda - Me Se For Capaz

Um dos melhores trabalhos do diretor Steven Spielberg dos últimos anos, e rapidamente deixado de lado pelo público que dele prefere ver filmes de fantasia com profusão em efeitos especiais, este “Prenda-Me Se For Capaz”, lançado em 2002, e baseado numa espantosa história real, marcava a segunda colaboração de Spielberg com Tom Hanks (haveria ainda uma terceira, com “O Terminal”, em 2008, e uma quarta, com “Ponte de Espiões”, em 2014), depois de “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1999.
O protagonista, contudo, é Leonardo Dicaprio que, com este trabalho, somado à colaboração com Martin Scorsese em “Gangs de Nova York”, no mesmo ano, começava finalmente a deixar o fantasma de “Titanic” para trás e construir a formidável carreira que acabou seguindo.
E Dicaprio realmente mostra-se perfeito para o papel principal deste filme: Um jovem que, em meados da década de 1960, descobre em seu talento nato para a farsa, um meio de escapulir à realidade massacrante e pessimista pela qual seu pai (Christopher Walken, formidável) foi tragado.
A sensacional trajetória de Frank W. Abagnale Jr. (nome do personagem de Dicaprio) encontra alguns aspectos na do próprio Spielberg –e explicam o que levou o diretor a assumir esse projeto: Ambos eram criativamente precoces, ambos usaram a imaginação para ascender profissionalmente (guardadas as devidas comparações, claro) e para contornar os desgostos da vida real, e ambos fizeram tudo o que fizeram motivados por uma inocência que impedia (especialmente Abagnale) que enxergassem qualquer erro nisso.
É óbvio que Spileberg colocou muitos traços de si mesmo e de seu trabalho no filme, fazendo dele esta obra deliciosa, que em muitos momentos parece ser uma ode à inventividade e à capacidade de sonhar e imaginar. E tão mais empolgante ela é, ao mostrar tudo o que Abagnale conseguiu fazer!
Antes mesmo de completar 18 anos, Frank Abagnale fugiu da casa dos pais que estavam para se divorciar, e habilmente disfarçou-se ao longo dos anos de piloto de avião, médico e advogado (!), disfarces estes que lhe proporcionavam mulheres maravilhosas, viagens espetaculares e muito dinheiro (que ele obtinha falsificando cheques). Essa vida de falsário logo chamou a atenção do FBI que colocou atrás dele um agente, Carl Hanraty (personagem que Tom Hanks interpreta com uma noção magnífica de timing cômico).
Ao recuperar uma leveza e um otimismo que andavam ausentes em seus últimos filmes, orientados por temas mais sombrios, Spielberg entrega um show de direção, e nos brinda com uma maravilhosa trilha sonora de John Williams, além do saboroso duelo de interpretações entre Leonardo Dicaprio e Tom Hanks (ambos fabulosos), mas possivelmente o grande (e imperceptível) truque que sua excelência como diretor consegue obter é uma singular suspensão moral, por meio da qual ele consegue fazer qualquer expectador relevar os inúmeros percalços ilícitos de seu protagonista e (apesar de tudo) torcer por ele.

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