segunda-feira, 20 de março de 2017

Ma Ma

Reunião de uma das maiores estrelas espanholas com um dos mais cultuados diretores da Espanha, “Ma Ma” (com as sílabas separadas, talvez, para que não fosse confundido com “Mama”, o terror protagonizado por Jessica Chastain) terminou sendo uma obra bastante interessante, plenamente capaz de corresponder à esses dois talentos, ainda que seja assumida e deslavadamente um melodrama,o quê talvez afaste cinéfilos mais exigentes e seletivos.
Pura implicância. Tal e qual seus outros belos trabalhos, Julio Medem constrói uma obra cheia de sentimento, e o sentimento em questão é vontade de viver. Ela pulsa, absoluta, em cada cena, na interpretação sólida, afetuosa e preciosa de Penelope Cruz, também ela produtora, e visivelmente comovida, emocionada e identificada com o tema e a personagem.
Ela é Magda. Uma jovem professora em processo de divórcio que descobre ter câncer de mama no mesmo dia em que conhece por acaso um olheiro, Arturo (o ótimo Luis Tosar, do suspense argentino “Enquanto Você Dorme”), num jogo de futebol do filho.
Arturo tem, também ele, uma situação trágica: A filha morreu atropelada e a esposa, devido ao mesmo acidente, está em coma.
Magda toma a estóica decisão de atravessar a dolorosa fase da quimioterapia sozinha e sem alarde, e é durante esse processo que se dá a evolução de seu relacionamento com Arturo –que fica viúvo.
Medem, então, mais uma vez faz o que costuma fazer melhor, cria uma atmosfera dramática, impregnada de elementos incondicionalmente cinematográficos, através da qual ele basicamente narra uma trama onde a necessidade emotiva dos personagens termina encontrando seu obstáculo maior na realidade e no mundo.
Assim foi no imprescindível “Os Amantes do Círculo Polar”, onde o casal de enamorados passa a vida inteira tentando contornar os fatores que os separam, no subestimado “Um Quarto Em Roma”, onde a paixão entre duas mulheres tenta vencer, em vão, a barreira de segurança das quatro paredes, para se deixar florescer no mundo lá fora.
E assim é aqui, com sua protagonista Magda, uma personagem tão cheia de vida, interpretada de maneira arrepiante, mas cujas chances de ver o filho crescer, de fazer duradouro o amor recém-descoberto ao lado do novo parceiro e, especialmente, de conhecer e ver crescer a criança que trás em seu ventre, são interrompidas pela perspectiva cruel e implacável de uma vida curta, tolhida por uma doença inesperada.
Medem trabalha a dicotomia entre realidade, imaginação e as ocasionais tentativas de conciliar esses fatores às vezes tão inconciliáveis com uma interminável sucessão de cenas poéticas de tocar o coração, existe, por isso mesmo, alguma idealização na forma com que ele expõe a rotina doméstica, mas seu filme nunca deixa de ser comovente.
É, afinal, a grande questão que críticos debatem em torno do gênero do melodrama desde a aurora do cinema: A sua capacidade plena (e seu mérito real por conta disso) de revelar-se uma forma maniqueísta de manipular o expectador, em contraponto às emoções, não raro genuínas, que ele consegue suscitar.
Aqui, opina-se em seu favor, uma vez que não há como ficar indiferente ao nó na garganta que ele deixa ao final do filme.

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