segunda-feira, 13 de março de 2017

Reencarnação

Existem filmes que poderiam ser grandes. E durante algum tempo até são bem sucedidos em nos convencer que o são, até que a trama, da maneira como ela é concebida, exige não apenas o comprometimento, mas a coragem dos envolvidos em desenvolvê-la com convicção até o final.
É aí que a hesitação (e o medo de controvérsias) pode por tudo a perder.
Tomemos o exemplo deste “Reencarnação”.
Dez anos após ter enviuvado, e prestes a casar novamente, jovem mulher (a sempre bela Nicole Kidman) conhece uma criança, um garotinho (Cameron Bright) que se diz a reencarnação de seu falecido marido. Ele revela conhecimentos espantosos da vida que tiveram juntos e tem lembranças de momentos que somente ela poderia recordar.
Essas características abalam seriamente a convicção dela, então completamente cética a respeito.
A premissa interessante e que causou polêmica (desnecessária) devido a uma cena de nudez em que a atriz Nicole Kidman divide uma banheira com o jovem Cameron Bright, de 10 anos, não chega a concretizar o filme intrigante e desafiador que ele prometia ser em sua primeira metade. Embora o trabalho do bom diretor Jonathan Glazer (que depois faria o sensacional “Sob A Pele”, com Scarlett Johanson) se revele instigante, e até ousado no que tange à premissa e seus desdobramentos de ordem metafísica e factual durante boa parte de sua duração, o filme sofre uma guinada burocrática, covarde e redundante em algum momento de sua meia hora final, tornando-se hesitante e contraditório ao optar por uma solução das mais esquemáticas –tamanha é a quebra de tom e postura provocada por essa decisão que esse desfecho parece escrito por alguém completamente diferente da pessoa que iniciou a trama.
Um detalhe que põe a perder todo o interesse antes suscitado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário