Na cena que encerra “Blow Up-Depois Daquele
Beijo”, o fotógrafo Thomas (David Hemmings) assiste á um grupo de mímicos
encenando uma partida de tênis onde a bolinha não existe.
Num dado momento, eles a perdem, acompanhando-a
no ar como se fosse real e como fosse tivesse sido arremessada para longe do
campo.
Ali perto, Thomas compactua com a ilusão ao se
manifestar para devolvê-la: Ele gesticula que a junta do chão e a joga de volta
aos mímicos, que retomam a partida.
Há uma relevante razão para a angústia que
pulsa nesta cena: Está ali a predisposição para a crença no irreal que o
personagem principal não consegue enxergar em si mesmo até o fim do filme.
Seria então comprovadamente uma alucinação, ou
uma impressão equivocada o assassinato que ele pensou ter registrado após uma série
de fotos num parque bucólico?
É provável que não. Mas é, acima de tudo, uma
razão plena para que percebamos o vazio absoluto e os fantasmas da paranóia que
tomam o protagonista quando o diretor Michelangelo Antonioni priva, ele e o público,
da continuidade de uma trama de suspense que ele tão bem soube iniciar –esse recurso
(o de desconstruir uma premissa de filme de suspense e abandoná-la no meio do
caminho), proposital ou não, intencional ou não, foi também empregado por
Antonioni em “A Aventura” (a primeira parte de sua “Trilogia da
Incomunicabilidade”) e em “Profissão: Repórter”.
Aqui é onde ele soube tecê-la com mais
propriedade, dando ênfase no registro até hoje incomum e criterioso da chamada “Swinging
London” no comportamento, nos figurinos e na ambientação.
É, pois, um zoológico humano este com o qual
Antonioni nos confronta. Se no inicio tudo parece travestido de um verniz
melindroso e acentuado de civilização, aos poucos, as facetas primitivas vão se
revelando: Thomas é um personagem sem escrúpulos, à beira da misoginia na
maneira com que trata as modelos que fotografa. Jane (Vanessa Redgrave), a
jovem fotografada por acaso com o namorado no parque aparenta estar desesperada
por obter as fotos dele –tanto que chega a ameaçá-lo e, por fim, se oferecer a
ele.
Mais tarde, Thomas tem seu apartamento
invadido; e as fotos (provas do suposto assassinato que flagrou) estão perdidas
por completo. Já não há então –na falta de uma prova física para os outros e
para si mesmo –sinais da mesma convicção que Thomas demonstrava antes.
Se estava certo que tinha
visto e suspeitado de algo, essa certeza o abandonou, deixando nele um vazio
que a cena final com os mímicos vem só a reiterar: Teria ele perseguido o tempo
todo por uma bola imaginária?
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