segunda-feira, 10 de abril de 2017

Blow Up - Depois Daquele Beijo

Na cena que encerra “Blow Up-Depois Daquele Beijo”, o fotógrafo Thomas (David Hemmings) assiste á um grupo de mímicos encenando uma partida de tênis onde a bolinha não existe.
Num dado momento, eles a perdem, acompanhando-a no ar como se fosse real e como fosse tivesse sido arremessada para longe do campo.
Ali perto, Thomas compactua com a ilusão ao se manifestar para devolvê-la: Ele gesticula que a junta do chão e a joga de volta aos mímicos, que retomam a partida.
Há uma relevante razão para a angústia que pulsa nesta cena: Está ali a predisposição para a crença no irreal que o personagem principal não consegue enxergar em si mesmo até o fim do filme.
Seria então comprovadamente uma alucinação, ou uma impressão equivocada o assassinato que ele pensou ter registrado após uma série de fotos num parque bucólico?
É provável que não. Mas é, acima de tudo, uma razão plena para que percebamos o vazio absoluto e os fantasmas da paranóia que tomam o protagonista quando o diretor Michelangelo Antonioni priva, ele e o público, da continuidade de uma trama de suspense que ele tão bem soube iniciar –esse recurso (o de desconstruir uma premissa de filme de suspense e abandoná-la no meio do caminho), proposital ou não, intencional ou não, foi também empregado por Antonioni em “A Aventura” (a primeira parte de sua “Trilogia da Incomunicabilidade”) e em “Profissão: Repórter”.
Aqui é onde ele soube tecê-la com mais propriedade, dando ênfase no registro até hoje incomum e criterioso da chamada “Swinging London” no comportamento, nos figurinos e na ambientação.
É, pois, um zoológico humano este com o qual Antonioni nos confronta. Se no inicio tudo parece travestido de um verniz melindroso e acentuado de civilização, aos poucos, as facetas primitivas vão se revelando: Thomas é um personagem sem escrúpulos, à beira da misoginia na maneira com que trata as modelos que fotografa. Jane (Vanessa Redgrave), a jovem fotografada por acaso com o namorado no parque aparenta estar desesperada por obter as fotos dele –tanto que chega a ameaçá-lo e, por fim, se oferecer a ele.
Mais tarde, Thomas tem seu apartamento invadido; e as fotos (provas do suposto assassinato que flagrou) estão perdidas por completo. Já não há então –na falta de uma prova física para os outros e para si mesmo –sinais da mesma convicção que Thomas demonstrava antes.
Se estava certo que tinha visto e suspeitado de algo, essa certeza o abandonou, deixando nele um vazio que a cena final com os mímicos vem só a reiterar: Teria ele perseguido o tempo todo por uma bola imaginária?

Nenhum comentário:

Postar um comentário