O diretor André Téchiné parece herdar algo da
loucura encapsulada de Andrzej Zulawski –ou talvez esteja apenas assimilando um
estado de espírito transgressor dos autores do período –neste trabalho jovem,
pessoal que flerta com o experimentalismo ao mesmo tempo em que joga com
princípios básicos do cinema comercial convencional, uma mescla que, se paramos
para analisar, era até bastante convulsiva no jovem cinema francês dos anos
1980.
Ele joga com o fascínio despertado por Juliette
Binoche (e a capacidade inata dela em cativar) dando-lhe um personagem que usa
e abusa da disposição do público em perdoar seus deslizes.
Essa personagem se chama Nina e, ao longo do
filme, ela irá oscilar afetivamente entre dois diferentes amigos (Lambert
Wilson e Wadeck Stanczak), inclinada quase sempre ao mais cafajeste, e evitando
uma relação séria com o mais sincero e bem intencionado.
Ela também luta por um lugar ao sol no
competitivo mundo artístico no qual sonha prevalecer, mas como todos os
personagens, ela termina mergulhando na própria amargura.
O diretor Téchiné parece se contentar em
acompanhar essas trajetórias miseráveis, ressaltando o drama por meio dos olhos
tristes de Juliette –este é um de seus primeiros trabalhos –por meio da
perplexidade de Wilson, e da impressão de desamparo de Stanczak. Ambientado nos
subúrbios, em apartamentos quase sempre vazios ou mal decorados, o filme parece
herdar alguns reflexos condicionados da Nouvelle Vague, mas tem a intenção de
ir além na investigação que estabelece entre os diferentes vínculos sexuais e
artísticos, e na intrigante dúvida acerca do que tais vínculos representam.
Viver intensamente pode
significar, no final das contas, morrer também intensamente.
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