O cinema comercial vive de tendências. Pode até
parecer difícil de acreditar que no passado os filmes não eram concebidos para
terem continuações –eram histórias fechadinhas com começo, meio e fim –essa foi
apenas uma das primeiras tendências. Outras vieram como recentemente, a mania
de gerar trilogias –lançada com o sucesso esmagador de “Senhor dos Anéis”
–agora, a mais nova tendência do cinema hollywoodiano são os “universos
compartilhados”.
Conceito inaugurado pela Marvel Studios –e que
faz sentido em seu contexto, já que todos os personagens adaptados para tela
grande, de fato, habitam o mesmo universo nos quadrinhos –ele foi seguido pela
DC Comics (que, pelos estúdios da Warner, tenta à duras penas repetir o mesmo
êxito), e por todos os estúdios com franquias em potencial: A Fox e seus
“X-Men”, a Paramount com “Transformers” (reza a lenda que o filme mais recente
irá gerar diversos derivados), a própria Warner (com o universo de monstros,
“Kong” e “Godzilla”) e a Disney, já proprietária da Marvel, mas que também
dispõe da franquia “Star Wars”.
Dentre esses, é curiosa a iniciativa da
Universal, estúdio que abrigou muitos monstros clássicos do cinema –os chamados
“Monstros da Universal” –como o “Frankenstein”, de James Whale, “A Múmia”, com
Boris Karloff, “Drácula”, de Todd Browning, e outros.
É essa mesma Universal, munida dessas criaturas
clássicas, que segue agora os passos da Marvel com a implementação de seu assim
chamado “Dark Universe” –um universo dentro do qual seus monstros ganharão
filmes solo (contando suas histórias numa vibração ao estilo ‘super-herói’)
para então se reunir numa provável mega-produção (tal e qual foi “Os Vingadores”).
O filme a representar o ponto de partida para essa iniciativa é este “A Múmia”,
com Tom Cruise. Justamente por todo esse novo objetivo mercadológico, este é um
filme muito diferente da famosa produção estrelada por Boris Karloff nos anos
1930, ou mesmo da diversão escapista que rendeu três filmes protagonizados por
Brendan Fraser em 1999, 2001 e 2008.
Tom Cruise é Nick Mortom, uma espécie de
soldado da fortuna, que persegue a pista de um achado arqueológico no Iraque,
com a intenção de obter dinheiro fácil. Ao lado da especialista Jenny Halsey
(Annabelle Wallis, linda, carismática e a melhor coisa do filme), ele
desenterra o sarcórfago onde jaz os restos mortais da princesa Ahmanet (a bela
e atlética Sofia Boutella, de notáveis interpretações físicas como em
“Kingsman-Serviço Secreto” e “Star Trek-Sem Fronteiras”) e desperta, junto com
ela, uma maldição: Compactuada com Seth, o deus egípcio da morte, Ahmanet
adquire poderes sobrenaturais (com os quais ela pode se regenerar sugando a
vida de outros desavisados e criar uma legião de zumbis) e deve selecionar um
escolhido para receber a entidade do próprio Seth para vir ao mundo.
E esse escolhido é Nick!
Para ajudá-los, mas nem tanto, surge o
misterioso personagem do Dr. Henry Jeckyll (Russell Crowe, numa piscadela
referencial, interpretando o protagonista de “O Médico e O Monstro”), a frente
da organização Prodigium que deve significar o elo principal entre os demais
personagens desse Dark Universe.
Pouco se vê, afinal, de ‘múmia’ aqui: O monstro
envolto em bandagens, eternizado no filme antigo é, quando muito, uma sutil
referência. Toda a premissa –que, em outro caso, renderia um filme soturno de
terror –é manipulada pelo diretor Alex Kurtzman (roteirista de longa carreira
em Hollywood, tendo estreado na direção com “Bem-Vindo À Vida”) que dela extrai
uma aventura exuberante no acabamento dos efeitos visuais e algo irregular no
fôlego constantemente renovado de suas cenas de ação, o quê termina refletindo
de fato a personalidade de seu astro: O personagem de Tom Cruise, no início
retratado como um protagonista aventureiro de presença cuidadosamente
descuidada dentro da trama, após uma série de manobras mirabolantes do roteiro
acaba se tornando o centro de todas as questões sobrenaturais que se empilham
com certo exagero no clímax.
É bem provável então que seja o personagem de
Tom Cruise –e não a ‘múmia’ propriamente dita, o personagem de Sofia Boutella
–quem vai marcar presença novamente nas vindouras produções do Dark Universe.
Mas, quer saber? Quem realmente
valeria a pena ser vista de novo é a charmosa e irresistível mocinha vivida por
Annabelle Wallis.
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