sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A Múmia

O cinema comercial vive de tendências. Pode até parecer difícil de acreditar que no passado os filmes não eram concebidos para terem continuações –eram histórias fechadinhas com começo, meio e fim –essa foi apenas uma das primeiras tendências. Outras vieram como recentemente, a mania de gerar trilogias –lançada com o sucesso esmagador de “Senhor dos Anéis” –agora, a mais nova tendência do cinema hollywoodiano são os “universos compartilhados”.
Conceito inaugurado pela Marvel Studios –e que faz sentido em seu contexto, já que todos os personagens adaptados para tela grande, de fato, habitam o mesmo universo nos quadrinhos –ele foi seguido pela DC Comics (que, pelos estúdios da Warner, tenta à duras penas repetir o mesmo êxito), e por todos os estúdios com franquias em potencial: A Fox e seus “X-Men”, a Paramount com “Transformers” (reza a lenda que o filme mais recente irá gerar diversos derivados), a própria Warner (com o universo de monstros, “Kong” e “Godzilla”) e a Disney, já proprietária da Marvel, mas que também dispõe da franquia “Star Wars”.
Dentre esses, é curiosa a iniciativa da Universal, estúdio que abrigou muitos monstros clássicos do cinema –os chamados “Monstros da Universal” –como o “Frankenstein”, de James Whale, “A Múmia”, com Boris Karloff, “Drácula”, de Todd Browning, e outros.
É essa mesma Universal, munida dessas criaturas clássicas, que segue agora os passos da Marvel com a implementação de seu assim chamado “Dark Universe” –um universo dentro do qual seus monstros ganharão filmes solo (contando suas histórias numa vibração ao estilo ‘super-herói’) para então se reunir numa provável mega-produção (tal e qual foi “Os Vingadores”). O filme a representar o ponto de partida para essa iniciativa é este “A Múmia”, com Tom Cruise. Justamente por todo esse novo objetivo mercadológico, este é um filme muito diferente da famosa produção estrelada por Boris Karloff nos anos 1930, ou mesmo da diversão escapista que rendeu três filmes protagonizados por Brendan Fraser em 1999, 2001 e 2008.
Tom Cruise é Nick Mortom, uma espécie de soldado da fortuna, que persegue a pista de um achado arqueológico no Iraque, com a intenção de obter dinheiro fácil. Ao lado da especialista Jenny Halsey (Annabelle Wallis, linda, carismática e a melhor coisa do filme), ele desenterra o sarcórfago onde jaz os restos mortais da princesa Ahmanet (a bela e atlética Sofia Boutella, de notáveis interpretações físicas como em “Kingsman-Serviço Secreto” e “Star Trek-Sem Fronteiras”) e desperta, junto com ela, uma maldição: Compactuada com Seth, o deus egípcio da morte, Ahmanet adquire poderes sobrenaturais (com os quais ela pode se regenerar sugando a vida de outros desavisados e criar uma legião de zumbis) e deve selecionar um escolhido para receber a entidade do próprio Seth para vir ao mundo.
E esse escolhido é Nick!
Para ajudá-los, mas nem tanto, surge o misterioso personagem do Dr. Henry Jeckyll (Russell Crowe, numa piscadela referencial, interpretando o protagonista de “O Médico e O Monstro”), a frente da organização Prodigium que deve significar o elo principal entre os demais personagens desse Dark Universe.
Pouco se vê, afinal, de ‘múmia’ aqui: O monstro envolto em bandagens, eternizado no filme antigo é, quando muito, uma sutil referência. Toda a premissa –que, em outro caso, renderia um filme soturno de terror –é manipulada pelo diretor Alex Kurtzman (roteirista de longa carreira em Hollywood, tendo estreado na direção com “Bem-Vindo À Vida”) que dela extrai uma aventura exuberante no acabamento dos efeitos visuais e algo irregular no fôlego constantemente renovado de suas cenas de ação, o quê termina refletindo de fato a personalidade de seu astro: O personagem de Tom Cruise, no início retratado como um protagonista aventureiro de presença cuidadosamente descuidada dentro da trama, após uma série de manobras mirabolantes do roteiro acaba se tornando o centro de todas as questões sobrenaturais que se empilham com certo exagero no clímax.
É bem provável então que seja o personagem de Tom Cruise –e não a ‘múmia’ propriamente dita, o personagem de Sofia Boutella –quem vai marcar presença novamente nas vindouras produções do Dark Universe.
Mas, quer saber? Quem realmente valeria a pena ser vista de novo é a charmosa e irresistível mocinha vivida por Annabelle Wallis.

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