Deve ser terrível para os críticos
intelectualóides de plantão, que detestam filmes de ação em detrimento às obras
mais herméticas, constatar a brilhante homenagem ao cinema que é “John
Wick-Chapter 2”.
Seu pôster já remete à uma obra dos tempos
áureos estrelada por Harold Loyd e, se isso ainda ficar dúbio, ele ainda
confirma isso já na primeira cena, quando vemos uma cena exatamente de um filme
de Harold Loyd, ser refletida em um prédio, para então mostrar um carro
passando em perseguição –o fato dos efeitos sonoros estarem sincronizados ao
filme indica o quanto aqueles trabalhos de antigamente, construídos de notável
virtuosismo físico, interferem profundamente na concepção deste filme.
O novo filme dá o mais natural dos segmentos ao
que se passa em “De Volta Ao Jogo” quando vemos o lendário John Wick perpetrar
os últimos arremates na exuberante vingança que ele realizou no primeiro filme,
para em seguida, a trama desta continuação propriamente se iniciar: No complexo
mundo de assassinos a que pertencia, John Wick tinha uma dívida antiga que lhe
possibilitou a aposentadoria da qual antes aproveitava.
Mas, a dívida foi cobrada na forma de Santino
(Riccardo Scamarcio), herdeiro italiano da Gamorra que espera um favor de Wick:
Matar-lhe a irmã mais velha (Claudia Gerini) e com isso torná-lo o sucessor direto
do império do pai.
Nada neste filme é tão simples quanto parece e,
a tentativa de Wick em deixar tudo para trás fará com que uma ingrata
quantidade de assassinos voltem sua atenção para ele.
Tal e qual o primeiro, este trabalho admirável
ao extremo do diretor Chad Stahelski mergulha nos meandros curiosos do universo
ambíguo que registra, analisando suas regras e as conseqüências brutais para
aqueles que as dobram (mostrando com habilidade, estilo e requinte as maneiras refinadas
com que esse mesmo universo se esconde debaixo do nariz do cidadão comum que
vive no mundo real), potencializando tudo o que havia antes funcionado, e dando
mais uma oportunidade de Keanu Reeves mostrar o ator completo, em termos de
recursos dramáticos e vitalidade física, que ele é –e, no magnífico papel de
John Wick, ele não deixa tal oportunidade passar.
Ao fim, esse segundo filme
(tão logo se encerra com uma cena numa casa de espelho que é, não somente uma
referência ao clímax do cultuado “A Dama de Shangai”, de Orson Welles, mas também
uma amostra do quanto o cinema moderno é capaz de repaginar e aperfeiçoar tais
cenas clássicas) o roteiro e a direção –ao contrário, do primeiro que se concluía
com simetria louvável –entregam um gancho explícito e pulsante para uma
terceira parte que, se prosseguir nesta continuidade qualitativa, deve
transformar “John Wick” numa série tão incrivelmente relevante e marcante para
o gênero de ação quando a “Trilogia Bourne” o foi na década de 2000.
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