terça-feira, 16 de maio de 2017

Preso Na Escuridão

“Abra Los Ojos”, hoje é mais conhecido (e mesmo assim, não muito) como o filme espanhol que, refilmado, resultou no quase incategorizável “Vanilla Sky”, com Tom Cruise.
Parte-se sempre do princípio algo preconceituoso de que o filme original é sempre superior à refilmagem, e alguns críticos, neste caso, realmente concordam com isso, mas a verdade é que ao comparar os dois trabalhos, “Abra Los Ojos” e “Vanilla Sky”, embora compartilhem da mesma e mirabolante premissa, possuem propostas tão diferentes entre si que acabam sendo experiências um bocado diferentes.
E, dito isso, serão as inclinações pessoais, e o gosto individual de cada expectador que determinarão qual é o melhor filme.
“Vanilla Sky” é uma obra que divide opiniões. O roteirista e diretor Cameron Crowe aproveitou toda a estrutura presente no longa original de Alejandro Amenábar e usou a discussão acerca do que seria sonho e o que seria realidade para discorrer sobre outros questionamentos, filosofando sobre a forma que conduzimos nossa vida e nossas relações.
Não há muito desse existencialismo em “Abra Los Ojos”, o quê parece ser do agrado de muitos expectadores que não tiveram paciência com o filme de Crowe. O espanhol Amenábar se concentra na trajetória de seu protagonista César (Eduardo Noriega), um hoteleiro bonitão e plaboy (evidente que as proporções do filme original são mais tímidas se comparadas às do milionário filme norte-americano, onde o protagonista era um magnata editorial) cuja vida confortável sofre um revés ao ser desfigurado num acidente, pouco depois de conhecer aquela que acredita ser a mulher de sua vida, a mímica Sofia (Penélope Cruz, a única presença em comum nas duas produções).
Desfigurado pela tragédia e, nos seus próprios termos, sentindo-se inútil para o mundo, ela vê suas esperanças de retomar qualquer romance com Sofia minguarem. Em algum momento, porém, César recupera seu rosto através de sucessivas cirurgias, entretanto, algo o leva a ser encarcerado fazendo com que seu dedicado psiquiatra procure por uma explicação em meio às suas lembranças.
A busca paulatina por uma elucidação de seus mistérios transforma “Abra Los Ojos” mais em um acentuado suspense do que num drama romântico de ficção científica (o mais próximo que se pode chegar de generalizar aquele filme!), e enquanto o filme americano busca uma forma de emocionar e até comover o expectador através do tortuoso caminho de uma trama mirabolante e tortuosa, o filme espanhol usa essa mesma trama a fim de gerar uma dúvida perene e insolúvel: O final em aberto é feito para o público sair do filme levantando várias questões, mais ou menos como na reviravolta de “O Sexto Sentido”.
“Vanilla Sky” parece propositadamente não deixar nenhuma dúvida no expectador, seu objetivo é mais proporcionar uma experiência sensorial com as várias emoções que pairam no ar –amor, gratidão, finitude, amadurecimento –e nisso, a que se admirar o fato de que o filme de Cruise e Crowe, a despeito da qualidade que lhe é ou não atribuído, não tenta repetir o filme em que se baseia, buscando ser algo novo, independente e original.

PS: O mesmo título nacional, "Preso Na Escuridão", foi dado a um faroeste spaghetti dos anos 1970, ao ser lançado em DVD, cujo título original era "Blindman".

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