quinta-feira, 22 de junho de 2017

A Cura

Quando dirigiu o remake de “O Chamado”, em 2002, Gore Verbinski estava ainda no princípio da caminhada que viria a percorrer em Hollywood. De lá para cá, ele firmou-se como um de seus mais reconhecidos artesãos com a primeira trilogia de “Piratas do Caribe”, ganhou um Oscar de Melhor Longa de Animação por “Rango” e retomou a parceria com o astro Johnny Depp em “O Cavaleiro Solitário”.
Este seu trabalho, “A Cura” não pode ser visto como um retorno às mesmas características de filme de terror de “O Chamado”, até porque se trata de um tipo bastante diferente de filme –e o próprio Verbinski é, hoje, um tipo bastante diferente de diretor em relação ao que ele era naquela época: “O Chamado” foi, quando muito, um trabalho encomendado por estúdio, além de uma refilmagem de um longa japonês já existente; “A Cura”, por outro lado, é quase um terror gótico que guarda inúmeros elementos autorais.
O jovem e ambicioso Lockhart (Dane Dehhaan, competente) recebe uma missão com algo de ilícita dos chefões da empresa na qual almeja prosperar: Trazer de volta da clínica em que se internou Pembroke (Harry Groener), um executivo sênior fundamental às iminentes transações que serão realizadas. A tal clínica, localizada num vilarejo remoto da Europa, parece em princípio ser um centro de terapias alternativas que prega a purificação pela água, ambientada num cenário requintado e opressivo, embora logo fiquem claros elementos bastante macabros a pairar por sua atmofera.
Lockhart –que nos dias que se seguem perde constantemente Pembroke de vista, o quê o obriga, junto de um acidente, a ficar pelo lugar –começa a perceber que a sombria história pelo qual é conhecido o castelo onde a clínica está instalada (reza a lenda que um antigo aristocrata tentou purificar o sangue da família tendo relações com a própria irmã, terminando queimado numa fogueira por aldeões) tem ramificações que interferem na existência da própria clínica em si, e parecem ter relações diretas com o diretor-chefe Volmer (o ótimo Jason Isaacs, um ator talhado para papéis de vilão) e com a intrigante Hanna (a estranhamente bela Mia Goth, de “Ninfomaníaca Vol. 2”), a mais jovem paciente do lugar que aparentemente guarda um grande segredo.
Como tornou-se habitual nos filmes de Verbinski, o visual mostra-se impecável em detrimento da trama, bastante oscilante e frágil, embora até mesmo isso pareça ir de encontro às opções estilísticas adotadas por ele aqui –é, afinal, uma das máximas do terror gótico, propagado por mestres como Mario Bava, de que a plausibilidade pode se sobrepor ao charme!
Mesmo diante desse argumento é nítido o quanto o excesso de estilo esmaga o pouco de conteúdo, por mais que as extensas duas horas e vinte e cinco minutos de duração estejam ali aparentemente para favorecer a história –o quê infelizmente termina não acontecendo.

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