terça-feira, 19 de setembro de 2017

Lilo & Stitch

A necessidade de reinvenção sempre foi um fantasma que assombrou os Estúdios Disney. A partir da década de 1990, com a ascensão da Pixar, essa necessidade intensificou-se levando-os a experimentações equivocadas no terreno da ficção científica –e que flertava com o estilo cyberpunk das animações japonesas –como em “Atlantis-O Reino Perdido” ou “O Planeta do Tesouro”.
A busca por um tom radical em relação ao clássico não deixa de definir “Lilo & Stitch”, mas ele tem algo certamente singular e inédito: Seu humor politicamente incorreto.
Stitch, seu protagonista, é um apelo à mal-criação, à bagunça e à liberdade, por assim dizer, de ser criança e brincar.
Ele é um alienígena. Uma experiência que deu errado para ser mais exato. Chamado pela alcunha de 316, ele escapa das naves espaciais dos policiais galácticos que o viam como ameaça e queriam prendê-lo junto de seu criador, um cientista maluco do espaço sideral. A bordo de uma nave, a pequena e endiabrada criatura cai no planeta Terra, mais especificamente no Hawaí, onde acaba por acaso tomado por um cachorro e adotado pela doce menina Lilo, e dela recebe o nome de Stitch.
Lilo perdeu os pais em um acidente de carro e mora só com a irmã Nany –e mesmo ela encontra dificuldades em cuidar de Lilo e parecer capacitada aos olhos de um agente social.
Numa analogia explícita ao clássico “O Patinho Feio” –que ganhou, também da Disney uma versão linda em 1939 –tanto Lilo quanto Stitch são, portanto, pequenos protagonistas às voltas com o desamparo, a orfandade e a solidão, e terminam, ainda que avessos à qualquer sentimentalismo e comiseração, compartilhando (e se identificando com) essa condição.
É, pois, uma belíssima história de amizade esta que nos conta a animação: Enquanto busca adaptar-se a Terra e à família de Lilo (de quem descobre estar gostando cada vez mais), esse adorável agente do caos tenta controlar seu instinto natural de sair destruindo tudo. Também são enviados ao planeta alguns oficiais do espaço, a fim de recapturar Stitch.
Contagiada por esse descontraído inconformismo, a produção ainda deu um jeito de distorcer o conceitos das canções que tocam de maneira onipresente, impondo todo o clima do filme: Em "Lilo & Stitch" elas estão lá, porém, ao invés das composições originais (e musicalmente adocicadas), são todas canções de Elvis Presley (!).
É claro que a maior diversão (e melhor sacada) deste longa de animação Disney brota em grande parte devido ao fato de ir de encontro aos anseios da molecada de hoje, evitando assim o tom mais comportado das animações clássicas.

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