segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sobre Meninos e Lobos

Clint Eastwood não dá ponto sem nó. Seus filmes, sejam os estrelados por ele e, sobretudo, os dirigidos por ele, trazem sempre uma postura técnica, artística e moral de tal maneira firme e convicta que não restam qualquer espaço para ambigüidades em relação à reflexão que ele deseja passar.
Sob esse prisma é fascinante contemplar tudo o que se percebe em “Sobre Meninos e Lobos”.
Embora tenha conquistado o Oscar (num já longínquo 1992), por “Os Imperdoáveis”, ainda assim, ele passou a década seguinte relegado ao segundo escalão de diretores norte-americanos, mesmo que vez ou outra entregasse bons trabalhos como o divertido “Cowboys do Espaço”.
Foi necessário uma prova inconteste de talento e competência para Hollywood reconhecê-lo em definitivo como o grande diretor que é, e essa prova se deu na forma de sucessivas indicações ao Oscar entre 2004 e 2006, com grandes obras como “Sobre Meninos e Lobos”, “Menina de Ouro” (que lhe agraciou com o segundo Oscar da carreira) e o drama de guerra “Cartas de Iwo Jima”.
Essa fase extremamente frutífera e aclamada de sua carreira começou com este filme, um brilhante drama de inúmeras ressonâncias morais que só um grande diretor poderia mesmo conceber.
O grande roteiro, ganhador do Oscar, de Brian Helgeland (de “Los Angeles-Cidade Proibida”) inicia-se com um traumático acontecimento sucedido na infância envolvendo três amigos Jimmy, Sean e Dave: Um deles, Dave, é levado por um grupo de homens inescrupulosos e somente encontrado algum tempo depois, quando ficam claros os abusos que sofreu.
Agora adultos, os três vêem-se mais uma vez lado a lado ante um crime hediondo, desta vez, o assassinato brutal da filha (Emmy Rossum) de Jimmy (Sean Penn, ganhador do Oscar de Melhor Ator), um comerciante muito conhecido no bairro em que cresceram. Sean (Kevin Bacon) é também o policial agora encarregado das investigações desse mesmo crime, enquanto que Dave (Tim Robbins, ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), que nunca mais foi o mesmo após ter sido abusado no episódio passado passa a demonstrar um comportamento estranho, chegando a despertar as suspeitas de sua esposa Celeste (Márcia Gay Harden), irmã de Jimmy. Quando começa a ficar claro que a polícia pode não encontrar os culpados, o pai, junto de seus amigos, decide procurar o responsável por conta própria, levando todas as histórias paralelas a um desfecho trágico.

O aspecto verdadeiramente notável deste poderoso filme de trama policial –e que torna fascinante o fato de ser dirigido justamente por Clint Eastwood, famoso pelo personagem reacionário de Dirty Harry, de “Perseguidor Implacável” –é, portanto, a maneira poderosamente incisiva e contundente com a qual faz uma severa e instigante crítica ao ato de justiça com as próprias mãos.

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