É necessário ir com um pé atrás em relação ao
cinema discorrido pelo australiano Baz Luhrmann. Se por um lado, ele ostenta
qualidade técnica e predisposição vulcânica para valorizar sua narrativa –às
vezes, de todas as maneiras possíveis –por outro, ele é excessivo, exagerado em
algumas escolhas, deliberadamente brega e berrante.
Não à toa, devido a essa verve passional é o
amor e as ramificações de seus extremos, o grande tema de sua filmografia –como
atestam os estilosos “O Amor Está No Ar” e “Romeu + Julietta” –e isso não
poderia ser diferente naquele que é tido como seu maior trabalho, a tentativa
contundente e caleidoscópica de modernizar o gênero musical chamada “Moulin
Rouge”.
Antes de mais nada uma história de amor,
“Moulin Rouge” é reverência de Baz Luhrmann à uma gênero –o musical –que sempre
interferiu profundamente nas inclinações artísticas de todas as suas obras,
mais ou menos como é o faroeste “Django Livre” para os títulos anteriores de
Quentin Tarantino: O reconhecimento inevitável à uma influência evidente.
E a música, da forma como ele foi concebido,
define “Moulin Rouge”.
A história que ele conta –se é que os detalhes
mais específicos importam, mesmo àqueles que amam o filme –envolve o amor do
pobre escritor Christian (Ewan McGregor, provando-se hábil e versátil) pela
linda cortesã Satine (Nicole Kidman, um furacão em cena).
Como manda o figurino de tragédias românticas
(às quais a trama busca irmanar-se), as circunstâncias depõem a favor do
tormento do casal (e a química entre McGregor e Nicole funciona, realmente, às
mil maravilhas): Eles são impedidos de seu amor já que Satine é o objeto de
desejo do Duque de Monroth (Richard Roxburgh), o grande financiador de todo o
clube parisiense onde ela é a estrela –e onde Christian ganha seu suado
sustento escrevendo as peças que serão encenadas.
Para ficar próximo de Satine, Christian escreve
a peça “Espetacular, Espetacular” que será encenada por toda a trupe de
coadjuvantes solícitos que cercam os protagonistas, e que, não raro, se
convertem em cupidos imperfeitos de seu amor, como o anão histriônico (e esta é
uma palavra que se aplica em muitos casos do elenco) e fanfarrão vivido por
John Leguizano, ou o mestre de cerimônias explosivo e selvagem interpretado por
Jim Broadbent.
Para fazer toda essa premissa funcionar e
avançar: Música.
Uma sacada inusitada à época, contudo, foi que
Baz Luhrmann não recorreu à canções compostas especialmente para o filme, como
aconteceria em qualquer outro caso.
“Moulin Rouge”, ao invés disso, pega o
expectador de surpresa inserindo em encenações detalhadamente vitorianas,
arranjos de músicas muito pertencentes ao século XX, como “Diamonds Dog”, “Like
A Virgin”, “Nature Boy”, “Come What May”, “Lady Marmalade” e outras.
Se para muitos, esse
recurso, empregado com o excesso de pompa e circunstância típico de Luhrmann,
molda uma obra das mais arrebatadoras e emocionantes, para outros, o trabalho
de Luhrmann passa da medida em diversos momentos, soando quase insuportável. É
uma característica do diretor desde que ele começou a compor sua filmografia, e
que ele aprimorou em termos técnicos e aprofundou em termos estéticos,
dramaticamente, contudo, essa veia romântica algo histérica encontra
resistência de boa parte da platéia.
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