Após uma década inteira na qual explorou uma
infinidade de gêneros e estilos, sempre evitando o cinema mainstream e
conformista com projetos diferenciados como “O Inventor de Ilusões” ou “Schizopolis”,
o diretor Steve Sodenbergh chegou num ponto da carreira em que tinha plena
autonomia criativa e respaldo profissional para encarar uma obra com as
exigências de “Traffic” que adaptava, num roteiro sucinto e pontual de Stephen
Gagham, uma elogiada minissérie inglesa para o cinema.
É o épico de Sodenbergh sobre a guerra contra
as drogas, mas, como é inerente ao seu cinema, nele as cenas de embate entre
policiais e criminosos perdem toda a importância –são as imbricações pessoais
de personagens direta ou indiretamente envolvidos na questão aquilo que de fato
desperta a atenção do diretor.
Tratam-se de três tramas paralelas que expõem
as complexas mazelas dessa guerra na fronteira entre o México e os EUA. Na
primeira, um policial mexicano (Benicio Del Toro, no papel que lhe deu um
merecido Oscar de Melhor Ator Coadjuvante; embora muitos afirmem, com certa
razão, que ele é o ator principal do filme) busca manter seus princípios
enquanto trabalha na fronteira, onde o tráfico e os cartéis –que lutam uns
contra os outros –compram o auxílio da própria polícia.
Na segunda, um juiz da suprema corte (Michael
Douglas) é nomeado o "novo czar das drogas", com a intenção de sanar
o problema enfrentado nos EUA, mas não percebe que a própria filha (Erika
Christensen) é viciada.
Na terceira, uma jovem grávida (Catherine
Zeta-Jones) descobre que o marido é um barão das drogas no mesmo dia em que ele
é preso e se vê obrigada a assumir os negócios da família.
Para distinguir cada uma
dessas tramas –magnificamente encilhadas umas às outras pela primorosa montagem
premiada com o Oscar –o diretor usa de um filtro que enfatiza três cores
específicas para cada núcleo: A aridez do amarelo na primeira história, o azul
formal dos escritórios em Washington, da segunda, e a normalidade cromática das
ruas na terceira.
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