Esta animação de Makoto Shinkai (adaptado de
seu próprio romance o quê garante fidelidade absoluta ao enredo literário) tem
a honraria de ser a maior bilheteria para um anime na história do Japão
–superando o recorde anterior do maravilhoso “A Viagem de Chihiro”, de
Miyazaki.
E ele faz jus a esse feito.
Apesar da técnica narrativa proporcionar ao
filme uma riqueza visual com a qual somente outras grandes obras da animação
japonesa são mesmo capazes de rivalizar, “Your Name” se ampara essencialmente
em sua trama e nas complexidades que vão se somando a medida que se descortina
a inusitada situação da menina Mitsuha. Ao que tudo indica, após a passagem de
um cometa, ela passa a acordar, dia sim, dia não, no corpo de um rapaz, Taki,
morador da cidade de Tóquio. Mitsuha, por sua vez, mora em Itomori, um povoado
rural no interior. Suas mentes se revezam em seus corpos por razões que eles
não compreendem, e que tardam até mesmo a reconhecer –durante alguns dias,
Mitsuha chega a achar que tudo aquilo é um sonho absurdamente real. E, como nos
sonhos, as memórias do que fizeram no corpo alheio se esvai; daí a razão para
nenhum dos dois, mesmo após começarem a se apaixonar, não guardarem muito bem o
nome, o número do telefone ou maiores informações um do outro.
A primeira parte do filme, ainda que demore a
ter suas peças devidamente encaixadas, transcorre divertida, graciosa e
espirituosa ao registrar as situações que surgem com a troca de corpos –o
assombro da interiorana Mitsuha ao ver a metropolitana Tóquio pela primeira
vez; a lubricidade de Taki ao acordar em certas manhãs num belo corpo de
menina-mulher; as atitudes imprevisíveis que um descobre que o outro tomou no
dia seguinte; os recados, e os meios encontrados para deixá-los, avisando ao
outro das coisas que se passaram –isso tudo irmana “Your Name” a uma série de
outros filmes que usam essa premissa básica, como “Sexta-Feira Muito Louca”,
“Eu Queria Ter A Sua Vida” e até mesmo o nacional “Se Eu Fosse Você”.
É em seu segundo terço, contudo, que “Your Name”
vai um passo além de todos eles: Quando já embriagados por uma vontade genuína
de se conhecerem –intenção pela qual a narrativa é imensamente bem sucedida em
levar o expectador a torcer –o estranho efeito mágico de troca de corpos
simplesmente desaparece.
A angústia que toma Taki, por exemplo, é muito
grande, pois sabemos que as memórias de quando ele assumiu o corpo de Mitsuha
–e de tudo o que descobriu com ela –irão desvanecer; antes que aconteça, ele
precisa reunir os fragmentos cada vez mais nebulosos para tentar encontrá-la. E
o emprego dado pela condução de Shinkai (autor também do magistral e devastador
“Cinco Centímetros Por Segundo”) aos detalhes elípticos do que pode estar
ocorrendo com Taki ou com Mitsuha quando as cenas de um deixam de ser reveladas
paralelamente às do outro é um artifício que “Your Name” usa de forma
magnífica.
E então o filme adentra sua terceira e última
parte com uma reviravolta imprevista que altera o filme e o lança num rumo
ainda mais aflitivo e inesperado –e cabe aqui dizer que revelar qualquer
detalhe a esse respeito (ou mesmo procurar algo sobre isso na internet) é
pecaminoso: O espantoso de muitos desenlaces é um dos grandes trunfos deste
filme.
Lindamente contado, de um
visual arrebatador como poucos que se vê nas telas e absolutamente emocionante,
mesmo diante das características mais complexas de seu enredo (ou, às vezes,
até por causa delas), “Your Name” é de uma qualidade cinematográfica tamanha
que é de se perguntar porque diabos ele não figura entre os indicados ao Oscar
de Melhor Longa de Animação –prêmio que ele teria total merecimento para
ganhar.
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