sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Foxy Brown

Em meados da década de 1970, com a blaxploitation indo de vento em popa, e o sucesso do ótimo “Coffy”, estrelado pela sensacional Pam Grier e dirigido por Jack Hill, logo se ventilou a possibilidade de uma continuação. A idéia e o roteiro até foram planejados, mas o estúdio, por alguma razão, julgou que seria melhor criar uma personagem nova.
Assim surgiu Foxy Brown que, décadas depois, foi a influência principal para Quentin Tarantino fazer o filme “Jackie Brown”, contando com a mesma Pam Grier como protagonista.
As semelhanças entre “Foxy Brown” e “Coffy” são imensas.
A começar pela trama de vingança que, no contexto de uma continuação, iria remeter ao filme anterior como uma espécie de retomada da mesma premissa, mas que, do modo como está aqui, impõe uma similaridade que pode incomodar alguns puristas.
Isso se reforça, claro, pelo fato de Pam Grier interpretar a personagem principal em ambos os filmes, contudo, não deve haver quem reclame: Há tanto carisma na atuação de Pam Grier, tanta sensualidade vulcânica, e tanta presença cativante de cena que ela facilmente se torna a grande razão de ser de “Foxy Brown” –sem Pam Grier, este filme e “Coffy” não seriam sequer uma sombra daquilo que são.
Se por um lado, a linda Foxy tem um irmão, Link (Antonio Fargas), enrolado até o pescoço com traficantes de cocaína, por outro, ela tem um namorado, Dalton Ford (Terry Carter), que está diretamente envolvido com o combate ao tráfico promovido pela polícia federal: Tamanha é a importância de seu depoimento no julgamento de traficantes nova-iorquinos que foi-lhe providenciada uma cirurgia plástica que modificasse o rosto e uma nova identidade, Michael Anderson.
As coincidências, porém, não escapam à atenção de Link –ele foi morar com Foxy devido à perseguição de traficantes que lhe querem cobrar uma dívida –que soma dois mais dois e deduz que Michael é Dalton Ford. Tolo e ansioso para voltar aos seus negócios, Link negocia a informação fazendo com que o namorado de Foxy termine morto num atentado.
Agora ela –que já manuseava uma arma muito bem –irá vingar-se dos traficantes responsáveis pela tragédia, em especial, uma certa Madame Wall (Kathryn Loder) e seu protegido e amante Steve (Peter Brown), ambos responsáveis por um esquema de prostituição que leva membros do júri e juízes a serem subornados em troca de ‘favores da carne’ para que inocentem os traficantes levados à julgamento.
Disfarçada como uma das prostitutas –e, com sua beleza e gostosura, logo destacando-se em meio a elas –Foxy trata de minar o funcionamento e a eficiência do esquema, mas não tarda a partir para o olho-por-olho de fato: Quando é descoberta e levada para morrer numa cabana com dois velhos bizarros que a drogam e a estupram (!), ela mata seus captores, incendeia o lugar e, aliada a uma milícia armada que expulsa pessoalmente os criminosos de sua vizinhança, vai atrás de Steve e Madame Wall a fim de fazê-los sofrer.
Na comparação com o formidável “Coffy”, este “Foxy Brown” se revela ainda mais contundente nas suas inclinações ao vigilantismo (a justiça com as próprias mãos) praticado pela heroína. Como forma de embasar suas ações, o roteiro exagera nos desenlaces trágicos flertando com o absurdo, mas a condução de Jack Hill, ciente dos elementos vibrantes que compunham o ácido cinema comercial à margem do sistema nos anos 1970, agrega uma percepção da ação e da história que envolve qualquer expectador, mesmo aquele que não embarcar sem ressalvas em seus excessos.

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