sexta-feira, 2 de março de 2018

Nascido Em 4 de Julho

Certamente foi um largo passo em direção ao respeito como intérprete que Tom Cruise deu, no fim dos anos 1980, ao estrelar este contundente trabalho do diretor Oliver Stone.
Se antes ele era visto, sobretudo, como o astro juvenil de sucessos como “Top Gun” –apesar de já ter trabalho com Scorsese em “A Cor do Dinheiro” e de marcar presença no filme que havia conquistado o Oscar no ano anterior, 1988, “Rain Man” –havia ainda certa resistência ao reconhecimento do talento de Cruise, o quê se sabe, com o tempo se traduz em uma gradativa redução das oportunidades. A chance para dar um novo e significativo passo em sua carreira, portanto, surgiu aqui e ele a agarrou com unhas e dentes: No papel de Ron Kovic, jovem estudante norte-americano, movido por inflamados ideais políticos que descobrirá, na tragédia incontornável da guerra do Vietnam, uma trajetória dolorosa e poderosa, radicalmente diferente daquela que ele imaginou para si, Cruise está, de fato, extraordinário.
Durante os anos 1960, ainda um rapaz, Ron Kovic alista-se para lutar na guerra do Vietnam. Durante o período em que passa no conflito ele é baleado, e o tiro (que lhe rompe a coluna) o deixa paralítico. Após uma traumática recuperação num hospital militar ele retorna para os EUA e para o convívio com a família, totalmente devastado pelos horrores da guerra. Com o passar dos anos ele muda sua mentalidade política passando a aceitar um pensamento liberal enquanto tem graves atritos familiares.
Visto de maneira redundante como mais uma tentativa do diretor Oliver Stone de exorcizar a guerra do Vietnam, e por isso, uma espécie de ‘continuação espiritual’ de “Platoon” (nesse sentido, esses dois filmes compõem, junto com “Entre O Céu e A Terra”, de 1994, uma Trilogia de Oliver Stone sobre o Vietnam), “Nascido Em 4 de Julho” é sim um avanço ainda mais contundente nas noções de dramaturgia do diretor –que já se revelava afiado na junção de um tom documental e uma concepção dramática em suas obras anteriores –contando a dramática trajetória real do ex-combatente Ron Kovic, munido de imprescindível vigor; contundência pela qual ele foi premiado, em 1989, com o Oscar de Melhor Diretor (“Nascido...” levou também o prêmio de Melhor Montagem).
Talvez por compreender esse diálogo temático dentro de sua própria filmografia, Stone conta, neste filme, com participações tanto de Willem Dafoe, quanto de Tom Berenger (os personagens que polarizavam “Platoon”) em presenças de efeito muito similar.
Mas, é o desempenho visceral de Tom Cruise, em especial, nas cenas em que seu personagem aos poucos constata sua paralisia definitiva, que faz deste drama incômodo e angustiante uma experiência poderosa.

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