Certamente foi um largo passo em direção ao
respeito como intérprete que Tom Cruise deu, no fim dos anos 1980, ao estrelar
este contundente trabalho do diretor Oliver Stone.
Se antes ele era visto, sobretudo, como o astro
juvenil de sucessos como “Top Gun” –apesar de já ter trabalho com Scorsese em
“A Cor do Dinheiro” e de marcar presença no filme que havia conquistado o Oscar
no ano anterior, 1988, “Rain Man” –havia ainda certa resistência ao
reconhecimento do talento de Cruise, o quê se sabe, com o tempo se traduz em
uma gradativa redução das oportunidades. A chance para dar um novo e
significativo passo em sua carreira, portanto, surgiu aqui e ele a agarrou com
unhas e dentes: No papel de Ron Kovic, jovem estudante norte-americano, movido
por inflamados ideais políticos que descobrirá, na tragédia incontornável da
guerra do Vietnam, uma trajetória dolorosa e poderosa, radicalmente diferente
daquela que ele imaginou para si, Cruise está, de fato, extraordinário.
Durante os anos 1960, ainda um rapaz, Ron Kovic
alista-se para lutar na guerra do Vietnam. Durante o período em que passa no
conflito ele é baleado, e o tiro (que lhe rompe a coluna) o deixa paralítico.
Após uma traumática recuperação num hospital militar ele retorna para os EUA e
para o convívio com a família, totalmente devastado pelos horrores da guerra.
Com o passar dos anos ele muda sua mentalidade política passando a aceitar um
pensamento liberal enquanto tem graves atritos familiares.
Visto de maneira redundante como mais uma
tentativa do diretor Oliver Stone de exorcizar a guerra do Vietnam, e por isso,
uma espécie de ‘continuação espiritual’ de “Platoon” (nesse sentido, esses dois
filmes compõem, junto com “Entre O Céu e A Terra”, de 1994, uma Trilogia de
Oliver Stone sobre o Vietnam), “Nascido Em 4 de Julho” é sim um avanço ainda
mais contundente nas noções de dramaturgia do diretor –que já se revelava
afiado na junção de um tom documental e uma concepção dramática em suas obras
anteriores –contando a dramática trajetória real do ex-combatente Ron Kovic,
munido de imprescindível vigor; contundência pela qual ele foi premiado, em
1989, com o Oscar de Melhor Diretor (“Nascido...” levou também o prêmio de
Melhor Montagem).
Talvez por compreender esse diálogo temático
dentro de sua própria filmografia, Stone conta, neste filme, com participações
tanto de Willem Dafoe, quanto de Tom Berenger (os personagens que polarizavam
“Platoon”) em presenças de efeito muito similar.
Mas, é o desempenho
visceral de Tom Cruise, em especial, nas cenas em que seu personagem aos poucos
constata sua paralisia definitiva, que faz deste drama incômodo e angustiante
uma experiência poderosa.
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