Hoje, pode parecer inacreditável, mas, o
mega-astro Sylvester Stallone penou para emplacar seu nome entre as grandes
estrelas de Hollywood, e isso só foi possível porque ele escreveu pessoalmente
o roteiro que lhe proporcionou essa chance.
A idéia de um boxeador humilde –medíocre até
–enfrentando um concorrente maior, mais forte, mais preparado e com todos os
recursos a sua disposição cativou o imaginário de Stallone que, impulsionado
pela amplitude dramática dessa premissa escreveu “Rocky”.
O diretor John G. Avildsen, escolhido para
comandar esse projeto modesto, embora tenha ganhado o Oscar de Melhor Diretor
não fez nada mais relevante além de “Karatê Kid”, nos anos 1980.
Rocky Balboa é um cara truculento e
inexpressivo que trabalha como capanga dos gangsteres locais da Philadelphia –e
é difícil dizer se foi uma coincidência feliz ou um golpe de gênio, mas o
despreparo dramático de Stallone (então com pouca experiência em atuação de
verdade) confere ao personagem um ar de resiliência reprimida que por vezes o
torna comovente.
Apesar de tudo, Rocky almeja algo mais. Ele
deseja, por exemplo, o coração da jovem Adrian (Tália Shire, irmã de Francis
Ford Coppola), que ele conheceu numa loja de animais.
E, acima de tudo, ele deseja ascender no boxe,
onde trava sucessivas lutas e treina obstinadamente sem parar.
A chance de Rocky vem na forma de uma faca de
dois gumes: Ele é escolhido, na qualidade de perdedor certo, para enfrentar o
campeão dos pesos-pesados, o ostensivo Apollo Creed (Carl Weathers), numa luta
que não passa de uma jogada promocional –um evento para reafirmar a
popularidade do campeão onde o adversário em questão não importa em nada.
A despeito dos conselhos evasivos e pessimistas
que recebe a todo o momento, Rocky quer enxergar nessa luta a oportunidade de
mostrar quem ele é. Sua dignidade humana.
Há, portanto, aí nesse enredo de simplicidade
cabal e certeira uma metáfora que talvez não estivesse nem nos planos iniciais
de seus realizadores: Quando foi lançado nos cinemas, “Rocky” levava uma
mensagem cuja aplicação e alegoria encaixava perfeitamente com sub-consciente
derrotado e desanimado da sociedade americana do período, amargurada com a derrota
no Vietnam, com os escândalos de Watergate e a renúncia de Nixon.
A figura de Rocky, o americano classe
média-baixa que, desacreditado, desafia o pessimismo e toda a sorte de
injustiças contra si, para provar a força de seu sonho e obter o respeito e o
reconhecimento era o filme perfeito, na hora e no lugar certo.
Pode não ter sido sequer o melhor filme
concorrente ao Oscar daquele ano (que ele venceu!) –muitos críticos afirmam que
o vencedor por merecimento deveria ter sido o memorável “Rede de Intrigas” –e
suas continuações (que incluem cinco seqüências e dois derivados!), algumas de
qualidade bastante discutível, acabaram banalizando o valor deste filme
inicial.
É, entretanto, indiscutível o poder emocional
que toda a angustiante e eletrizante luta final, montada e dirigida com
resfolegante sagacidade, consegue exercer sobre o expectador.
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