terça-feira, 29 de maio de 2018

Rocky - Um Lutador


Hoje, pode parecer inacreditável, mas, o mega-astro Sylvester Stallone penou para emplacar seu nome entre as grandes estrelas de Hollywood, e isso só foi possível porque ele escreveu pessoalmente o roteiro que lhe proporcionou essa chance.
A idéia de um boxeador humilde –medíocre até –enfrentando um concorrente maior, mais forte, mais preparado e com todos os recursos a sua disposição cativou o imaginário de Stallone que, impulsionado pela amplitude dramática dessa premissa escreveu “Rocky”.
O diretor John G. Avildsen, escolhido para comandar esse projeto modesto, embora tenha ganhado o Oscar de Melhor Diretor não fez nada mais relevante além de “Karatê Kid”, nos anos 1980.
Rocky Balboa é um cara truculento e inexpressivo que trabalha como capanga dos gangsteres locais da Philadelphia –e é difícil dizer se foi uma coincidência feliz ou um golpe de gênio, mas o despreparo dramático de Stallone (então com pouca experiência em atuação de verdade) confere ao personagem um ar de resiliência reprimida que por vezes o torna comovente.
Apesar de tudo, Rocky almeja algo mais. Ele deseja, por exemplo, o coração da jovem Adrian (Tália Shire, irmã de Francis Ford Coppola), que ele conheceu numa loja de animais.
E, acima de tudo, ele deseja ascender no boxe, onde trava sucessivas lutas e treina obstinadamente sem parar.
A chance de Rocky vem na forma de uma faca de dois gumes: Ele é escolhido, na qualidade de perdedor certo, para enfrentar o campeão dos pesos-pesados, o ostensivo Apollo Creed (Carl Weathers), numa luta que não passa de uma jogada promocional –um evento para reafirmar a popularidade do campeão onde o adversário em questão não importa em nada.
A despeito dos conselhos evasivos e pessimistas que recebe a todo o momento, Rocky quer enxergar nessa luta a oportunidade de mostrar quem ele é. Sua dignidade humana.
Há, portanto, aí nesse enredo de simplicidade cabal e certeira uma metáfora que talvez não estivesse nem nos planos iniciais de seus realizadores: Quando foi lançado nos cinemas, “Rocky” levava uma mensagem cuja aplicação e alegoria encaixava perfeitamente com sub-consciente derrotado e desanimado da sociedade americana do período, amargurada com a derrota no Vietnam, com os escândalos de Watergate e a renúncia de Nixon.
A figura de Rocky, o americano classe média-baixa que, desacreditado, desafia o pessimismo e toda a sorte de injustiças contra si, para provar a força de seu sonho e obter o respeito e o reconhecimento era o filme perfeito, na hora e no lugar certo.
Pode não ter sido sequer o melhor filme concorrente ao Oscar daquele ano (que ele venceu!) –muitos críticos afirmam que o vencedor por merecimento deveria ter sido o memorável “Rede de Intrigas” –e suas continuações (que incluem cinco seqüências e dois derivados!), algumas de qualidade bastante discutível, acabaram banalizando o valor deste filme inicial.
É, entretanto, indiscutível o poder emocional que toda a angustiante e eletrizante luta final, montada e dirigida com resfolegante sagacidade, consegue exercer sobre o expectador.

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