Aliando uma bem compreendida lição do mestre
Alfred Hitchcock com um senso de observação tão doentio quanto perspicaz sobre
a dicotomia dos relacionamentos –ou do que cada indivíduo presume ser um
relacionamento –este notável, enxuto e objetivo conto de suspense consegue ser
um entretenimento perturbador e intrigante na forma corajosa com que dispõe os
elementos típicos de seu roteiro.
Porteiro de um prédio residencial argentino,
César (Luis Tosar, um autêntico ‘Norman Bates latino’) mantém uma fachada
inofensiva enquanto esconde uma terrível psicose: Sua obsessão pela bela
moradora do apartamento 5° B (Marta Etura), o leva, toda noite, a drogá-la para
que possa dormir com ela sem que a própria perceba (!).
Seu sinistro arranjo dá certo, até a hora em
que pequenos detalhes começam a denunciá-lo: O novo namorado dela (mais
desconfiado do que seria o normal); uma improvável testemunha ocular infantil
(e dotada de toda a petulância ácida de algumas crianças); e até mesmo o
relaxamento gradual do próprio César.
Neste suspense argentino com a habitual
qualidade de execução e texto que o cinema de lá costuma oferecer, o grande
mérito de sua magistral narrativa é o desenvolvimento de uma atmosfera capaz de
absorver todo o interesse do expectador em meio à todo o seu confinado espaço e
durante o enxutíssimo tempo de sua duração –o quê configura, nos minutos
alarmantes em que a história transcorre, uma insuspeita aula de cinema.
Tal feito se deve à técnica adequadamente
hitchcockiana do diretor Jaume Balagueró (incluindo aí uma sintomática simpatia
pelo psicopata manifestada em diversas cenas magistrais), e ao bom desempenho
do casal central, Luis Tosar e Marta Etura –cuja química deixa transparecer o
relacionamento verdadeiro que eles têm na vida real.
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