Certamente haviam territórios ainda
inexplorados do gênero de terror nos anos 1980, daí este filme dirigido por
John Landis, feito com uma apurada mescla de terror e comédia (a especialidade
dele), ser assim tão marcante até os dias de hoje.
Girando em torno do mito do licantropo que
tantos interessantes filmes rendeu –e que, de alguma forma, sempre habitou, ao
lado do vampirismo, o subconsciente coletivo do público referente ao medo –o
filme de Landis começa com dois jovens mochileiros americanos perambulando por
algumas aldeias da Inglaterra, David (David Naughton), o protagonista e seu
amigo Jack (Griffin Dune, de “Depois de Horas”, de Scorsese). Simpáticos, eles
chegam a uma taverna cheia de aldeões mal-humorados, mas, conquistam a afeição
dos moradores o suficiente para serem alertados de um perigo que ronda as
noites de lua cheia. Julgando aquilo uma mera superstição, os dois seguem
viagem noite adentro e são atacados por uma espécie de fera que trucida Jack e
deixa David muito machucado.
Enviado para o Hospital Geral em Londres, ele
recupera-se e, nesse meio tempo, até mesmo inicia um envolvimento com sua bela
enfermeira Alex (Jenny Agutter, maravilhosa).
O calvário de David, no entanto, está apenas
por começar: A partir de agora, nas noites de lua cheia, ele sofrerá uma
metamorfose acarretada pelo ataque –se tornará um lobisomem; e a seqüência de
transformação, capturada em detalhes minuciosos e primorosamente técnicos, é um
trabalho virtuosístico que nenhum filme de terror antes dele foi capaz de
engendrar. Antes, que fique bem claro: Numa dessas coincidências irônicas que
afligem as produções comerciais, foi lançado, naquele mesmo ano, “Grito de
Horror”, de Joe Dante, que igualmente trazia lobisomens em seu tema e uma cena
de transformação também com pretensões de ser uma referência técnica no gênero.
“Um Lobisomem Americano Em Londres” se
sobressai pela qualidade técnica bastante impecável que ostenta ao longo de
todo o filme –também as aparições do amigo Jack para o protagonista, depois de
morto com o rosto dilacerado, são exemplos notáveis de seu alto critério
estético. O único porém, mais facilmente verificável nos dias de hoje do que na
época em que foi lançado, é justamente a insistência do diretor Landis em
inserir passagens cômicas (algo possivelmente inerente à sua personalidade) que
se alternam com a sinistra e dramaticamente contundente circunstância do
personagem principal. Por mais que cenas como aquela em que David, na manhã
seguinte após sua primeira transformação em lobisomem, usa balões para encobrir
sua nudez quando acorda em pleno parque, sejam lembradas como memoráveis pelo
público, o resultado final do filme teria sido muito mais antológico se ele
apresentasse uma inclinação mais firme e convicta na direção do terror de fato,
do que sendo um filme oscilante que de uma cena macabra salta prontamente para
um momento engraçadinho.
O mestre Alfred Hitchcock
sempre provou –com ocasionais momentos de humor em seus trabalhos –que as
intervenções cômicas devem ser econômicas e homeopáticas para que a platéia
possa extravasar seu nervosismo, em meio a obras sempre poderosas em sua
capacidade de afligir e amedrontar.
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