terça-feira, 6 de novembro de 2018

Westworld - Onde Ninguém Tem Alma


Embora hoje a série da HBO seja bem mais conhecida (e mais bem sucedida), o conceito que a norteia se originou mesmo neste obscuro suspense de ficção científica realizado nos anos 1970, que imaginava –com um anacronismo característico das produções do período –um local onde a alta tecnologia proporcionava uma imersão radical num ambiente específico.
Num prólogo desnecessariamente longo e talvez deliberadamente artificial, assistimos à uma propaganda de Delos, um resort que promete uma aventura sem precedentes: Nele, os visitantes podem escolher por três mundos distintos, o Mundo Medieval, o Mundo Romano e o Westworld (que simula o Velho Oeste). Lá, vigiados por um sistema da mais alta tecnologia, os visitantes podem experimentar a sensação real de se viver por alguns dias a experiência de se estar naquele período histórico, cercados por robôs avançados que fazem as vezes de moradores originais daquele mundo –e que replicam com perfeição as características humanas.
Os amigos John (James Brolin, pai de Josh Brolin e um dos maridos de Barbra Streisand) e Peter (Richard Benjamin) são dois desses visitantes. O primeiro é um frequentador assíduo do Westworld, o segundo, em vias de se divorciar, deseja se divertir junto do amigo.
Pela atuação dos dois atores, pelo carisma de ambos e até pelos aspectos de seus personagens, somos levados a crer que o protagonista seja John, no entanto, não é isso que acontece: Quando as máquinas, sem motivos mais aparentes, começam a dar defeitos e a se voltar contra os poucos humanos presentes no local (algo que nem é tão aproveitado assim, talvez, em função do orçamento reduzido), eles começam a ser perseguidos por um pistoleiro valentão –um androide programado para ser um antagonista constantemente chato durante a estadia –(interpretado, por sua vez, pelo astro Yul Brinner, antecipando o quê Arnold Schwarzenegger faria anos depois em “Exterminador do Futuro”), e é John quem não tarda a ser morto e sair de cena, colocando o errático e hesitante Peter como personagem principal –uma das muitas escolhas equivocadas de um filme que poderia ter rendido muito mais.
Embora tenha uma premissa promissora e curiosa, o filme não consegue corresponder à própria expectativa, e esse lapso possivelmente diz respeito ao fato de Michael Crichton (autor de “Jurassic Park”) ter insistido em acumular as funções de roteirista e diretor.
No que diz respeito à trama, ele simplifica demais os elementos que a cercam e a definem –nunca dá uma explicação satisfatória ao pane que leva às máquinas à rebelião, por exemplo –e termina se satisfazendo, ao final, com uma perseguição pouco empolgante por corredores vazios e escuros.
No que diz respeito à condução, ele comete inúmeros erros de um diretor visivelmente sem experiência, por meio dos quais deixa seu elenco abandonado sem uma liderança que traga convicção às atuações (isso se reflete até mesmo no experiente Yul Brinner), desperdiça fatores funcionais de suspense (o duelo final chega com protagonista e antagonista destituídos de armas, e portanto, de alguma ameaça um para o outro) e demonstra uma grande preguiça em oferecer ao expectador maiores informações sobre o enredo.
De um modo geral, “Westworld” representa mais uma promessa do que a concretização de um bom filme de fato, embora a fama de Yul Brinner tenha conseguido resgatar esta obra da obscuridade ao longo das décadas de 1980 e 90, durante as transposições dos filmes antigos para outras mídias como o VHS e o DVD.

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