quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A Saga Exterminador do Futuro

O Exterminador do Futuro
Foi com este projeto que James Cameron saiu no início da década de 1980 do gueto precário e restritivo dos filmes de baixo orçamento –onde Roger Corman ainda reinava –e foi direto para as mega-produções que, nas décadas que se seguiram, ele próprio ajudou a definir.
Como trata-se da revelação do grande diretor James Cameron, ele consequentemente trabalha aqui com um orçamento muito mais barato do que aqueles com os quais ele se acostumaria. Vale lembrar que este filme também lançou o ator Arnold Schwarznegger, perfeito no papel de andróide do futuro.
Curioso notar que, mesmo em seus primórdios como realizador, Cameron manteve um estilo e uma estrutura artística que se revelam coesos em toda sua filmografia.
Em “Exterminador do Futuro”, ele vislumbra um mundo em larga escala, mais por meio da sugestão que do fato, suas inquietações, no entanto, estão todas lá: A via de mão dupla que representa a tecnologia; a mulher assumindo um papel proeminente no processo de sobrevivência; e um certo ciclo, tão lógico quanto inclemente, a impor um destino específico aos personagens.
Bem mais marcante que o herói perplexo e oscilante vivido por Michael Bein é, de fato, o andróide vindo do futuro, e com aparência humana, personificado de maneira memorável por Schwarzenegger –a sua compleição física truculenta, seu porte avantajado e sólido, sua fisionomia de traços fortes e quadrados, além da inflexão na voz (que ele sempre atribuiu ao sotaque austríaco) deram a ele uma forte e diferenciada presença de cena.
Denominado T-800, ele aparece em plena Los Angeles do ano de 1984 para dar cabo de uma jovem específica: Sarah Connor (Linda Hamilton, que depois casou-se com o diretor) futuramente será a mãe do homem predestinado a ser o líder dos humanos numa guerra apocalíptica contra as máquinas. No futuro de onde vem o T-800, tal guerra já se encontra praticamente ganha pela humanidade –daí o envio do T-800 ao passado representa assim o último recurso das máquinas para obter vitória. Para proteger Sarah, vem também do futuro, um jovem soldado humano, Kyle Reese (Michael Bein), oficial da mais extrema confiança de John Connor, o filho salvador que ela terá –e o nome desse personagem (que aqui nunca aparece) não só leva as sugestivas iniciais de Jesus Cristo, como também as do próprio James Cameron.
O embate entre o andróide assassino e o humano enviado para detê-lo é também a batalha que, por assim dizer, definirá o conflito.
Não é só em suas habilidosas cenas de ação que este cultuado filme dos anos 1980 se mostra um produto desigual: Ele o faz também com elementos de forte apelo mítico em sua premissa originalíssima para o então emergente cinema de ação; o lance mais notável talvez seja o enlace que confere simetria ao melindroso enredo de viagem no tempo –Kyle Reese, descobrimos, acaba sendo o próprio pai de John Connor, ao engravidar Sarah numa breve noite de amor antes do embate final com o andróide.
Esse peculiar detalhe acerca da inevitabilidade das trajetórias e tragédias humanas acrescenta um valor perene que eleva “Exterminador do Futuro” num outro patamar.

O Exterminador do Futuro 2-O Julgamento Final
Quando arregaçou as mangas para realizar uma continuação de seu sucesso de 1984, James Cameron já não era mais um jovem artesão tentando se provar aos olhos da indústria. Entre o primeiro e este segundo filme, ele provou que era capaz de dar continuidade em igual medida de qualidade à uma saga tida por genial, com “Aliens-O Resgate”, e ainda deu início a um hábito que se tornou freqüente, de embarcar em projetos que almejavam sucessivas inovações técnicas, com “O Segredo do Abismo”.
Em “Exterminador 2”, Cameron, portanto, tinha cacife, recursos e disposição para realizar o filme da maneira como sempre quis: Uma ficção científica de ação, onde os abalos sísmicos provocados pela alteração da viagem no tempo são tão demolidores quanto a destruição de fato que testemunhamos em cena.
A trama, passada agora no início dos anos 1990, finalmente coloca Jonh Connor em cena (bem interpretado pelo jovem Edward Furlong), e desta vez, os enviados do futuro são agora um robô avançadíssimo composto por metal líquido (da parte das máquinas), e um andróide tal e qual o do primeiro filme (desta vez, do lado dos humanos), para perseguir o agora adolescente John Connor, que no futuro –é sempre bom lembrar –será o líder dos humanos na guerra contra as máquinas.
Entretanto, o astro Schwarzenegger também já não era nenhum estreante quando deste segundo filme: Não havia muito sentido em colocar um dos mais populares astros do cinema atual como o vilão novamente, assim optou-se por uma inversão. Agora, um andróide T-800 (mesmo modelo do primeiro filme) foi programado para proteção e não para extermínio, restando ao excelente Robert Patrick, como T-1000 (notável em sua atuação gélida) a função de antagonista.
Todavia, Patrick tem um trunfo e tanto ao seu lado: Os 100 milhões de dólares em orçamento que James Cameron torrou (e que fizeram deste filme, à época, a mais cara produção da história) surgem em cenas de assombrosos efeitos especiais que reproduzem as mutações do T-1000 em um ser de metal líquido, um efeito fascinante.
James Cameron manipula com maestria os elementos que ele mesmo havia criado no primeiro filme para fazer desta seqüência um filme nunca menos que sensacional.

O Exterminador do Futuro 3-A Rebelião das Máquinas
A empresa que detinha os direitos da franquia do “Exterminador do Futuro”, a Carolco, veio à falência em algum momento dos anos 1990, levando à compra dos direitos de filmagens por outros produtores. O quê culminou, em 2003, com a realização de um terceiro filme da saga, desta vez, sem a intervenção de James Cameron, o quê deixo muitos fãs preocupados.
Contudo, a saída do diretor e criador da saga só não afetou a qualidade do filme por que ele foi substituído pelo competente Jonathan Mostow (dos ótimos “U-571-A Batalha do Atlântico” e “Break Down-Implacável Perseguição”). Hábil e visivelmente respeitoso com o material original, Mostow criou um desfecho brilhante que fechava as três produções em forma de trilogia, e apesar de contar com a ilustre (e necessária) presença de Arnold Schwarzenegger, foi sensato ao finalmente dar o protagonismo da história a John Connor (vivido com tamanho empenho por Nick Stahl que chega a deixar Edward Furlong no chinelo!): Quase dez anos depois dos eventos relatados no segundo filme, o jovem John Connor, já sem a companhia de sua mãe, Sarah, vive pelo mundo sem raízes e sem documentos que o tornem rastreável. Do futuro então, as máquinas enviam uma andróide avançadíssima –uma mescla dos inimigos dos dois filmes anteriores; um esqueleto robótico (como o T-800) revestido de metal líquido (como o T-1000) –interpretada pela bela e eficiente Kristanna Loken.
Sua missão: Exterminar jovens que serão oficiais de confiança do próprio John Connor, enquanto que a resistência envia um andróide modelo T-800 (Schwarzenegger novamente) para tentar protegê-lo.
Entretanto (e essa é, talvez, a grande sacada de gênio do roteiro deste terceiro filme), a batalha fatídica da humanidade contra as máquinas, na qual John Connor irá liderar os humanos, está próxima, muito próxima de se concretizar.

O Exterminador do Futuro-A Salvação
Ao mesmo tempo em que os direitos autorais da saga “Exterminador do Futuro” foram passando por diversos estúdios diferentes nas décadas de 1990 e 2000, a série também foi se tornando um ícone indissociável da cultura pop.
A quarta parte da série, agora sob o controle da Sony Pictures chegou aos cinemas polarizada entre esses dois extremos: De um lado, uma alteração radical das mentes e opiniões criativas no controle da produção, de outro, uma obra dona de uma legião de fãs cada vez maior e que gerava imensa expectativa em torno de sua realização –e pensar que o primeiro filme era uma obra de baixo orçamento...
Sem Schwarzenegger, que na época ainda era governador da Califórnia e não fazia mais cinema (embora tenha sido “homenageado” numa breve cena que o reproduz por computador), e sem qualquer contribuição de James Cameron (que só voltou a ter os direitos da saga em 2014 e produziu o péssimo “O Exterminador do Futuro-Gênesis”), a realização do filme foi confiada ao diretor McG (de “As Panteras”) que apressou-se em afirmar que o novo “Exterminador” não seria nada parecido com seu filme anterior.
De fato, este novo filme busca uma abordagem de ação sem firulas e sem humor, onde se nota um cuidado redobrado para preservar uma visão aproximada com a de James Cameron. O problema era que McG não via o terceiro filme com bons olhos, e deu à este quarto uma orientação que o levava a um outro rumo: A guerra contra as máquinas, incessantemente citada nos três filmes anteriores, torna-se aqui realidade. O ano é 2018 e os humanos sobrevivem como fugitivos nas cidades destruídas, perseguidos por uma infindável variedade de máquinas exterminadoras –e essa premissa da maneira como é trabalhada aproxima este quarto filme também de outro clássico dos anos 1980, o futurista e distópico “Mad Max”.
Nesse mundo desolado, alguns soldados ao redor do planeta compõem a "resistência", que visa derrotar as máquinas. Em meio a isso tudo, John Connor (Christian Bale, pouco a vontade no papel) desponta como um líder quase profético. Ele busca pelo jovem Kyle Reese (vivido pelo saudoso Anton Yelchin), consciente de que este será seu pai quando enviado para o passado.
Durante todos esses eventos, surge o misterioso Marcus Wright (Sam Worthinton, de “Avatar”, o verdadeiro herói deste filme), que guarda um desconcertante segredo e pode ser a resposta para algumas perguntas não respondidas desta saga.

Ainda que cheio de boas intenções, “A Salvação” é facilmente o filme mais problemático dentre os quatro primeiros –nem dá para comparar com a catástrofe que é “Gênesis”! –sendo que a direção de McG e sua incapacidade de dirigir atores a contento (algo que Cameron fazia muito bem) desequilibram por completo a dinâmica entre a condução da trama e as cenas de ação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário