O Exterminador do Futuro
Foi com este projeto que James Cameron saiu no
início da década de 1980 do gueto precário e restritivo dos filmes de baixo
orçamento –onde Roger Corman ainda reinava –e foi direto para as mega-produções
que, nas décadas que se seguiram, ele próprio ajudou a definir.
Como trata-se da revelação do grande diretor
James Cameron, ele consequentemente trabalha aqui com um orçamento muito mais
barato do que aqueles com os quais ele se acostumaria. Vale lembrar que este
filme também lançou o ator Arnold Schwarznegger, perfeito no papel de andróide
do futuro.
Curioso notar que, mesmo em seus primórdios
como realizador, Cameron manteve um estilo e uma estrutura artística que se
revelam coesos em toda sua filmografia.
Em “Exterminador do Futuro”, ele vislumbra um
mundo em larga escala, mais por meio da sugestão que do fato, suas inquietações,
no entanto, estão todas lá: A via de mão dupla que representa a tecnologia; a
mulher assumindo um papel proeminente no processo de sobrevivência; e um certo
ciclo, tão lógico quanto inclemente, a impor um destino específico aos
personagens.
Bem mais marcante que o herói perplexo e
oscilante vivido por Michael Bein é, de fato, o andróide vindo do futuro, e com
aparência humana, personificado de maneira memorável por Schwarzenegger –a sua
compleição física truculenta, seu porte avantajado e sólido, sua fisionomia de
traços fortes e quadrados, além da inflexão na voz (que ele sempre atribuiu ao
sotaque austríaco) deram a ele uma forte e diferenciada presença de cena.
Denominado T-800, ele aparece em plena Los
Angeles do ano de 1984 para dar cabo de uma jovem específica: Sarah Connor
(Linda Hamilton, que depois casou-se com o diretor) futuramente será a mãe do
homem predestinado a ser o líder dos humanos numa guerra apocalíptica contra as
máquinas. No futuro de onde vem o T-800, tal guerra já se encontra praticamente
ganha pela humanidade –daí o envio do T-800 ao passado representa assim o
último recurso das máquinas para obter vitória. Para proteger Sarah, vem também
do futuro, um jovem soldado humano, Kyle Reese (Michael Bein), oficial da mais
extrema confiança de John Connor, o filho salvador que ela terá –e o nome desse
personagem (que aqui nunca aparece) não só leva as sugestivas iniciais de Jesus
Cristo, como também as do próprio James Cameron.
O embate entre o andróide assassino e o humano
enviado para detê-lo é também a batalha que, por assim dizer, definirá o
conflito.
Não é só em suas habilidosas cenas de ação que
este cultuado filme dos anos 1980 se mostra um produto desigual: Ele o faz
também com elementos de forte apelo mítico em sua premissa originalíssima para
o então emergente cinema de ação; o lance mais notável talvez seja o enlace que
confere simetria ao melindroso enredo de viagem no tempo –Kyle Reese,
descobrimos, acaba sendo o próprio pai de John Connor, ao engravidar Sarah numa
breve noite de amor antes do embate final com o andróide.
Esse peculiar detalhe acerca da inevitabilidade
das trajetórias e tragédias humanas acrescenta um valor perene que eleva
“Exterminador do Futuro” num outro patamar.
O Exterminador do Futuro 2-O Julgamento Final
Quando arregaçou as mangas para realizar uma
continuação de seu sucesso de 1984, James Cameron já não era mais um jovem
artesão tentando se provar aos olhos da indústria. Entre o primeiro e este
segundo filme, ele provou que era capaz de dar continuidade em igual medida de
qualidade à uma saga tida por genial, com “Aliens-O Resgate”, e ainda deu
início a um hábito que se tornou freqüente, de embarcar em projetos que
almejavam sucessivas inovações técnicas, com “O Segredo do Abismo”.
Em “Exterminador 2”, Cameron, portanto, tinha
cacife, recursos e disposição para realizar o filme da maneira como sempre
quis: Uma ficção científica de ação, onde os abalos sísmicos provocados pela
alteração da viagem no tempo são tão demolidores quanto a destruição de fato
que testemunhamos em cena.
A trama, passada agora no início dos anos 1990,
finalmente coloca Jonh Connor em cena (bem interpretado pelo jovem Edward
Furlong), e desta vez, os enviados do futuro são agora um robô avançadíssimo
composto por metal líquido (da parte das máquinas), e um andróide tal e qual o
do primeiro filme (desta vez, do lado dos humanos), para perseguir o agora
adolescente John Connor, que no futuro –é sempre bom lembrar –será o líder dos
humanos na guerra contra as máquinas.
Entretanto, o astro Schwarzenegger também já
não era nenhum estreante quando deste segundo filme: Não havia muito sentido em
colocar um dos mais populares astros do cinema atual como o vilão novamente,
assim optou-se por uma inversão. Agora, um andróide T-800 (mesmo modelo do
primeiro filme) foi programado para proteção e não para extermínio, restando ao
excelente Robert Patrick, como T-1000 (notável em sua atuação gélida) a função
de antagonista.
Todavia, Patrick tem um trunfo e tanto ao seu
lado: Os 100 milhões de dólares em orçamento que James Cameron torrou (e que
fizeram deste filme, à época, a mais cara produção da história) surgem em cenas
de assombrosos efeitos especiais que reproduzem as mutações do T-1000 em um ser
de metal líquido, um efeito fascinante.
James Cameron manipula com maestria os
elementos que ele mesmo havia criado no primeiro filme para fazer desta seqüência
um filme nunca menos que sensacional.
O Exterminador do Futuro 3-A Rebelião das Máquinas
A empresa que detinha os direitos da franquia
do “Exterminador do Futuro”, a Carolco, veio à falência em algum momento dos
anos 1990, levando à compra dos direitos de filmagens por outros produtores. O
quê culminou, em 2003, com a realização de um terceiro filme da saga, desta
vez, sem a intervenção de James Cameron, o quê deixo muitos fãs preocupados.
Contudo, a saída do diretor e criador da saga
só não afetou a qualidade do filme por que ele foi substituído pelo competente
Jonathan Mostow (dos ótimos “U-571-A Batalha do Atlântico” e “Break
Down-Implacável Perseguição”). Hábil e visivelmente respeitoso com o material original,
Mostow criou um desfecho brilhante que fechava as três produções em forma de
trilogia, e apesar de contar com a ilustre (e necessária) presença de Arnold
Schwarzenegger, foi sensato ao finalmente dar o protagonismo da história a John
Connor (vivido com tamanho empenho por Nick Stahl que chega a deixar Edward
Furlong no chinelo!): Quase dez anos depois dos eventos relatados no segundo
filme, o jovem John Connor, já sem a companhia de sua mãe, Sarah, vive pelo
mundo sem raízes e sem documentos que o tornem rastreável. Do futuro então, as
máquinas enviam uma andróide avançadíssima –uma mescla dos inimigos dos dois
filmes anteriores; um esqueleto robótico (como o T-800) revestido de metal
líquido (como o T-1000) –interpretada pela bela e eficiente Kristanna Loken.
Sua missão: Exterminar jovens que serão
oficiais de confiança do próprio John Connor, enquanto que a resistência envia
um andróide modelo T-800 (Schwarzenegger novamente) para tentar protegê-lo.
Entretanto (e essa é, talvez, a grande sacada
de gênio do roteiro deste terceiro filme), a batalha fatídica da humanidade
contra as máquinas, na qual John Connor irá liderar os humanos, está próxima, muito
próxima de se concretizar.
O Exterminador do Futuro-A Salvação
Ao mesmo tempo em que os direitos autorais da
saga “Exterminador do Futuro” foram passando por diversos estúdios diferentes
nas décadas de 1990 e 2000, a série também foi se tornando um ícone
indissociável da cultura pop.
A quarta parte da série, agora sob o controle
da Sony Pictures chegou aos cinemas polarizada entre esses dois extremos: De um
lado, uma alteração radical das mentes e opiniões criativas no controle da
produção, de outro, uma obra dona de uma legião de fãs cada vez maior e que
gerava imensa expectativa em torno de sua realização –e pensar que o primeiro
filme era uma obra de baixo orçamento...
Sem Schwarzenegger, que na época ainda era
governador da Califórnia e não fazia mais cinema (embora tenha sido
“homenageado” numa breve cena que o reproduz por computador), e sem qualquer
contribuição de James Cameron (que só voltou a ter os direitos da saga em 2014
e produziu o péssimo “O Exterminador do Futuro-Gênesis”), a realização do filme
foi confiada ao diretor McG (de “As Panteras”) que apressou-se em afirmar que o
novo “Exterminador” não seria nada parecido com seu filme anterior.
De fato, este novo filme busca uma abordagem de
ação sem firulas e sem humor, onde se nota um cuidado redobrado para preservar
uma visão aproximada com a de James Cameron. O problema era que McG não via o
terceiro filme com bons olhos, e deu à este quarto uma orientação que o levava
a um outro rumo: A guerra contra as máquinas, incessantemente citada nos três
filmes anteriores, torna-se aqui realidade. O ano é 2018 e os humanos
sobrevivem como fugitivos nas cidades destruídas, perseguidos por uma
infindável variedade de máquinas exterminadoras –e essa premissa da maneira
como é trabalhada aproxima este quarto filme também de outro clássico dos anos
1980, o futurista e distópico “Mad Max”.
Nesse mundo desolado, alguns soldados ao redor
do planeta compõem a "resistência", que visa derrotar as máquinas. Em
meio a isso tudo, John Connor (Christian Bale, pouco a vontade no papel)
desponta como um líder quase profético. Ele busca pelo jovem Kyle Reese (vivido
pelo saudoso Anton Yelchin), consciente de que este será seu pai quando enviado
para o passado.
Durante todos esses eventos, surge o misterioso
Marcus Wright (Sam Worthinton, de “Avatar”, o verdadeiro herói deste filme),
que guarda um desconcertante segredo e pode ser a resposta para algumas
perguntas não respondidas desta saga.
Ainda que cheio de boas intenções, “A Salvação”
é facilmente o filme mais problemático dentre os quatro primeiros –nem dá para
comparar com a catástrofe que é “Gênesis”! –sendo que a direção de McG e sua
incapacidade de dirigir atores a contento (algo que Cameron fazia muito bem)
desequilibram por completo a dinâmica entre a condução da trama e as cenas de
ação.
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