terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Pantera Negra

É visto que os filmes da Marvel Studios vêem atrelados a uma narrativa que os interliga aos outros filmes do estúdio. “Pantera Negra”, por exemplo, é conectado aos acontecimentos de “Capitão América-Guerra Civil” –onde o herói, T’ Challa foi apresentado pela primeira vez –e não restam dúvidas se conectará também, por conta de inúmeros detalhes, à “Vingadores-Guerra Infinita”.
Ainda assim, tal e qual os mais hábeis artesãos que a Marvel recruta, o diretor Ryan Coogler é astuto o suficiente para fazer deste filme solo um espetáculo inteligente, instigante, envolvente e eletrizante por si só, independente das demais produções: “Pantera Negra” ombreia em qualidade e primor –assim como em temática e austeridade narrativa –a um dos melhores trabalhos do estúdio, o magnífico “Capitão América-Soldado Invernal”.
Extremamente talentoso (como ficou comprovado nos ótimos “Fruitvale Station-A Última Parada” e “Creed-Nascido Para Lutar), Coogler conta a história de seu protagonista, T’ Challa (que Chadwick Boseman interpreta com solidez e propriedade) a partir dos desdobramentos do ocorrido em “Guerra Civil”, no caso, o assassinato por atentado de seu pai T’ Chaka, o que faz dele, por sucessão, o rei de Wakanda (uma nação sul-africana evoluída, futurista e absolutamente secreta) e também seu lendário protetor, o Pantera Negra.
Para acompanhá-lo na ritualística cerimônia de coroação, T’ Challa faz questão da presença da mulher que ama, a cativante, mas nem por isso menos enérgica Nakia (vivida com carisma, vigor e encanto pela linda Lupita Nyong’o, de “12 Anos de Escravidão”), que além de tudo é uma espécie de agente secreto a serviço de Wakanda, monitorando as outras nações do mundo e tentando auxiliar os dissidentes wakanianos no processo.
O roteiro de Coogler, contudo, não se acomoda na inércia dos eventos que transcorrem com naturalidade: Já no começo, ele introduz um flashback envolvendo o rei T’ Chaka ainda em sua juventude –ele próprio como Pantera Negra –que somente a medida que a trama evolui vamos nos dando conta de seu primor.
É quando essas duas linhas narrativas se fundem (T’ Challa assumindo as funções e responsabilidades de rei; e o segredo envolvendo um erro do passado cometido por seu pai) que o filme de Coogler evoluiu do ótimo para o excelente: Eis que T’ Challa descobre que o aliado do contrabandista Ulisses Klaus (Andy Serkis, ótimo), o misterioso Killmonger (Michael B. Jordan, um vilão vibrante e espetacular), é na realidade um membro renegado de sua própria família real e, portanto, digno de desafiá-lo numa luta pelo trono de Wakanda.
Reunindo um dos mais sensacionais e bem empregados elencos da Marvel Studios –além dos atores já mencionados, “Pantera Negra” tem também Danai Gurira (da série “The Walking Dead”) como a líder das Dora Milaje, a arrojada e eficaz guarda real de Wakanda constituída de mulheres guerreiras; o grande Forest Whitaker como Sully, o curandeiro responsável pelo segredo que concebe poderes ao herói (e pivô do grande segredo do filme); a veterana Angela Basset como a rainha, mãe do herói; o britânico Martin Freeman (da trilogia “O Hobbit” e da série “Sherlock”); o indicado ao Oscar Daniel Kaluuya (por “Corra!”); e a notável Letitia Wright, como aquela que deve ser a mais divertida personagem do filme, a inventora e irmã do herói, Shuri –o filme de Coogler guarda desdobramentos radicais, surpreendentes e pertinentes em sua trama, na medida em que se beneficia do fato deste ótimo personagem não ser tão conhecido assim do grande público (o que permite ao realizador surpreender os expectadores com certos lances em sua trajetória) e entrega, na forma de um trabalho extraordinário, um dos mais perfeitos, politizados e válidos manifestos do cinema comercial em prol da diversidade: Um filme de super-herói com um elenco majoritariamente negro, e que ainda por cima é facilmente incluso entre os melhores que a Marvel já produziu

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