terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Os Assassinos Só Matam Aos Sábados

Um exemplar desigual do policial italiano, o ‘poliziottesco’, este filme realizado por Duccio Tessari ostenta uma narrativa cuja soma de suas partes agrega urgência –é, pois, este seu grande mérito e objetivo: Gerar não necessariamente um suspense, mas uma aflição existencial acerca da perspectiva de um crime não exatamente solucionado (o desaparecimento que principia a premissa se converte em morte na metade do filme), e sim devidamente punido.
A jovem de 25 anos Donatella (Gillian Bray), tem intelecto de uma criança de 3 anos e corpo de supermodelo –o que, em si, já debita considerável plausibilidade da narrativa! –e seu desaparecimento é relato por Amanzio (Raf Vallone), seu dedicado pai, a um amigo policial, Lamberti (Frank Wolff) que, indo na contramão do indiferente procedimento padrão, coloca os seus próprios serviços e os de alguns de seus colegas à disposição desse caso, agindo extraoficialmente.
Competente, o diretor Duccio Tessari conduz um trabalho que à primeira vista pode parecer uma junção de elementos em desajuste e em iminente perda da lógica –tal como no ‘giallo’, o que muitos críticos acreditam que este filme também é –mas, a união dos resíduos sonoros (por vezes, risíveis e barulhentos, seja nos ruídos, seja na trilha sonora) e das cenas que intercalam informação com protelação resulta desestabilizadora. A sucessão de frustrações nos quais desemboca as investigações infrutíferas dos policiais deixa o expectador atônito e indignado, ao mesmo tempo que Tessari é hábil em plantar impressões –mais tarde, correspondidas pelo desenvolvimento da trama –de que houveram pistas escondidas em algum lugar que os policiais e o público deixaram passar despercebidas.
Desprovido de uma recompensa moral onde o expectador se sente revigorado ante a Lei que prevalece sobre o crime, “Os Assassinos Só Matam Aos Sábados” apenas intensifica seu sabor amargo a medida que ruma em direção ao seu desfecho, deixando claro que sua opção ao realismo –algo destoante da safra geral de produções oriundas da Itália naqueles mirabolantes anos 1970 –está a favor da concepção de um mundo cruel e injusto onde os inocentes quase sempre se convertem em vítimas da vilania e da maldade.

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