Pode soar improvável afirmar isso hoje em dia,
mas durante um bom tempo, enquanto era um grande astro na China, Jackie Chan
era consideravelmente desconhecido no Ocidente.
Isso começou a mudar em 1995, depois de
“Arrebentando Em Nova York”.
Não tanto por sua realização (a rigor, ele é
similar a tantos outros exemplos da arrojada técnica dele), mas pela avidez de
seu lançamento comercial: A campanha de divulgação de “Arrebentando Em Nova
York” foi particularmente focada na distribuição ao redor do mundo –o que
incluiu a opção já inicial de ambientar a trama na famosa metrópole
norte-americana; antes disso, Jackie Chan já havia tentado emplacar em
Hollywood em 1980, com “O Grande Lutador” e em 1985, com “A Fúria do Protetor”,
dois fracassos de bilheteria.
Dono de um estilo inconfundível de luta –uma
junção orgânica e visualmente surpreendente de coreografia de luta, improviso
cênico e Le Parkour –Jackie Chan, como em todo o caso de um desempenho que
exige muito fisicamente, é tão melhor em seu resultado quanto mais jovem ele
produziu o filme. No caso deste filme, Jackie tinha 41 anos na época; pode-se
argumentar que na década de 1980 (ou seja, quando mais jovem), ele foi capaz de
proezas físicas ainda mais espetaculares (e filmes como “O Mestre Invencível”,
“Police Story” e “Operação China”, não deixam mentir), no entanto, ele estava
em seu auge –desempenho que, por incrível que pareça, ele manteria ainda por
muitos anos até começar a sossegar com filmes mais amenos –e “Arrebentando Em
Nova York” beneficia-se completamente disso: Não há como negar que as grandes
vedetes da produção são as cenas de luta e as sequências de ação e pancadaria
que além de filmadas com o traquejo natural que os estetas de Hong Kong
possuíam para cenas de ritmo acelerado (o diretor é o tarimbado Stanley Tong),
não obstante as limitações de seu orçamento, tinham no vigor físico e na
agilidade fascinante de Jackie Chan sua estrela principal.
Ele vive Keung, perito em artes marciais que
chega à Nova York para visitar um tio que se estabeleceu nos EUA há trinta anos.
O tio está de casamento marcado e, após partir para lua-de-mel, fecha a venda
de seu mercadinho para um conterrânea, Elaine (Anita Mui), a quem Keung se
prontifica de ajudar enquanto está na casa do tio.
Como o mercado se localiza no Bronx, não tardam
a aparecer gangues de desordeiros –retratados, em geral, como os marginais de
“Desejo de Matar 1, 2 e 3” –que obrigam Keung a mostrar toda sua perícia em
kung fu.
Isso, no entanto, atrai ainda mais a atenção
dos bandidos que passam a persegui-lo; eles inclusive o atraem para um beco sem
saída usando a aparentemente inocente Nancy (Françoise Yip) como isca, e quase
o matam jogando garrafas de vidro em seu corpo.
A própria Nancy se revela, mais tarde, a irmã
de Danny (Morgan Lam), um garotinho cadeirante que se tornou melhor amigo de
Keung, e com isso, ele trata de afastá-la das más companhias e iniciar assim um
romance. Entretanto, quando achamos que a premissa do filme já está
estabelecida, com o herói e seus antagonistas bem definidos, eis que um ligeiro
plot-twist se opera: Um atentado envolvendo um carro onde estava sendo feita
uma negociação de diamantes introduz um grupo de mafiosos na trama.
No tumulto, os tais diamantes são extraviados e
acabam indo parar escondidos na cadeira de rodas de Danny –e o responsável por
isso é um dos integrantes da gang que perseguia Keung.
Agora, acuados por criminosos de verdade e
muito mais perigosos que eles, o grupo de arruaceiros, liderados por Tony (o
falecido Marc Akerstream), ex-namorado de Nancy, precisa da ajuda de Keung para
sair dessa encrenca.
Divisor de águas na carreira de Jackie Chan
justamente pela forma com que repercutiu no mundo inteiro, revelando a
sagacidade singular de seu astro, “Arrebentando Em Nova York” é, acima de tudo,
um produto que cumpriu seu papel –numa avaliação mais criteriosa, passadas
décadas de seu lançamento, ele visivelmente envelheceu: Especialmente seu
roteiro, seus personagens e as relações estabelecidas entre eles são
trabalhadas de maneira tão rudimentar que ocasionalmente beira o constrangedor.
No que importa ao seu
público alvo e a todos os seus envolvidos, porém, o filme permanece certeiro:
As sequências divertidas, vertiginosas e bem elaboradas de ação que neste e em
uma sucessão de outros filmes antes e depois dele, sagraram Jackie Chan como um
verdadeiro mestre do gênero.
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