sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Caçadores de Vampiros

Versões em live-action de obras de animação japonesa não foram um conceito que surgiu com “Ghost In The Shell-Vigilante doAmanhã”, de Rupert Sanders; muitas foram as produções, algumas obscuras, que ciscaram também nesse manancial criativo –afinal, muitas obras japonesas animadas (algumas de extrema genialidade) sequer são conhecidas aqui no Ocidente,
Talvez seja partindo dessa orientação que o diretor Chris Nahon utiliza o argumento do anime “Blood-The Last Vampire” para concretizar este filme visualmente bastante próximo da fonte animada.
Inclinado ao terror sanguinário –como corajosamente é também a animação –o filme de Nahon aproveita a trama dos primeiros episódios da animação, sobretudo, na composição de algumas das cenas mais icônicas que engatilharam a trama da série, costuradas elipticamente a um breve resumo da origem da heroína.
Saya (Jun Ji-Hyun) é uma criatura a um só tempo saída do subconsciente coletivo do que define uma protagonista de animes e idealizada para personificar também uma espécie de fantasia inerente à cultura japonesa: Hábil com a espada num nível sobrehumano e, mesmo que imortal a ponto de ter séculos de idade, ela tem a frágil e bela aparência de uma adolescente –e o roteiro não economiza pretextos com a finalidade de coloca-la nas indefectíveis roupas de colegial!
No princípio dos anos 1970, Saya persegue criaturas vampirescas e demoníacas pelo mundo, auxiliada pelos recursos de uma organização denominada ‘O Conselho” –representada pelos únicos agentes que vemos, o paternal Harrison (Liam Cunningham, de “A Princesinha” e a série “Game Of Thrones”) e o dúbio e provocativo Luke (J.J. Feild).
As criaturas que ela persegue com a ajuda deles não deveriam ser chamadas impunemente de ‘vampiros’: Têm elementos mais indistintos, relacionáveis com maior facilidade ao folclore japonês que à mitologia literária e cinematográfica iniciada por Bram Stoker.
Com efeito, para ostentar poderes que a igualem a essas criaturas em batalha, Saya termina sendo também ela um híbrido de tais criaturas –lampejos de informação oferecidos por rápidos flashbacks ao longo do filme, pavimentando o caminho para o combate final onde um premeditado vínculo com o grande vilão (ou melhor, a grande vilã) acrescentará mais dramaticidade ao desfecho.
O objetivo de Saya é um dia confrontar o demônio ao qual todos os demais respondem como lacaios: O muito mencionado, mas pouco visto Onigen.
Por razões não muito claras, Saya é despachada para uma base militar norte-americana onde se disfarça em meio às tais colegiais para dar continuidade à sua incessante caçada às criaturas da noite. Onde o filme exibe suas referências históricas mais pungentes –e mesmo assim meio prolixas –ao abordar menções sobre a Guerra do Vietnam.
Lá, Saya conhece a americana Alice (Allison Miller) que dividirá com ela um pouco do protagonismo da trama.
A direção de Chris Nahon é oscilante na exuberância que deseja exprimir nas cenas da ação e na negligência que demonstra nos momentos de baixa voltagem –diálogos, no geral, que deveriam fazer a trama avançar ao agregar informações e motivações, mas só evidenciam a pouca paciência na execução dessas sequências tratadas com desleixo e burocracia.
Tecnicamente, o filme encobre seus lapsos maiores (que respondem pelos elementos de computação gráfica inseridos com flagrante amadorismo) usando uma edição frenética, caótica e acelerada.
No entanto, existem entusiasmo e euforia genuínos na realização que se equilibra entre as composições de ação (e o antagonismo essencialmente físico entre os vampiros e a protagonista) de “Blade-O Caçador de Vampiros” e o registro sempre macabro e soturno presente em exemplares do mais autêntico terror.

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