Já data de algum tempo a tentativa de realizar
uma versão cinematográfica em live-action da espetacular animação “Ghost In TheShell”, de Mamoru Oshii. O artesão incumbido dessa tarefa veio a ser Rupert
Sanders que, no comando do épico “Branca de Neve e O Caçador”, demonstrou
identidade visual e notável fôlego narrativo, além de uma apropriada inclinação
ao comercial –ele só não esteve envolvido com a continuação, “O Caçador e ARainha do Gelo” por causa do escândalo decorrido de seu envolvimento adúltero
com a atriz Kristen Stewart.
“Vigilante do Amanhã” é uma nova oportunidade
para demonstrar competência, além de uma chance para alçar vôos mais altos.
Se a obra de Mamoru Oshii era um objeto cult
profundamente referencial –foi a declarada inspiração para, entre outras
coisas, “Matrix” –o filme de Sanders é, ele próprio, pontuado por influências:
Bebe da fonte do próprio “Matrix”, sobretudo na cinergia elegante de sua
primeira cena de ação e, engloba inúmeras outras referências como “Blade Runner”
(as estupendas seqüências em meio aos grandes arranha-céus onde se vêem imagens
reproduzidas em hologramas são difíceis de se esquecer).
No papel da protagonista, Major Mira Killian,
Scarlet Johansson é uma atriz sensacional, ela tira de letra a fisicalidade exigida
nas cenas de ação, e mostra desenvoltura seja quando o trabalho requer humor ou
drama. Sua versatilidade e solidez ao incorporar a personagem principal é a
grande força de “Vigilante do Amanhã”, mais do que a condução ponderada de
Sanders, ou o primor técnico de sua recriação do futuro.
Fruto de uma experiência radical onde os
humanos têm parte de seus corpos substituídos por materiais cibernéticos, a
Major é um caso (o primeiro) onde somente o cérebro restou. A cientista que
concedeu seu inovador projeto, Dra. Ouelet (Juliette Binoche, uma luxuosa
participação), lhe adverte acerca dos lapsos a que está sujeita devido a sua
humanidade –e ela de fato tem lampejos enigmáticos de imagens que será, mais
tarde, elucidadas pela narrativa.
Com seu corpo sintético e essas memórias
fragmentadas, ela trabalha como operativa do departamento de segurança
denominado Seção 9, ao lado do truculento Batou (o ótimo Pilou Asbaek), sob o
comando do comandante Aramaki (outra luxuosa participação desta vez a de ‘Beat’
Takeshi Kitano).
Uma das investigações movidas pela Major
contudo a levam até o misterioso Kuze (o ator Michael Pitt, de “Os Sonhadores”
e da versão 2007 de “Violência Gratuita”, que aqui assina Michael Carmen Pitt) –um
personagem que substitui o vilão Puppet Master da animação original com um
pouco mais de ambigüidade moral, mas menos complexidade; nesta nova versão, há
toda uma ligação ligeiramente forçada do antagonista com a heroína. Sanders
também amplia os elementos investigativos da trama, aumentando o número das
cenas (e, por conseqüência, a duração do filme), mas, não necessariamente lhe
acrescentando algo.
Comparar este filme com a animação original soa
um tanto injusto: “Ghost In The Shell” foi uma obra revolucionária e audaciosa,
introduzindo elementos ao gênero de ficção científica que outros filmes só
teriam desenvoltura para trabalhar muitos anos depois.
O filme de Sanders é,
quando muito, uma tendência de mercado tardia –em seus termos, ele lembra uma série
de filmes que já foram feitos, ao invés de sinalizar um cinema que ainda virá.
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