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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Asteroid City


 As obras de Wes Anderson flertam a todo o instante com o estranhamento. Um filme seu corresponde ao caminhar sobre uma corda bamba; o grande achado em seu cinema é o equilíbrio improvável entre a queda drástica rumo à incompreensão e à esquisitice que sempre o assombram e a continuidade de dinâmicas, premissas e dramas que se preservam interessantes, emocionantes e inteligíveis graças ao seu talento. Entretanto, num ou noutro caso pode haver um escorregão –e o exemplo mais patente disso é, na filmografia de Wes Anderson, “A Vida Marinha de Steve Sizou”. À ele junta-se agora este “Asteroid City”.

Como o fizera em “O Grande Hotel Budapeste”, Anderson começa explorando uma narrativa de metalinguagem na qual o filme a se desenrolar mais afrente é, na realidade, um peça de teatro –filmada em preto & branco, na intenção de diferenciar a encenação da trama principal –cujo autor Conrad Earp (Edward Norton) e todo seu séquito de intérpretes são introduzidos ao público pela narração algo irônica e vintage do ator Bryan Cranston.

Quando a peça se iniciar –e o filme, por conta disso, adquirir cores –irá se iniciar também sua trama principal; que, numa das ironias do projeto, tem muito pouco, ou quase nada, de teatral: Asteroid City é o nome de um lugarejo que mal pode ser definido como cidade; um apanhado de instalações (um hotelzinho; uma oficina; um restaurante; um posto militar e pouco mais que isso) que, em meados da década de 1950, cercam o local onde, anos antes, um asteróide lendário caiu. E sua cratera, com todas as ênfases turísticas, se encontra lá. A câmera de Anderson explora –com sua típica observação fria e simétrica –todo esse ambiente aberto num dos primeiros takes, indicando a propriedade hiperlativa da direção de arte e da direção de fotografia, criando juntas, em conjugação, um cenário a um só tempo irreal, impressionante e paradoxalmente autêntico que se enquadraria bem numa narrativa de Federico Fellini, não fosse a pontual e infalível modernidade de suas inserções digitais.

O elenco reunido em “Asteroid City” é vasto e espetacular, daqueles que pouquíssimos diretores tem gabarito capaz de reunir num único projeto, e eles defendem, todos, personagens capturados em suas excentricidades, perplexos diante de uma tristeza a brotar de lugares inesperados. Há, por exemplo, Augie Steenbeck, vivido por Jason Schartzman, que levou os quatro filhos (um rapazinho e três garotinhas trigêmeas) para Asteroid City a fim de finalmente revelar a eles que sua mãe (vivida por Margot Robbie, numa breve cena como a atriz que a interpretaria) faleceu à três semanas (!?). Com seu carro avariado –devido à uma pane que o incompetente mecânico local (Matt Dillon) é incapaz de consertar –eles resolvem ficar por lá, à espera de seu sogro, Stanley (Tom Hanks) que, a despeito da ligeira indisposição com Augie, segue para lá de carro para resgatá-los. Existem ainda June (Maya Hawke), jovem professora tentando administrar os interesses ocasionais de seus jovens  alunos; Midge Campbell (Scarlett Johansson) dona de casa em crise cuja relação com a filha (Grace Edwards) acentua ainda mais sua predisposição à depressão; J.J. Kellog (Liev Schreiber) um turista eventual, constantemente à beira de um ataque de nervos graças às provocações do próprio filho; além de toda fauna de estudantes, pais, professores e cientistas de uma convenção científica realizada lá (a reunir rostos como Sophia Lillis, Rupert Friend, Tlida Swinton e outros); e os militares basicamente representados pelo oficial displicente e indiferente (Jeffrey Wright) e seu subalterno (Tony Revolori).

O vazio existencial estranhamente cômico de cada um desses personagens ganha um novo viés quando Asteroid City é visitada por um alienígena (Jeff Goldblum) –cuja aparição converte brevemente o filme numa animação, outra área de atuação do diretor Wes Anderson, vide o maravilhoso “Ilha dos Cachorros” –e o governo ordena que seja imposta uma quarentena. Confinados naquele espaço, todos os personagens estabelecem uma rotina por meio da qual não apenas convivem uns com os outros, mas também com suas próprias idiossincrasias –material que faz muito o gosto do diretor –sem que aquilo jamais gere, na realidade, um microcosmos: O trabalho de Wes Anderson, bem como sua visão particular de cinema e de mundo, terminam sendo pessoais e peculiares demais para que se possa estabelecer algum tipo de analogia. E quando cai a pergunta “Então sobre o quê exatamente versa o filme?” é quando os problemas de “Asteroid City” começam a se acumular de verdade.

Diferente de outros trabalhos de Wes Anderson nos quais sua sensibilidade conseguiu alcançar o público, emocionando-o ou levando-o a refletir (ou ambos), em “Asteroid City” há um distanciamento resultante, tal é a sensação de alienação que a situação mirabolante e os personagens idiossincráticos, somados, passam ao expectador. “Asteroid City” poderia ser sobre a paranóia atômica de outros tempos, numa curiosa equação com o presente, mas é deveras gaiato e caricatural para isso; poderia ser sobre a pluralidade norte-americana e de como mentalidades e posicionamentos mais nos afastam do que nos aproximam, mas é inacessível em sua insistência no alternativo. Termina sendo um trabalho modorrento e desafiador para os expectadores menos pacientes, capaz de agradar aos fãs incondicionais do diretor, e somente a eles.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Malditas Aranhas!


 Alguns realizadores, no início da década 2000, estavam redescobrindo o fascínio pelas produções B do passado, um tanto incentivados pelas maluquices referenciais de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues; daí que, produzido por Roland Emmerich e Dean Devlin (responsáveis por arrasa-quarteirões pirotécnicos e dispendiosos como “Independence Day” e “Godzilla”), e dirigido pelo neo-zelandês Ellory Elkayem, foi realizado com relativamente baixo orçamento e sem maiores pretensões comerciais este “Malditas Aranhas!” que, no verão de 2002, revelou-se uma grata surpresa, além de ter a honra de apresentar ao mundo uma já crescida e sedutora Scarlett Johansson, depois de vários filmes como intérprete infantil, e pouco antes de tomar o mundo e o cinema com seu encanto em “Encontros e Desencontros”.

Scarlett vive a jovem Ashley Parker, mas os protagonistas de fato são sua mãe Samantha Parker (a bela Kari Wührer, de “Anaconda”), e o destrambelhado herói da vez Chris McCormick (David Arquette, de “Pânico”).

Em retorno à cidadezinha do Arizona onde passou sua juventude, Chris reencontra sua antiga paixão, Samantha, trabalhando como a xerife local, equilibrando essa ocupação com a de mãe solteira da adolescente Ashley e do pequeno gênio Mike (Scott Terra, de “Demolidor-O Homem Sem Medo”).

Esses personagens logo se defrontam com a circunstância que centraliza o filme: Dejetos radioativos jogados nas imediações (sempre eles!) desencadeiam uma mutação nas espécimes de aranhas locais, tornando-as gigantescas. Assim, as criaturas que antes eram predadoras apenas de insetos e bichos menores passam a ter os seres humanos como caça. E na tentativa de sobrevivência que se segue da parte de toda a população, Chris e Samantha se veem como líderes involuntários dessa comunidade em crise, onde afloram, aqui e ali, todos os personagens clichês possíveis (que acabam sendo eficazes apenas porque têm o embasamento do bom humor): Os jovens prepotentes e rebeldes; a criança-prodígio que adivinha todo o plot dos monstros antes dos adultos; os políticos ricaços indiferentes ao sofrimento das vítimas; os hilários coadjuvantes suburbanos e muitos mais.

Meio “Tubarão”, meio “Aracnofobia” –não por acaso, dois filmes com o nome de Steven Spielberg (ídolo de Emmerich) em sua ficha técnica –“Malditas Aranhas!” explora desavergonhadamente todas as possibilidades gritantes, absurdas, sensuais, engraçadas e vertiginosas do cinema poeira dos anos 1970 conferindo à essa roupagem um delicioso teor referencial e uma desprendida ênfase nos efeitos visuais de última geração que, apesar de diversos tropeços aqui e acolá, valem-se dessa mesma imperfeição para impor aquela que é sua maior virtude: Um contagiante senso de humor.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Viúva Negra


 Com sua história ambientada entre “Capitão América-Guerra Civil” e “Vingadores-Guerra Infinita”, “Viúva Negra” terminou sendo realmente lançado após “Homem-Aranha Longe de Casa”, o que o torna circunstancialmente um filme anacrônico dentro da cronologia do Universo Marvel Cinematográfico –tendo, além disso, sido atrasado em um ano de seu lançamento em cinema por conta da pandemia.

Com essas condições desfavoráveis a lhe pesar, até é admirável que ele seja uma obra tão fluente, agradável e vívida, quando olhamos para além da muralha de críticas rabugentas que ele recebeu.

É um dos mais fracos filmes da Marvel Studios? Nem sob um decreto (esse demérito ainda pertence à “Thor-O Mundo Sombrio” e à “Vingadores-A Era de Ultron”), o seu grande problema é que a Marvel habituou o público a um crescendo notável de qualidade ao longo de seus bem-sucedidos filmes –e essa qualidade intensificou-se nos últimos lançamentos (“Pantera Negra” foi até indicado ao Oscar de Melhor Filme!). Manter esse patamar é, portanto, uma tarefa árdua e, se “Viúva Negra” não o cumpre com totalidade, ao menos, preserva dignidade o bastante para ombrear as excelentes obras mais recentes.

Seu lançamento padece de uma falta absoluta de timing? Com certeza –entre outras coisas, porque a Viúva Negra já deveria ter ganho seu próprio filme muitos anos antes (o produtor Kevin Feige só se convenceu a realizá-lo após forte insistência popular), e porque, diante da consciência do desfecho definitivo que a personagem ganha em “Vingadores-Ultimato”, muito da trama, dos perigos e do suspense no filme acabam perdendo sua razão de ser –afinal, já sabemos de antemão o que acontecerá com a heroína.

Logo após um prólogo que parece sugerir a origem da protagonista em sua infância –mas, que tão somente fornece a origem da dinâmica de ‘família disfuncional’ que une os personagens a rodear a protagonista nesta obra –surgem os créditos iniciais (coisa rara nos filmes da Marvel) ao som de uma versão de “Smell Like Teen Spirit” e, num salto temporal rumo à vida adulta da personagem principal, acompanhamos Natasha Romanoff fugindo das autoridades e das consequências de suas escolhas em “Guerra Civil”.Como a espiã indefectível que é, ela tenta se esconder de tudo e de todos.

Contudo, em seu esconderijo, ela encontra uma encomenda despachada por sua irmã, Yelena Belova (a fabulosa Florence Pugh), garotinha que havia aparecido naquele prólogo.

Como a própria Natasha, Yelena foi capturada para o Programa Sala Vermelha, que formava as Viúvas Negras quando ainda eram crianças, transformando-as em assassinas treinadas a serviço da União Soviética. O destino de Natasha, sabemos, a levou a integrar a S.H.I.E.L.D. e, mais tarde, os Vingadores; já o destino de Yelena, que o filme trata de revelar (de forma até mais abrangente do que os detalhes nebulosos da origem de Natasha), foi tornar-se, também ela, uma Viúva Negra, entretanto, diferente da irmã que teve a sorte de encontrar o Gavião Arqueiro pela frente (levando-a aos EUA e colocando-a num caminho de redenção), Yelena continuou prisioneira da Sala Vermelha e do manipulador líder do programa, o amoral Dreykov (Ray Winstone). É numa missão quase corriqueira que Yelena inala uma dose de gás experimental, um antídoto para o controle bioquímico que ela a as outras Viúvas Negras sofreram, e que as fazem letais para com seus alvos e subservientes para com seu líder.

De posse das poucas cápsulas desse antídoto, Yelena envolve Natasha em sua cruzada para descobrir a misteriosa localização da Sala Vermelha e libertar todas as Viúvas Negras. O que significa reencontrar também o ‘pai’ delas, Alexei, também conhecido como Guardião Vermelho, uma espécie de Capitão América Soviético (vivido com humor nem sempre apropriado por David Harbour), bem como sua ‘mãe’, Melina (Rachel Weisz, sempre elegante e sólida).

Embora se pretenda um filme de espionagem, com todas as suas missões, traições, reviravoltas e agentes duplos, “Viúva Negra” acaba sendo, na realidade, um filme de ação bem mais comum do que se pretende –a notória pouca disposição da Marvel Studios para ousar simplifica o desenvolvimento de sua trama, resultando ela num corre-corre desenfreado no qual as perseguições e sequências de ação surgem bem elaboradas, como era de se esperar. Ainda assim, “Víúva Negra”, na bem urgida cinematografia que emprega não chega a surpreender com sua narrativa (“Capitão América-Soldado Invernal” já fez isso antes), nem tampouco a inovar com o empoderamento de suas protagonistas femininas (a própria Marvel se antecipou a isso com “Capitã Marvel”) –tivesse sido realizado anos antes (quando lançar um filme de Natasha Romanoff ainda seria pertinente) talvez a Marvel Studios colhesse vários louros por sua realização (pois, Scarlet Johansson, realmente, se impõe com primor e circunspecção ao papel), da forma como está, “Viúva Negra” ainda entrete e agrada, mas sofre de algo que os projetos da Marvel Studios foram felizes em evitar: Irrelevância.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Compramos Um Zoológico


 Em algum momento depois da aclamação pra lá de merecida de “Quase Famosos”, o cinema de Cameron Crowe ameaçou sair dos trilhos. Esse curioso processo começou com a refilmagem de “Abra Los Ojos”, “Vanilla Sky”, e prosseguiu em excessos mais ou menos prejudiciais que apareceram em obras como “Tudo Acontece Em Elizabethtown”, de 2005, e “Compramos Um Zoológico”, de 2011, exatos seis anos depois –o intervalo se deu por Crowe dedicar esse tempo realizando o documentário “Pearl Jam 20 Twenty”.

Inspirado em uma história real, “Compramos Um Zoológico” é lisérgico na liberdade plena com que Crowe, diretor e roteirista (escrevendo em conjunto com Aline Brosh McKenna, roteirista de “O Diabo Veste Prada”), consegue imprimir na tela sua visão descolada, romântica e embriagante sobre o mundo, o amor e a vida.

É essa abordagem, exacerbada de alto astral, que Crowe confere à trajetória de Benjamin Mee (o sempre comprometido Matt Damon), um viúvo recente, mergulhado na auto-piedade de seu luto que recebe (muitas vezes até demais!) de todos os coadjuvantes a sua volta, indícios de que a vida é, sim, muito bela –sendo o mais expressivo deles o irmão interpretado pelo ótimo Thomas Alden Church.

Cedendo de uma forma um tanto torta às insistências de recomeçar, Mee, ao lado dos dois filhos, o adolescente Dylan (o apático Colin Ford) e a pequena Rosie (Maggie Elizabeth Jones), compra um zoológico depauperado e decadente em vias de ser fechado e resolve transformar sua recuperação numa espécie de cruzada pessoal à qual dedicar-se.

Para efeitos práticos do expediente da ficção, há nesse zoológico –dentre as inúmeras figuras peculiares em seu humor e sua galhofa pueril que Crowe tem por hábito criar –duas garotas, uma mais velha (vivida por Scarlett Johansson, ótima atriz que merecia uma personagem mais relevante) e uma mais jovem (vivida por Elle Fanning) que, sem maiores esforços para se disfarçar, lá estão posicionadas para ser o infalível interesse romântico, respectivamente, do protagonista Mee e de seu filho Dylan.

Desprovido do equilíbrio fascinante entre trama bem escrita, emoções austeramente calibradas e construção sensata de narrativa presente nas melhores obras de Crowe, “Compramos Um Zoológico” oscila entre desmedida ingenuidade e excessiva sacarose, em sequências que soam quase intoleráveis aos expectadores menos adeptos do romantismo muito particular exercido pelo diretor.

A questão bastante admirável no fato de ser inspirado num fato real, e ainda assim guardar elementos que flertam o tempo todo com o improvável e o mirabolante, acaba ficando para escanteio diante da atmosfera tão agridoce que ele imprime.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Ilha dos Cachorros


 Wes Anderson tem uma forma toda especial de mostrar-se a um só tempo contundente, tocante, desconcertante e lúdico em suas narrativas. Essas características normalmente se ressaltam quando ele trabalha com animações. “Ilha dos Cachorros” é seu segundo trabalho dentro desse território, antecedido unicamente por “O Fantástico Senhor Raposo”.

Nele –num reflexo bastante crítico da concepção de Anderson ao olhar a sociedade moderna –os humanos são menos compreensíveis que os animais; isso porque os cães não só narram a trama e participam dela ativamente na maior parte do tempo (com diálogos existencialistas e tudo o mais), mas também porque tudo se ambienta no Japão, e os personagens humanos falam somente o idioma de lá, sendo que o filme propositadamente omite as legendas das passagens em japonês –com exceção, de trechos traduzidos por intérpretes, legendas pontuais (e raras), e uma única personagem (uma aluna de intercâmbio) que fala a língua ocidental.

E é curioso notar assim o fascínio  e a intransponibilidade comunicativa que o Japão exerce tanto em Wes Anderson, como em Sofia Coppola (e seu “Encontros e Desencontros”), eles que têm em seu cinema muitas coisas em comum; muito mais do que apenas a presença de Bill Murray em suas obras –que aliás, aqui aparece dublando o personagem Boss!

Sendo assim, de modo geral, a trama de teor político que se descortina ao público é, em grande medida, expressada pelo ponto de vista dos cachorros: Após uma breve introdução de uma lenda segunda a qual o Japão –ou mais precisamente a cidade de Megasaki –viu-se polarizado entre apreciadores de cães e adoradores de gatos, acompanhamos, no futuro, os cães se tornarem alvo de uma manobra política do prefeito Kobayashi para serem dizimados, ao levarem a culpa pela disseminação de um vírus.

Os cães são assim exilados numa ilha –a Ilha do Lixo –e por lá abandonados. Anos depois, um grupo de cães (entre os quais está o narrador da história) testemunha a chegada de uma aeronave à ilha. Ela trás o jovem Atari Kobayashi, sobrinho do prefeito, indo atrás do seu cão guarda-costas, Spots (voz de Liev Schreiber), o primeiro animal para lá enviado.

Todavia, o paradeiro de Spots não é fácil de ser encontrado: Tudo indica que (se sobreviveu...) ele foi parar em algum lugar do extremo oposto da ilha, dominado por um grupo de cães selvagens de hábitos canibais!

Enquanto Atari tenta chegar lá, auxiliado meio a contra gosto pelo desiludido vira-lata Chief (voz de Bryan Cranston), as autoridades de Megasaki preparam uma medida para exterminar de uma vez a mal-fadada ilha dos cachorros: A fim de abafar a descoberta de que o vírus é perfeitamente curável (o que torna assim o retorno dos cães para o continente possível), o prefeito Kobayashi, ignorante da presença do sobrinho por lá, quer aprovar uma erradicação total à ilha, onde cães-robôs disseminarão um composto venenoso a partir de wasabi (!) que matará todos os seres vivos que estiverem lá.

Datado de 2018, é incrivelmente curioso, como um elemento essencial da narrativa de “Ilha dos Cachorros” remete ao cenário de 2020: O do vírus usado para manipular os anseios da população com fins políticos e certamente unilaterais.

Para além desse viés visionário, o diretor Wes Anderson ainda criou uma animação emocionante e pertinente, sobre a intolerância, sobre a intoxicante incapacidade de comunicação, e sobre a necessidade fundamental da preservação animal e ambiental.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

O Grande Truque


 Projeto do diretor Christopher Nolan ensanduichado entre “Batman Begins” e “Batman-O Cavaleiro das Trevas”, este “O Grande Truque” pode ter sido encarado por ele como um respiro da imersão no universo de histórias em quadrinhos, imergindo, em contrapartida, nos meandros nebulosos e enigmáticos do mundo dos ilusionistas.

Curiosamente, na mesma época, outro trabalho brilhante, “O Ilusionista”, de Neil Burger, com Edward Norton, também dividiu com ele o mesmo tema, os louros da crítica e algum sucesso de bilheteria. Na comparação com a aventura mais singela estrelada por Edward Norton, “O Grande Truque” é logística e narrativamente ambicioso lançando mão de muitas aspirações cerebrais que Nolan só iria amplificar em obras futuras, transformando em seu grande diferencial, como realizador, esse esforço em conciliar, em blockbusters nada discretos, essa predisposição autoral e até intelectual com narrativas escapistas para as massas.

Muitos podem dizer que “O Grande Truque” é desafiador até demais para as percepções do público: Pra começar, há um esforço claro de Nolan e dos atores Hugh Jackman e Christian Bale em tornar ambígua a disputa implacável e incessante entre os mágicos ilusionistas Robert Angier e Alfred Borden. À despeito dessa disputa –mote central do filme –envolver os atores que viviam então Wolverine e Batman nas telas (e de ser esse embate uma clara referência aos olhos do público), não há distinção de bem e mal esboçada nas caracterizações; um elemento corajoso, mas que pode desanimar uma parte considerável da audiência.

Angier é frívolo, amargurado e rancoroso. Borden é arrogante, presunçoso e esnobe. São personagens construídos não para cativar de pronto o público, mas para enfatizar a ele suas características humanas e, não raro, reprováveis: Em ambos jaz uma obsessão injustificada de superar as realizações do outro.

Para cada truque de mágica que Angier elabora, Borden já tem um novo para arrebatar o público e lhe roubar alguns expectadores em plena Londres do Século XIX. Entretanto, sabemos que algo deu tremendamente errado: O filme já se inicia com Borden na cadeia por um crime estarrecedor. Os propósitos que levaram a esse crime são então esmiuçados num flashback –recurso que a narrativa de Nolan usa até levar o público a perder o fio da meada –e dizem respeito aos truques de mágica que, encenados noite após noite nos palcos londrinos, serviram de duelo entre dois homens dispostos a serem insuperáveis em seu ofício.

Levando o conceito de disputa às últimas consequências, Nolan arremessa seus protagonistas num empate que ganha circunstâncias cada vez mais fantasiosas e imprevisíveis –e, portanto, trágicas.

Há, no cinema de Christopher Nolan, esse inusitado resgate de temas masculinos por meio de um prisma onde gêneros improváveis são investigados. Disso se alimenta sua filmografia, incluindo a aclamada “Trilogia do Cavaleiro das Trevas”: Temos o temor do esquecimento (“Amnésia”), ou da dissolução do legado (“Interestelar”) e da imponderabilidade dos anseios (“A Origem”); em “O Grande Truque” está em pauta o medo da derrota perante um adversário, a tornar bastante humana a percepção de um filme todo incomum.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Match Point - Ponto Final

 


Abrindo mão de forma surpreendente de seu já tão difundido e conhecido senso corrosivo de humor, o diretor e roteirista Woody Allen deu, nos idos de 2005, um novo rumo à sua carreira com este “Match Point”: Ele abandonou, por algum tempo, a cidade de Nova York –ambientação de quase a totalidade de suas obras –e aventurou-se em contar histórias transcorridas em cidades referenciais da Europa; ele também nomeou a deliciosa e competente atriz Scarlett Johasson como sua nova musa desta nova fase (Johansson estrelou este e outros dois filmes de Allen); e (ao menos aqui) assumiu uma postura de seriedade e austeridade no roteiro e na condução que não apareciam com tanta à ênfase em suas realizações desde algumas audazes experiências dos anos 1980, como “A Outra” ou “Hannah e Suas Irmãs”.

“Match Point” é, sobre muitos aspectos, Woody Allen tentando se travestir de Alfred Hitchcock. É também Woody Allen incorporando as aglutinações morais de Dostoyevski em “Crime e Castigo” –ele é inclusive citado num trecho fundamental do filme –e nesse processo, de tatear novas percepções ao estilo que ameaçou engessá-lo na década de 1990, Woody Allen concebe um filme notável em seu frescor autoral.

Jonathan Rhys Meyers é o ambicioso londrino Chris Wilton. Sua mentalidade calculista e pragmática o atrai em direção à garota milionária Chloe Hewett (Emily Mortimer), no entanto, seu desejo irracional o empurra para a atraente Nola Rice (Scarlett), então namorada do irmão de Chloe (Matthew Goode).

Chris procura em vão inibir esse desejo a medida que seu interesseiro enlace com Chloe segue os ritos de praxe –namoro, noivado, casamento. No entanto, quando reencontra Nola, agora, não mais namorando seu cunhado, ele vê a chance de ter seus avanços correspondidos; e ela se torna sua amante engravidando, pouco depois.

Agora Chris tem um dilema em mãos: Contar a verdade para Chloe, e ter o confortável status social com o qual se acostumou ameaçado, ou permanecer como está?

A segunda alternativa, Nola está disposta a não tornar viável: Ela ameaça contar a verdade a Chloe se ele não a assumir e ao bebê que está esperando.

Toda essa árdua preparação –levada por Woody Allen tendo por elemento de sublinhamento das passagens chaves o trecho “Una Furtiva Lagrima” de L’elisir d’amore –serve para nos levar ao elaborado assassinato que se sucede quase na metade do filme; e que revela “Match Point” ser, de fato, sobre a arquitetação de um crime aparentemente perfeito (por sinal, essa é a premissa também de “Scoop-O Grande Furo”, projeto imediatamente seguinte que Allen fez com Scarlett Johansson).

Entretanto, como Allen parece ter apreendido de Hitchcock, o conceito que determina um crime perfeito (aquele do qual seu perpetrador consegue escapar impune) do imperfeito depende de uma série de pequenos detalhes, explorados aqui com criterioso humor negro, em especial, um detalhe sutil, inusitado e determinante, justaposto numa analogia com a prática esportiva do tênis, especialidade do protagonista, que termina também batizando este trabalho um tanto memorável, e um tanto capaz de surpreender (e, em alguns casos, até frustrar!) aqueles que estiverem esperando por um Woody Allen típico das mesmas comédias irônicas e sofisticadas que ele entregou nos anos 1990.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit

Existem artifícios inusitados e tocantes dos quais o diretor Taika Waititi lança mão para fazer aqui um filme de guerra que durante sua maior parte do tempo não quer parecer um filme de guerra.
Seu pequeno herói (e personagem título) é Jojo Betzler (o notável Roman Griffin Davis), um jovem alemão de 12 anos de idade, ávido por integrar a juventude hitlerista naquela época em que corre a Segunda Guerra Mundial –tanto que o amigo imaginário de Jojo é um Adolph Hitler transfigurado pelos rompantes pueris do próprio Jojo (surgindo em cena personificado com equilíbrio refinado entre sátira, paródia e crítica demolidora pelo diretor Waititi).
Na colônia de férias para onde vai –da qual se ocupa a primeira hora de filme –Jojo consegue apenas ser apelidado de Coelho: apenas porque relutou em matar um.
Na tentativa subsequente de mostrar coragem, ele acaba com uma granada explodindo em sua cara (!) e volta para casa.
Todavia, algo está diferente. Como ele vai aos poucos descobrir, sua mãe Rose (Scarlett Johansson, inspiradíssima) contornou as perdas do pai e da irmã mais velha de Jojo (ambos perecidos na guerra) escondendo no sotão a menina judia Elsa Korr (Thomasin McKenzie).
Um dilema ocorre então ao pequeno protagonista –e dele nascem as dinâmicas que determinam o filme: Jojo finge para a mãe que nada sabe –e deve reavaliar assim o próprio nacionalismo cego, manifestado na forma de chiliques homéricos de seu amigo imaginário. A mãe finge para Jojo que tudo está como era antes (numa atuação rica em camadas de Johansson que coloca a situação de “A Vida É Bela”, um pouco similar, no chinelo!). E enquanto nada se resolve, e a guerra corre solta na Europa –mostrada em pequenos indícios recheados de ironia –Jojo vai galgando a curiosidade despertada pela refugiada em seu sotão, e descobre que, por trás do preconceito que a lavagem cerebral do nazismo o ensinou a ter, os judeus são seres humanos dotados de beleza, inteligência, força e encantamento –características que gradualmente o fazem descobrir-se enamorado por Elsa.
Durante a temporada de premiações –que culminou com o filme conquistando o Oscar 2020 de Melhor Roteiro Adaptado –“Jojo Rabbit” ocupou o centro de um debate da crítica sobre ser ou não apropriado um filme de comédia ambientar-se e contextualizar-se no traumático episódio histórico da Segunda Guerra Mundial.
Realizado com o mesmo equilíbrio e parcimônia demonstrados em trabalhos nunca menos que ótimos, como “O Que Fazemos Nas Sombras”, “A Incrível Aventura de Rick Baker” e o comercial “Thor-Ragnarok”, o filme realizado por Waititi prova que sim, é perfeitamente apropriado ambientar uma comédia na Segunda Grande Guerra, inclusive, no coração da própria Alemanha nazista desde que, como aqui, o bom senso de seu realizador trabalhe em constante sintonia com seu ímpeto criativo.
“Jojo Rabbit” abraça assim todas as condições da divertida comédia que é; porque nesse terreno Taika Waititi se revela um gênio inconteste; porque assim ele põe à mesa, com muito humor, as cartas inesperadas que farão seu filme poderosamente contundente; e porque quando “Jojo Rabbit” por fim tiver incorporado suas inevitáveis tintas dramáticas –absolutamente inerentes na premissa que possui –toda essa leveza que as antecipou fez com que as defesas do expectador fossem desarmadas preparando-o para o seu impactante terço final.
Não, Waititi não esquece que sua obra é um filme de guerra, e como tal, ele não poupa os personagens e, portanto, o expectador de descobrirem as consequências atrozes de se viver sob a ameaça do conflito.
“Jojo Rabbit” tem uma condução bela, engraçada e lúdica rumo a uma constatação amarga e necessária, um filme que diverte, emociona e nos faz pensar.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Indicados Ao Oscar 2020

E está dada a largada ao que ainda é considerado o grande prêmio do cinema:

Melhor Filme
1917
Adoráveis Mulheres
Coringa
Era Uma Vez em... Hollywood
Ford vs Ferrari
História de Um Casamento
O Irlandês
Jojo Rabbit
Parasita

“Coringa” lidera o número de indicações, com 11, seguido por “Era Uma Vez em... Hollywood” e “O Irlandês”, com 10 cada, contudo, há tempos que o número de indicações não quer dizer favoritismo na premiação –colocando as demais premiações em perspectiva, muito se aposta na obra de Quentin Tarantino que parece usufruir de fatores muito favoráveis junto ao prêmio.
E que felicidade é ver “Parasita” gozando de tantas honrarias!

Melhor Atriz
Scarlet Johansson – História de Um Casamento
Renée Zellweger – Judy-Muito Além do Arco-Íris
Charlize Theron – O Escândalo
Saoirse Ronan – Adoráveis Mulheres
Cynthia Erivo – Harriet

Melhor Ator
Joaquin Phoenix – Coringa
Adam Driver – História de Um Casamento
Antonio Banderas – Dor e Glória
Jonathan Pryce – Dois Papas
Leonardo DiCaprio – Era Uma Vez em... Hollywood

Os favoritos: Renée Zellweger e Joaquin Phoenix, sem discussão!
Quem pode ameçar a supremacia de cada um deles é, respectivamente, Charlize Theron e Adam Driver.
A inclusão de Antonio Banderas entre os melhores atores é certamente uma daquelas alegrias que vez ou outra o Oscar nos proporciona; pena elas não serem mais frequentes...

Melhor Atriz Coadjuvante
Laura Dern – História de Um Casamento
Margot Robbie – O Escândalo
Scarlett Johansson – Jojo Rabbit
Florence Pugh – Adoráveis Mulheres
Kathy Bates – Richard Jewell

Melhor Ator Coadjuvante
Brad Pitt – Era Uma Vez em... Hollywood
Anthony Hopkins – Dois Papas
Tom Hanks – Um Lindo Dia na Vizinhança
Al Pacino – O Irlandês
Joe Pesci – O Irlandês

Antes de falar sobre os possíveis ganhadores, deixem-me expressar minha felicidade pela dupla indicação de Scarlett Johansson, na categoria principal (por “História de Um Casamento”) e na de coadjuvante pelo belo trabalho de Taika Waikiki; demorou para que a Academia reconhecesse seu já comprovado talento, acima da linda mulher (e símbolo sexual) que ela é, mas quando o fez, foi com pompa e circunstância!
Como no Globo de Ouro, as presenças de Al Pacino e Joe Pesci (com destaque para o segundo) parecem ameaçar tremendamente o favoritismo de Brad Pitt que vem (merecidamente) se consolidando ao longo da temporada. Eu prefiro (inclusive em outras categorias!) infinitamente mais a homenagem esperta e camarada de Tarantino à Hollywood do que o estudo sobre o tempo, o envelhecimento e a resiliência conduzido por Scorsese. Entre as atrizes coadjuvantes, a bela surpresa na inclusão de Kathy Bates, Margot Robbie e Florence Pugh não tira a liderança nas apostas de Laura Dern, vencedora em praticamente todos os prêmios que disputou até agora –este parece ser o ano da musa de David Lynch!

Melhor Diretor
Martin Scorsese – O Irlandês
Quentin Tarantino – Era Uma Vez em... Hollywood
Sam Mendes – 1917
Bong Joon Ho – Parasita
Todd Phillips – Coringa

Melhor Roteiro Original
História de Um Casamento – Noah Baumbach
Era Uma Vez em... Hollywood – Quentin Tarantino
Parasita – Bong Joon Ho, Han Jin Won (História por Bon Joon Ho)
Entre Facas e Segredos – Rian Johnson
1917 – Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns

Melhor Roteiro Adaptado
Jojo Rabbit – Taika Waititi
O Irlandês – Steven Zaillian
Dois Papas – Anthony McCarten
Coringa – Todd Phillips e Scott Silver
Adoráveis Mulheres – Greta Gerwig

Um prazer ver Bong Joon-Ho e seu “Parasita” em tantas categorias, é bem provável que todas essas indicações se concretizem no único prêmio de Filme Estrangeiro, mas já está bom demais!
Com Scorsese perdendo terreno na temporada de prêmios, é de se imaginar o Oscar de Melhor Diretor ficando mesmo entre Sam Mendes (até então o favorito) e Quentin Tarantino, que deve mesmo prevalecer na categoria de Roteiro Original.
Já, entre os roteiros adaptados, “O irlandês” deve competir direto com a delicadeza e qualidade de “Adoráveis Mulheres” –e com o imenso apreço que a Academia parece nutrir pelas obras de Greta Gerwig –e com a larga aceitação de púlbico e crítica de “Coringa”, fatores que podem influenciar numa categoria sem tantos favoritos como esta.

Melhor Figurino
Jojo Rabbit
Era Uma Vez em... Hollywood
O Irlandês
Coringa
Adoráveis Mulheres

Melhor Maquiagem & Cabelo
O Escândalo
Coringa
Judy-Muito Além do Arco-Íris
Malévola-Dona do Mal
1917

Melhor Direção de Arte
Era Uma Vez em... Hollywood
1917
Jojo Rabbit
O Irlandês
Parasita

Melhor Trilha Sonora Original
Coringa
Adoráveis Mulheres
História de um Casamento
1917
Star Wars-A Ascensão Skywalker

Melhor Canção Original
“I’m Standing With You” de Superação-O Milagre da Fé
“Into the Unknown” de Frozen 2
“Stand Up” de Harriet
“(I’m Gonna) Love Me Again” de Rocketman
“I Can’t Let You Throw Yourself Away” de Toy Story 4

Melhor Fotografia
1917
Coringa
O Irlandês
O Farol
Era Uma Vez em... Hollywood

Melhor Montagem
O Irlandês
Ford vs Ferrari
Coringa
Jojo Rabbit
Parasita

Melhor Edição de Som
1917
Coringa
Ford vs Ferrari
Star Wars-A Ascensão Skywalker
Era Uma Vez em... Hollywood

Melhor Mixagem de Som
Coringa
Ad Astra
1917
Ford vs Ferrari
Era Uma Vez em... Hollywood

Melhores Efeitos Visuais
Vingadores-Ultimato
O Irlandês
O Rei Leão
1917
Star Wars-A Ascensão Skywalker

De modo geral, as categorias técnicas têm, em “1917”, seu grande favorito –até mesmo em efeitos visuais, onde se destaca o fenômeno “Vingadores-Ultimato”.
Entre surpresas de última hora (“Ad Astra” em Mixagem de Som e “O Farol” em Fotografia) e esnobadas intrigantes (sobretudo, a ausência de “Era Uma Vez em... Hollywood” em Melhor Montagem, vaga que provavelmente ficou com “Ford vs Ferrari”), temos “Rocketman”, cujo favoritismo em Melhor Canção Original terá de compensar seu esquecimento em praticamente todas as outras categorias.

Melhor Documentário
Democracia em Vertigem
American Factory
The Cave
For Sama
Honeyland

Melhor Animação
Toy Story 4
I Lost My Body
Link Perdido
Como Treinar Seu Dragão 3
Klaus

Melhor Filme Estrangeiro
Honeyland – Macedônia
Corpus Christi – Polônia
Parasita – Coreia do Sul
Les Misérables – França
Dor e Glória – Espanha

Como é até habitual, a Academia reconhece o valor do cinema brasileiro com mais frequência entre os documentários –e este ano, é “Democracia em Vertigem” que ganha a honraria –entre as animações, a grande surpresa foi a ausência de “Frozen 2”, que restrige ao peso-pesado “Toy Story 4” a tarefa de superar a súbita preferência nas premiações conquistada (sem muito mérito) por “Link Perdido” e (com largo merecimento) por “Klaus”.
Já, o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro já tem dono, embora seja sempre bacana ver uma obra de Pedro Almodovar reiterar a relevância do diretor espanhol: Será o absurdo dos absurdos se a Academia negar esse Oscar ao sul-coreano “Parasita”.

Melhor Curta Animado
Dcera (Daughter)
Hair Love
Kitbull
Memorable
Sister

Melhor Curta em Documentário
In the Absence
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
A Vida em Mim
St. Louis Superman
Walk Run Cha-Cha

Melhor Curta em Live-Action
Brotherhood
Nefta Football Club
The Neighbors’ Window
Saria
A Sister

A confirmação dos favoritos ou a invalidação das maiores apostas se dará no dia 9 de fevereiro, na 92ª Cerimônia do Oscar, a ser realizada no Teatro Dolby, em Los Angeles.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Os Indicados Ao Globo de Ouro 2020

Nem bem a CCXP acabou e eis que a Imprensa Estrangeira divulgou hoje os indicados ao Globo de Ouro. Segue a lista:

MELHOR FILME: DRAMA
1917
O Irlandês
Coringa
História de Um Casamento
Dois Papas

MELHOR FILME: MUSICAL OU COMÉDIA
Meu Nome É Dolemite
Jojo Rabbit
Entre Facas e Segredos
Rocketman

Curiosa e até irônica a inclusão da nova obra de Quentin Tarantino entre as comédias; mas, “Era Uma Vez... Em Hollywood” está disputando com títulos elogiadíssimos, em especial, “Meu Nome É Dolemite” e “Jojo Rabbit”, todos exigindo respeito e reconhecimento.
Na categoria drama as coisas estão ainda mais acirradas: Se “O Irlandês” e “Coringa” chegam com a força do sucesso simultâneo de público e crítica, tanto o épico de guerra “1917” quanto “História de Um Casamento”, em seus recentes lançamentos, demonstraram vigor suficiente para atingirem status de favoritos!
Como no ano passado, uma predominância de títulos oriundos de streaming se percebe entre as obras exclusivamente cinematográficas: “O Irlandês”, “História de Um Casamento”, "Dois Papas" e “Meu Nome É Dolemite” são da NetFlix.

MELHOR DIRETOR
Bong Joon-HoParasita
Sam Mendes1917
Todd Phillips, Coringa
Martin ScorseseO Irlandês
Quentin Tarantino, Era Uma Vez… Em Hollywood

Uma maravilha poder testemunhar o reconhecimento sem precedentes ao cinema sul-coreano até então. Está certo que o magistral “Parasita” pode acabar ficando só nas indicações –afinal, ele concorre com a técnica impecável e implacável de Sam Mendes (que alguns estão comparando com o virtuosismo já lendário de “O Resgate do Soldado Ryan”); com a aclamada realização de Todd Philips (a quem o Globo de Ouro já premiou em 2009 por “Se Beber Não Case”); e os trabalhos maiúsculos dos gênios Martin Scorsese e Tarantino –mas é um deleite ver o nome de Bong Joon-Ho (de obras como “O Expresso do Amanhã” e “O Hospedeiro”) ao lado de medalhões do cinema hollywoodiano.

MELHOR ATRIZ EM FILME: DRAMA
Cynthia ErivoHarriet
Scarlett JohanssonHistória de Um Casamento
Saoirse RonanAdoráveis Mulheres
Charlize TheronO Escândalo
Renée ZellwegerJudy

MELHOR ATOR EM FILME: DRAMA
Christian Bale, Ford vs. Ferrari
Antonio BanderasDor & Glória
Adam DriverHistória de Um Casamento
Joaquin PhoenixCoringa
Jonathan PryceDois Papas

Os intérpretes de drama surgem com alguns favoritismos aparentes: Entre as atrizes, o trabalho que goza, por ora, de maior aclamação junto à crítica é o de Renée Zellweger, onde ela traz Judy Garland à vida, mas há de se lembrar de Scarlett Johansson, uma atriz sempre capaz, talentosa e relevante, dona de poucas indicações ao longo de sua carreira (e nenhuma indicação ao Oscar!) num trabalho que parece ser o ponto de virada para essa injustiça.
Já, entre os atores, a ausência de Robert De Niro (por "O Irlandês") e de Adam Sandler (pelo premiado “Uncut Gems”) e o encaixe de Leonardo DiCaprio e Taron Egerton entre os intérpretes de comédia ou musical deixa a situação bastante propícia para a consagração de Joaquin Phoenix e sua ovacionada atuação em “Coringa”, seu maior competidor é, quando muito, a excelência de Adam Driver em “História de Um Casamento”.

MELHOR ATRIZ EM FILME: MUSICAL OU COMÉDIA
Ana de ArmasEntre Facas e Segredos
AwkwafinaThe Farewell
Cate BlanchettCadê Você, Bernadette?
Beanie FeldsteinFora de Série
Emma ThompsonLate Night

MELHOR ATOR EM FILME: MUSICAL OU COMÉDIA
Daniel CraigEntre Facas e Segredos
Roman Griffin DavisJojo Rabbit
Leonardo DiCaprioEra Uma Vez… Em Hollywood
Taron EgertonRocketman
Eddie MurphyMeu Nome É Dolemite

O grande problema na categoria das atrizes em comédia ou musical é a completa ausência de um nome que tenha se destacado nas bolsas de apostas até então: Emma Thompson e Cate Blanchett levam vantagem pela consagração da carreira pregressa, mas as jovens Ana de Armas e Awkwafina chegam apresentando trabalhos surpreendentes em obras que prontamente conquistaram a crítica.
Com os atores, meu gosto pessoal me leva a torcer pela performance brilhante de DiCaprio, embora os críticos tenham se rendido ao talento de Eddie Murphy que, de tempos em tempos, encontra um filme capaz de evidenciar o grande ator que é (como ocorreu em meados de 2006 com “Dreamgirls”).
De resto, é muito bom ver o reconhecimento prestado ao grande ator que Daniel Craig consegue ser quando sai de sua zona de conforto; à sensibilidade precoce do pequeno e notável Roman Griffin Davis (lembrando ser ele uma das poucas menções ao grande trabalho de Taika Waititi, “Jojo Rabbit”); e ao desempenho louvável de Taron Egerton como Elton John –cujos planos de repetir a trilha vitoriosa de Rami Malek no ano passado esbarraram na concorrência bem mais pesada deste ano!

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Kathy BatesO Caso Richard Jewell
Annette BeningO Relatório
Laura DernHistória de Um Casamento
Jennifer LopezAs Golpistas
Margot RobbieO Escândalo

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tom HanksUm Lindo Dia na Vizinhança
Anthony HopkinsDois Papas
Al PacinoO Irlandês
Joe Pesci, O Irlandês
Brad PittEra Uma Vez… Em Hollywood

Por mais que a presença de Brad Pitt entre os indicados a Melhor Coadjuvante me encha de felicidade, é preciso admitir que Al Pacino e Joe Pesci, por “O Irlandês”, formam uma dobradinha difícil de ser superada –com a possível predileção dos votantes para o segundo.
A categoria de atrizes coadjuvantes foi uma oportunidade para o Globo de Ouro incluir grandes trabalhos esquecidos nas categorias principais, como “As Golpistas”, filme-sensação no Festival de Toronto, cuja indicação para Jennifer Lopez causou estranhamento por não ser entre as atrizes principais –é exatamente esse detalhe que pode fazer dela a favorita da categoria.
Contudo, as esplêndidas presenças de Margot Robbie e de Laura Dern não devem ser subestimadas.

MELHOR ROTEIRO
História de Um Casamento
Parasita
Dois Papas
Era Uma Vez… Em Hollywood
O Irlandês

MELHOR ANIMAÇÃO
Frozen II
Como Treinar Seu Dragão 3
O Elo Perdido

Causou surpresa a ausência de “Entre Facas e Segredos” entre os indicados à Melhor Roteiro –justamente esse que era apontado como um dos quesitos mais fascinantes do filme de Rian Johnson –o que deve deixar a disputa mais equilibrada, visto que todos são obras magistrais que primam pela mágica de uma história bem contada.
Por incrível que possa parecer, é aqui que “O Irlandês” ostenta menos favoritismo (mas, ele pode levar conforme sua premiação seja indulgente demais), deixando margem para praticamente todos os concorrentes: A sensibilidade singular de “História de Um Casamento”; a energia cinematográfica incomum de “Parasita”; o refinamento inquestionável de “Era Uma Vez... Em Hollywood”; e a primazia dramática de “Dois Papas”.
Entre as animações a briga certamente será de cachorro grande com as sequências de duas das mais bem-sucedidas animações de todos os tempos (“Frozen” e “Toy Story”) disputando diretamente.

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Beautiful Ghosts”Cats
“I’m Gonna Love Me Again”Rocketman
“Into the Unknown”Frozen II
“Spirit”O Rei Leão
“Stand Up”Harriet

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
The Farewell
Os Miseráveis
Dor & Glória
Parasita
Retrato de Uma Jovem em Chamas

Dificilmente o prêmio de filme estrangeiro será tirado das mãos mais do que merecedoras dos realizadores de “Parasita” –e essa premiação deve ser uma compensação pelas demais indicações que permanecerão sendo indicações (embora surpresas desagradáveis dessa natureza sejam até um hábito do Globo de Ouro).
Entre as canções, apesar das prováveis esperanças de alguns fãs que “Rocketman” ou mesmo o incompreendido “Cats” levem alguma coisa, a nova canção clássica de “Frozen II” deve prevalecer; não acredito que a música inédita de Beyoncée para “O Rei Leão” tenha grandes chances.

Estes são, pois, os indicados (lembrando que só falei dos prêmios referentes à cinema), a entrega dos Golden Globes será dia 5 de Janeiro de 2020.