terça-feira, 2 de março de 2021

Aracnofobia


 Estréia na direção do então produtor Frank Marshall, “Aracnofobia” é um filme muito querido para mim pelo fato de ter sido o primeiro filme que aluguei em VHS –o marco zero de minha fase cinéfila como cliente de videolocadoras!

Exceto por isso, talvez, hajam poucas justificativas para que ele tenha sobrevivido com mais dignidade ao teste do tempo: Ao longo dos anos, “Aracnofobia” –que, diga-se, traz produção executiva de Steven Spielberg –se tornou um típico exemplar da ‘sessão da tarde’, com seus lances aventurescos de orientação genérica se sobrepondo à interessante proposta inicial em referenciar “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock.

Em algum lugar das matas sulamericanas, uma equipe –liderada pelo Dr. Atherton, personagem do eclético Julian Sands –descobre uma espécie de aranha descomunal, dotada de veneno poderoso e instantâneo. Uma dessas aranhas morde o fotógrafo norte-americano da equipe e, pegando carona dentro de seu esquife, vai parar na cidadezinha de Canaima, mesmo lugar para onde se muda o médico, Dr.Jenkins (Jeff Daniels), protagonista do filme e portador da anomalia do título.

A aranha em questão acasala com um aranha marrom local e uma proliferação de pequenos filhotes dotados do veneno fulminante da ‘superaranha’ infesta a cidade, fazendo vítimas entre os cidadãos.

Como a aparição das aranhas coincide com a chegada ao lugar do Dr. Jenkins e sua família, os supersticiosos e implicantes moradores locais passam a crer que ele tenha, de alguma forma, causado aquelas mortes, até então sem explicação.

Procurar em “Aracnofobia” o mesmo viés de requinte e alegoria que pulsa brilhantemente da obra de Alfred Hitchcock seria em vão –ainda que o filme de Marshall lhe faça alusão constante –há, de fato, incessantes cenas de ataques e quase ataques das aranhas, remetendo ao chamado ‘terror de montanha russa’ tão comum à filmografia de Spielberg.

É seu estilo, por sinal, que se identifica no trabalho irregular do diretor Marshall, quando por exemplo, as aranhas são muitas vezes empregadas como personagens em cenas individuais que fazem graça ao mesmo tempo que fazem certo suspense. Nesse sentido, se há um representante do humor no filme, esse alguém é o personagem de John Goodman, um alívio cômico tão assumido que chega a ser maniqueísta, aspecto tolerável graças à desenvoltura natural de Goodman como ator.

“Aracnofobia” até se ampara em expedientes científicos e artísticos de ponta, mas termina mesmo se restringindo à uma aventura mirabolante com doses de humor e de exageros –a aranha antagonista tem seu gigantismo sempre enfatizado –que procuram integrar seu passatempo. No caso desta estréia de Marshall como diretor, a despretensão prejudicou o resultado final: Tão modestas e tímidas são as intenções do longa que ele realmente pouco faz mais que divertir e entreter –a fórmula que Spielberg aprimorou ao longo de sua carreira é seguida com fidelidade e esmero, porém destituída de um elemento crucial: Personalidade.

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