Filme que revelou o diretor Jason Reitman, de “Juno” e “Amor Sem Escalas”, e filho do também diretor Ivan Reitman, “Obrigado Por Fumar” deixa em bastante evidência o talento de seu jovem realizador e sua predisposição em trilhar caminhos nada usuais da narrativa, optando por exemplo, pela improvável escolha da loquacidade em detrimento da ação física, algo que, pelo bons resultados obtidos, já faz dele um cineasta mais talentoso que o pai.
O audaz roteiro de “Obrigado Por Fumar”
contrapõe a habilidade verbal de seu protagonista a situações inicialmente
ingratas e incontornáveis.
Prova disso é já sua cena inicial: Nick Naylor
(o ótimo Aaron Eckhart no papel que habilitou-o para interpretar o Duas-Caras
em “Batman-Cavaleiro das Trevas”) é um lobista. Sua função é tornar
comercialmente viável um produto controverso, no caso, o cigarro, alvo de
constantes campanhas contra o câncer de pulmão e outros males. Quando o filme
começa, o vemos numa programa de auditório, confrontado por membros de
organizações contrárias ao tabagismo e –pasmem! –junto de um garoto com câncer
no pulmão (!).
Contra as probabilidades mais pessimistas,
Naylor escapa dessa e de outras arapucas mais; sua lábia é, portanto, o fator
que o torna inestimável em seu ofício, mesmo em face de um chefe invejoso e
recalcado (J.K. Simmons), e de um senador (William H. Macy) dedicado a sabotar
a indústria de tabaco norte-americana condenando seus malefícios em cadeia
nacional.
Como rege aos conceitos de um arco narrativo
que se preze existe, na trajetória de Naylor, elementos que desfraldarão seu
lado humano –sobretudo, a relação com o filho (Cameron Bright, de “Reencarnação”),
único indivíduo que alcança seu afeto; e o flerte esperançoso e tórrido com uma
jovem e bela repórter (Katie Holmes, de "Batman Begins") –e, por meio deles, o diretor Reitman
vislumbra também a derrocada de todas as suas certezas e convicções: O súbito
esvaziar dos argumentos quando ele é colocado numa situação delicada, o que
acarreta o desaparecimento dos cínicos que lhe davam tapinhas nas costas
fingindo amizade.
Diante de sua queda, resta a Naylor somente os
amigos verdadeiros e os laços genuínos que construiu, entre os quais, os amigos
de mesa de bar –cujas cenas surgem quase como interseções na narrativa –interpretados
por Maria Belo, de “Marcas da Violência” (ela uma lobista da indústria de
bebidas alcoólicas), e por David Koechner, de “O Âncora-A Lenda de Ron Burgundy”
(ele, lobista da indústria de armas de fogo).
Não há, no entanto, nesse arco assim esboçado,
apesar das aparências, a intenção de se converter esses percalços em drama:
Reitman é hábil no manuseio dos expedientes de comédia e ressalta, ao longo
dessa espécie de via-crusis, o raciocínio ferino e rápido de seu protagonista,
refletindo na narrativa sua propensão em enxergar pelo prisma da ironia e não
da comiseração os revezes que sobre ele se abatem.
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