quinta-feira, 4 de março de 2021

Rock Estrela


 Sucedendo “Bete Balanço” como o segundo filme da trilogia do rock brasileiro concebida pelo diretor Lael Rodrigues em meados de 1985, este “Rock Estrela” resulta numa ligeira queda de qualidade em relação ao material mais acertado e harmonioso do anterior: Para se ter uma ideia, em meio a um elenco que supostamente teria boas e carismáticas participações de atores jovens e profissionais (“Bete Balanço” tinha a maravilhosa Débora Bloch!) quem acaba se destacando é a esportista Vera Mossa em uma ponta, ela que nem atriz era (!), mas sim uma das jogadoras de vôlei da seleção de então e, devido à beleza, musa do público.

Lael Rodrigues resgatou do elenco anterior o ator Diogo Vilela que aqui assume o protagonismo como Roque, rapaz vindo de Bueno Aires, para morar no Rio de Janeiro com seu primo, adepto de rock’n roll, enquanto nutre o sonho de estudar música clássica. Há um triângulo amoroso lá pelas tantas –que inclui o protagonista e as beldades vividas por Vera Mossa e Malu Mader –todo ele imerso numa narrativa que evoca musicais de Hollywood bem como a moda emergente dos videoclipes –não fazia muito tempo que “Thriller”, de Michael Jackson, havia tomado de assalto o mundo da publicidade.

Se existem méritos no trabalho de Lael Rodrigues para além da tentativa de dar continuidade à sua obra jovem e musical, é a tentativa de colocar em evidência o rock nacional e argentino daqueles anos 1980, através de participações, nem sempre bem ajambradas pelo roteiro, de bandas como Fito Páez, Tokyo (com Supla!), RPM e Metrô.

Nessa construção narrativa carregada de estilo, descontração e influências diversas, os atores e seus personagens surgem quase intrusos ocasionais das cenas; além do trio principal composto por Vilela Mader e Mossa, também Andrea Beltrão, Guilherme Karan, e Andre De Biase flutuam no non-sense de suas caracterizações e na leveza idiossincrática de sua geração assim retratada.

Rodrigues perdura a mensagem de juventude e alto-astral de “Bete Balanço” com um filme irmanado em sua proposta ingênua e pueril, mas transgressor na loucura que, deliberadamente ou não, o contamina.

Esse espírito está curiosamente refletido na canção “Solange”, de Leo Jaime, pegajosa, estranha, lisérgica até, a oferecer uma questionável versão de “So Lonely”, do The Police.

Um filme agridoce, recomendado quase que exclusivamente aos saudosistas de uma época muito diferente da atual.

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