sábado, 23 de abril de 2016

O Resgate do Soldado Ryan

Existem alguns filmes que já nascem clássicos. Ao assistí-los, somos invadidos por aquela rara sensação de que, por mais recentes que sejam, estamos vendo uma obra destinada a ser um clássico moderno, um filme do qual gerações iram falar e comentar nos anos vindouros.
Poucas foram as vezes em que tive essas sensação, mas um delas ocorreu em 1999, quando vi pela primeira vez “O Resgate do Soldado Ryan”, e fiquei assombrado já em sua meia hora inicial, quando testemunhamos a cena da invasão das praias da Normandia pelos aliados, e somos arremessados num caos assombroso de destruição e morte.
É uma cena que Spielberg atreveu-se a filmar com inéditos realismo e transgressão, valendo-se de uma linguagem documental e de uma montagem nunca menos que primorosa. A forma como ele escolheu registrar este filme poderoso tornou-se moda em todos os filmes subseqüentes que tratavam de cenas de conflito, ainda que em 1986, um filme desconhecido, o bielo-russo “Vá e Veja” já trouxesse muitos dos artifícios muito bem empregados por Spielberg.
Contudo, o filme que se segue àqueles trinta primeiros minutos acachapantes não é menos que magnífico: Sobreviventes daquele mesmo episódio, um grupo de soldados liderados pelo capitão Miller (Tom Hanks em uma de suas mais sensacionais interpretações) acaba por receber a mais incomum das missões; em uma guerra onde todos morrem aos borbotões, eles são incumbidos de encontrar e trazer de volta para casa um único soldado, James Francis Ryan, o mais novo de cinco irmãos, todos falecidos em combate.
Como no também primordial “A Lista de Schindler” salvar uma única vida, como os soldados iram descobrir, vale todo o esforço do mundo.
Um passo definitivo na direção do cineasta sério e respeitado que Spielberg veio a se tornar, “Soldado Ryan” é repleto de considerações e momentos magníficos, onde percebemos a diferença que faz um grande diretor: Sua maturidade surge em diversas situações, como na do soldado covarde que deixa um alemão matar seus inimigos ou na comovente revelação de quem o ancião do início do filme realmente é, e os motivos que o levaram até aquele cemitério. Spielberg parece por vezes se conter em sua tentativa de manipular as emoções do espectador; sua abordagem intenciona ser o de um documentarista, tanto que demoramos a perceber o quanto é bela e funcional a trilha sonora de John Willians.

Tal qual outros primorosos filmes que vieram depois, como “Munique”, Lincoln” ou “Ponte dos Espiões”, o diretor, famoso por fantasias como “E.T.”, parece abordar a História como forma de lembrar que a maldade que deflagrou acontecimentos atrozes no mundo é um lembrete, para que eles nunca se repitam.

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